primeira fogueira

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NICO'S POV

Eu e a minha irmã éramos muitos diferentes, em muitos aspectos, mas tinha uma coisa que concordávamos plenamente: se arrumar para os eventos é sempre melhor do que ir pro evento em si. Nesse caso, o "evento" era apenas a fogueira dos monitores e veteranos do Acampamento Meio-Sangue, mas Hazel e eu amávamos nosso momento de irmãos ao ajudar um ao outro escolher a roupa, quando eu fazia algum penteado nela, quando ela tirava minhas fotos, e claro, a melhor parte: ir pro twitter biscoitar e ficar tietando nossos amigos. Isso também era muito legal, mas infelizmente sempre nos atrasava porque já tinha mais de 15 minutos que estávamos deitados nem nossas camas no chalé 13 mexendo no celular esperando dar o horário de ir para a fogueira. Bom, o horário chegou.
- Hazel, porra, estamos atrasados! - Grito pra minha irmã quando percebo que perdemos a hora outra vez e ela se sobressalta na cama, assustada.
- Puta merda Nico! Adianta, o pessoal já deve tá lá! - Ela pega a bolsa pequena que eu escolhi para compor seu look e saímos em disparada pela trilha dos chalés em direção a área aberta onde as fogueiras aconteciam. - Se eu ficar com um lugar ruim que pegue fumaça no meu cabelo, você vai comprar cremes muito caros pra cuidar dele depois!
- Ah sim, porque a culpa foi só minha né, cabeça de vento. - Empurra o ombro de minha irmã mais nova e ela rola os olhos, quando estamos perto da clareira.
- Bom, você é o irmão mais velho por um motivo. A maior parte da culpa tem que ir pra você! - Hazel constata como se fosse óbvio, dando de ombros e eu olho pra ela meio indignado e chocado demais pra responder, então ela para bruscamente antes de entrarmos na área verde. - Espera. Ali eles! Oi! - Minha irmã enxerga nosso grupo de amigos muito mais rápido do que eu e grita na direção deles, que acenam pra nós enquanto caminhamos até lá.
Uma coisa é certa, Hazel sempre teve mais jeito em enxergar as coisas. Até por ser mais tímida, ela sempre preferiu observar primeiro e se aproximar depois, então para ela confiar no pessoal foi um processo. Mas eu ficava feliz que tenha dado certo. Eu amo a minha irmã, independente de qualquer coisa, e ter ela próximo de mim aquece meu coração, até porque, não sei por quanto tempo terei isso.
- Oi gente! Já pegaram os marshmallows? - Pergunto assim que nos aproximamos e eles apontam para um prato cheio de espetinhos dos doces ainda brancos, sem assar e eu pego um pra dar uma mordida.
- Nico! Estamos esperando a cantoria, depois vamos assar os marshmallows. - Reyna me repreende, dando um tapa na minha mão e me obrigando a colocar o espeto de volta no lugar. Reviro os olhos mas me sento ao seu lado e apoio um braço na sua coxa. Ela mexe um pouco no meu cabelo e sei que era sua forma sútil de pedir desculpas pelo tapa, mesmo que não tenha sido tão forte nem me incomodado. Apesar de não parecer, Reyna era a mais viciada em toque físico de todos nós, e não era muito fã de palavras de afirmação, então essa era sua forma de demonstrar o que sentia, na maioria das vezes. Ela não falava, ela fazia.
- Ótimo, cantoria. Quem vai iniciar a sessão de tortura da noite? - Pergunto, já imaginando que fosse ser algum veterano desengonçado, mas Percy, meu melhor amigo, se levanta do nosso grupo com seu violão azul na mão, sorrindo de lado.
- Hoje não tem tortura, Nico. Só profissionais na área, pode confiar. - Com uma piscadinha convencida em nossa duração, Percy se afasta, com o instrumento pendurado no ombro e vai em direção ao outro lado da fogueira, onde sua namorada, Annabeth e o grupo de amigos dela se encontra.
Percy a beija, antes de chamar alguém do grupo com a mão e ir em direção para mais perto da fogueira, onde os banquinhos dos músicos ficavam, graças a boa acústica. Infelizmente, a pessoa que ele chamou era realmente um profissional. Infelizmente, essa mesma pessoa era Will Solace.
Antes que eu possa me levantar pra não ver essa cena que com certeza vai me embrulhar o estômago, Jason segura meu ombro, me impedindo de levantar e me olhando feio no processo.
- Nada disso. O Percy vai tocar também e ele ama que a gente veja ele tocar. Hoje não tem desculpa pra fugir, mesmo que seja o Will tocando também. - Meu primo tinha tanta razão quanto o céu era azul, então reviro os olhos e me sento, a contragosto. Mas percebo que o olhar de Jason está focado no outro lado da campina, no grupo de Will. Mas quem teria chamado tanto a atenção dele a ponto de...?
