1. ⠀sou a cara do meu pai

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DOYOON pov

Existe uma grande diferença entre o lugar em que você cresce e o lugar em que se finda sua vontade de fugir.

Eu li essa frase em algum lugar, uma vez, mas nem fudendo que vou lembrar onde.

Não agora. Não com os barulhos do meu pai quebrando todos os móveis que vê pela frente numa tentativa falha de descontar sua raiva, em mais uma de suas crises depois de encher a cara de bebida.

Raiva, um dos piores e mais destrutivos sentimentos que alguém pode sentir.

Bebida, a mais fácil e mais covarde das formas de fuga. Quando a vida se torna pesada demais é pra ela que as pessoas recorrem. Mas não se enganem, ela não diminui o peso dos seus problemas, apenas te da coragem pra jogá-lo em cima qualquer outra pessoa.

E nesse momento e nos últimos dezessete anos, minha mãe e eu temos sido a válvula de escape do meu pai. As pessoas para descontar todo o ódio que ele sente de seja lá o que. Tanto faz o que. Eu não me importo. Só quero que ele morra. Cada átomo do meu corpo parece implorar por isso. Merda. Tá acontecendo de novo.

O chão frio por baixo dos meus pés fazem um contraste perfeito em minha pele quente, ele é realmente a única coisa que me mantém preso a realidade nesse momento, impedindo minha mente de vagar em pensamentos intrusivos e eu acabar surtando, de novo.

A cada passo que dou os barulhos de garrafas sendo quebradas, móveis sendo chutados e meu pai gruindo de raiva vão se intensificando, tal como o bolo que se forma em minha garganta, tornando o ar cada vez mais difícil de chegar em meus pulmões.

Fecho o portão atrás de mim e, em poucos passos, já estou parado de pé em frente a porta aberta que dá pra sala. O meu pai me olha, eu posso ver.. posso ver o fogo em seus olhos. Não, pior, posso ver o inferno inteiro ali dentro.

Ele joga com tudo a garrafa que estava segurando, no chão, vindo em minha direção em passos rápidos, violentos e carregados de raiva.

Tudo que ele faz é carregado de raiva.

E ele é meu pai.

Não importa o quanto eu fuja, ele sempre será meu pai. E sempre estará aqui pra me lembrar disso.

Ele faz questão de me lembrar. Com palavras? Não. Com violência.

E é claro que hoje não seria diferente.

Depois disso, tudo que consigo me lembrar é da dor incessante que sinto em cada parte do meu corpo. E dos flashs, dos pés dele andando de um lado para o outro, buscando mais e mais coisas para jogar e quebrar em mim.

Eu odeio o meu pai.

E eu me odeio também, por ter me tornado igual a ele.

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Primeiro dia de aula, o famoso clichê. E que clichê de merda viu.

Tô todo quebrado mas ainda assim sou obrigado a vim pra essa merda que chamam de escola.

Não são nem sete da manhã e o sol já está alto, o que me deixa com um ar de esquisito com esse moletom cinza enorme. Mas o que caralhos eu posso fazer? Mostrar pra todo mundo meus hematomas e machucados? Nah. Prefiro morrer do que ver eles me olhando com pena.

Na real, eu prefiro morrer do que fazer qualquer coisa. Desde que eu morra, tá ótimo.

Tô brincando. Haha.

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