Capítulo 13

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Graziele havia estacionado o carro em frente à casa do irmão, do outro lado da rua. O sol estava escaldante, resultando em uma rua deserta com quase ninguém presente. Uma mulher na faixa dos seus cinquentas anos caminhava pela calçada, e ao passar pela cena do crime, diminuiu os passos, olhando para a casa de maneira curiosa. Além dela, pombos vagavam pela área, alguns na pista, outros em cima do calçadão, bicavam o chão cheio de milho espalhado que alguém jogara para eles.

— Não precisa fazer isso se não quiser — falou Álvaro para Lucas, colocando uma mão na coxa dele. — Sua irmã pode nos levar embora para o hotel se quiser...

— Não! — Lucas olhou para Álvaro, colocando a palma de sua mão em cima da de Álvaro. — Preciso fazer isso. Quanto mais esperar, mais difícil irá ficar.

Ambos se olharam por um breve momento, e Lucas teve de admitir, com Álvaro ali com ele, teve mais forças para entrar no ambiente cheio de carga energética ruim, sombria e cheia de dor. No começo, odiou sua companhia, o odiou por tudo o que ele trazia: lembranças dolorosas. Mas o homem continuou com Lucas, apoiando-o a todo momento, e por fim, lá estava o policial, desejando que o ex-namorado e a irmã entrassem junto com ele.

Lucas abriu a porta do carro, ao sair viu a mesma mulher que passara em frente a sua casa, entrando na bodega do seu zé. E um pouco distante havia a padaria do Bruno, onde as vezes, comprava para ele e Vitoria um croissant de frango para cada. Lembre-se de trazer o meu quente, ela costumava dizer. Os dois comiam juntos na cozinha e conversavam sobre as chateações que tinham nos empregos.

Quando ele abriu o portão, Graziela e Álvaro entraram primeiro do que ele. Ele ficou imóvel, cessando qualquer ideia que tinha de superar seus medos, foi como se algo o mantivesse preso no lugar, que segurasse seus ombros, perdendo-o. Mas ele sabia o que estava-o mantendo estático, era as gotas de sangue que via da cozinha para o quarto, quarto esse que não tinha porta.

Ele deu o primeiro passo, entrou na sala. Viu o lugar onde tinha o sofá e os jarros, e a televisão, e as lembranças dolorosas. Sua casa não era grande, no final da sala no lado direito havia a entrada da cozinha e no fim, a entrada do seu quarto, e ao lado, o quarto de hóspedes. Lucas caminhou em direção ao local onde o corpo foi achado, passando por Álvaro e Graziela que olhavam para ele com pena.

Dentro do seu quarto, viu a poça de sangue seco no chão. Isso não é nada bom, ele pensou. Sabia que aquilo levaria um bom tempo para sair, teria de usar alguns produtos de limpeza, mas não tinha muitas forças no momento para ficar esfregando o chão. E não queria pedir para que Álvaro ou Graziele fizessem isso.

— A cozinha não tem portas dos fundos, acha que ficará bem? — avisou Graziele.

— Os muros têm cacos de vidro, quem decidir invadir vai ser muito louco. — Lucas caminhou para a gaveta de roupa dela, e abriu uma, depois a outra e mais outra. — Está tudo aqui, as roupas. As roupas delas estão todas aqui. — Ele olhou para Graziela que se juntara a ele. — Pode levar tudo para os pais dela? Acho não irão querer me ver depois do que aconteceu hoje.

Graziele colocou uma mão no ombro dele.

— Sim, pode deixar. — Graziele podia sentir o desespero do irmão, queria ficar com ele. Mas não podia dormir ali, se continuasse faltando seu emprego, seria demitida. — Álvaro pode ficar com você daqui em diante?

Lucas olhou para ela por sobre o ombro.

— Não vejo motivo para recusar. — Ele voltou a olhar as gavetas, em seguida, num espasmo raivoso, começou a fechar todas. — Álvaro poderá ficar no quarto de hóspedes.

Lucas sentou-se no sofá, e lá ficou até o anoitecer, hora sentado, hora deitado. E enquanto o tempo passou, ele viu Graziela saindo do quarto com sacolas e indo até ao carro algumas vezes. Além dela, viu Álvaro com um esfregão e produtos de limpeza entrando no quarto e saindo de lá muito tempo depois. Ele deveria agradecê-los pelo que estavam fazendo, mas não fez isso.

O Sétimo Filho ( Romance Gay - Lobisomem)Onde histórias criam vida. Descubra agora