Só então percebo que o grupo deles aumentou desde hoje de manhã, quando nos encontramos na entrada. Não sei em que momento da noite isso aconteceu, (provavelmente quando eu e Hazel estávamos fofocando no twitter) mas Piper Mclean e Leo Valdez chegaram no acampamento, mais dois veteranos que definitivamente vieram de surpresa, pela cara de deleite dos amigos e o fato de não estarem aqui mais cedo. Isso explica os tweets.
- Jason, fecha a boca, tá escorrendo baba. - Frank brinca batendo no queixo de Jason que realmente estava a pouco de cair no chão e eu rio. Meu primo estava encantado por Piper, e isso já devia ter uns dois verões. Eu também soube que ela não tirava os olhos dele, e isso pra mim era suspeito, mas eu não seria a pessoa que falaria algo né. Jason precisava tomar coragem, da mesma forma que Reyna.
- Tá apaixonado, Frank, deixa ele. - Reyna abusa, empurrando o ombro de Jason e rindo, mas seu olhar também está na direção do outro grupo, mais especificamente em Thalia, a irmã gêmea não idêntica de Jason. Elas flertavam já tinha um tempo, mas nunca tiveram iniciativa para fazer nada. Me contenho da vontade de chamar minha amiga de hipocrita, e apenas sorrio de lado, pensando nas ironias na vida e no quanto isso era engraçado.
Hazel abre a boca pra fazer algum comentário definitivamente sarcástico, mas uma voz alta vinda de um microfone sem fio a interrompe e faz com que a clareira fique em silencio, que mesmo com apenas 20 monitores e alguns veteranos, tinha barulho.
- Opa! Boa noite gente! Bom, não sei pra que esse microfone já que nosso público hoje é bem menor, mas o Quíron insistiu então... - Quem está falando é Rachel Dare, uma ruiva responsável pela manutenção das cavernas de pintura do Oráculo de Delfos. Era um nome criativo, que combinava com nossa estética mitologia grega. E ela era muito simpática, o que fazia com que o nome das cavernas de pintura não fosse um incômodo. - Acho que vocês conseguem escutar minha voz sem isso né? - Ela afasta o microfone e é como se a voz dela ainda estivesse nas caixas de som de tão alta que é.
- COMO SE NÃO DESSE! - Algum campista grita, provavelmente Paulo, e todos riem, pois a voz de Rachel não é tão baixa quanto sua estatura. Pelo contrário, ela tem uma voz potente, tipo de locutora de rádio, e fala naturalmente alto. Era por isso que cantava tão bem e sempre abria a parte da cantoria nas noites de fogueira. Ela tinha o dom.
- Engraçadinho. Ótimo, vamos lá. - Ela bate as mãos e se senta num banquinho entre Will e Percy, onde ambos seguravam violões. O de Percy era azul com detalhes verdes, como praticamente tudo dele. O de Will era de um tom irritante de amarelo, com desenhos de Sol em branco e um tom pastel de roxo, com alguma coisa escrita que pela distância não dava pra identificar. O violão me irritava tanto quanto o dono. Ambos amarelos e chamativos. O cúmulo. - Pessoal, não fiquem acanhados! Vamos, se aproximem! Essa fogueira é especial, vocês sabem. - Rachel convida e praticamente todo mundo se levanta, arrastando banquinhos, toalhas de piquenique e mesas para mais perto da fogueira Rachel era uma força da natureza mesmo, ninguém escapava dela por muito tempo.
- Bom, eu acho que podemos começar com Legião Urbana... - Will sugere e a maioria dos campistas revira os olhos, negando. Eu particularmente amo Legião Urbana e todas as letras que o Renato Russo escreveu antes de morrer, mas nunca jamais iria abrir minha boca pra apoiar algo que esse cara fala. Nem pela minha banda favorita.
- Will, você não tá sentindo? - Percy pergunta e pede silêncio com a mão a pequena plateia ao seu redor. - Está nas árvores, na brisa. Essa é a primeira noite de verão, amigo. Isso é mágico.
- Percy, você tem toda razão. E isso me lembra uma música! - Rachel concorda e se aproxima do ouvido dos colegas músicos, cochichando algo. Eles assentem e se posicionam para começar a tocar, quando a voz de Rachel ecoa pela clareira e eu sinto um arreio percorrer meu corpo, apesar de estar de casaco e próximo de uma fogueira.
É a música que ela escolheu. De fato, o Acampamento Meio-Sangue era mágico. Quase irreal existir um lugar tão perfeito assim. E é na voz de Rachel Elizabeth Dare e pelas palavras de Olívia Rodrigo que sinto o peso disso tudo pela primeira vez desde que cheguei. Último verão mesmo.

last summer - solangeloOnde histórias criam vida. Descubra agora