Capítulo 9

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Já estava perto da meia-noite, e a delegada Cristina continuava na sua sala, mexendo em alguns arquivos de casos similares de Vitoria, tentando descobrir se algo havia sentido. Contudo, os ataques de animais normalmente eram no interior, envolvendo cobras, abelhas ou aranhas. Nada envolvia algo que tivesse pelos ou presas, pelo menos não que causasse aquele estrago. Poderia ter sido um cachorro muito grande, talvez?

Ela percorria os arquivos que encontrava com o olhar investigativo, tentando encontrar algo. A maioria dos policiais estava terminando os turnos, outros ainda chegariam, por isso a delegacia tinha poucas pessoas. E era também por isso que tinha de aguentar o único prisioneiro no corredor de celas gritando sem parar. Me deixa ir embora, não estava com droga nenhuma, colocaram no meu bolso de trás, foi aquele policial, o veadinho! Falava o homem, sem parar. Ele tinha bastante fôlego e estava disposto a perturbar o juízo da delegada até que ela fosse embora.

Ficou mais encucada com aquela presa, mesmo que possivelmente fosse de um lobo, e certificou-se de ver na internet, se algum animal possuía algo daquele tamanho. Ela recostou-se na sua cadeira giratória, virando-se para a parede ao não ter resultado e tentando imaginar qual animal, em todo o ceara, tinha presas tão grandes e poderosas?

Na outra pista, que envolvia a última ligação de Vitoria com Diego, havia claros sons de rosnados de algum animal. E o fato dela ter dito que não era Lucas complicava tudo, ela afirmou, não havia dúvidas, o tom confirmava isso.

Além de tudo, havia o envolvimento de Diego. Um de seus policiais estava tendo um caso com a vítima, que por um maldito acaso do destino, era mulher de um outro policial da delegacia. O cara estava envolvido até o pescoço, por isso teve de retirá-lo. Não tinham certeza de que Lucas tinha algo a ver, e por enquanto, nada podia ser feito.

Não adianta seus desgraçados, sairei daqui mais cedo ou mais tarde. E vou me certificar de foder com os policiais daqui, o desgraçado detido gritou mais uma vez. Cristina fechou os olhos, tentando se concentrar nos seus pensamentos, em alguma opção que a fizesse seguir em frente com o caso. Estava perto da meia-noite, faltava pouco para completar sete dias.

Provavelmente se ligasse para Bernado Santiago ele diria que precisava de mais tempo, ainda sim, decidiu ligar.

Cristina levantou-se da cadeira e saiu da sua sala, entrou na área em que havia várias outras mesinhas pessoais dos próprios policiais. Além é claro, da secretária Dolores, que naquela noite, estava fazendo hora extra. Ela continuou andando até a cela do homem que não parava de gritar, parecia um pirralho pirracento.

Necessitava de silêncio para falar com o laboratório, para ouvir com atenção o que lhe diriam.

— Ei, seu desgraçado! Cale a maldita boca — gritou Cristina. — Preciso de silêncio, e você não está cooperando.

Encostado casualmente no batente da porta de sua cela, Carlos Viera parecia sentir-se em casa naquela cela tão imaculada. Ele personificava a imagem quintessencial de um "filhinho do papai" privilegiado, com sua pele branca azeda, cabelos loiros e aparência impecavelmente engomada. Cristina estava bem ciente de que indivíduos como Carlos muitas vezes eram libertados antecipadamente do encarceramento, independentemente da gravidade do seu crime. Uma vez que as ligações familiares tinham uma influência significativa na resolução de quaisquer complicações jurídicas.

Carlos aproximou-se das grades, agarrou duas barras de ferro e colocou sua cabeça entre elas.

— Você tá é fudida. Cê vai ver, meus contatos irão virar sua vida pelo avesso e daqui alguns dias será você atrás das grades, vadia!

Cristina revirou os olhos, aproximou-se dele com as duas mãos no sinto do seu uniforme e com uma cara de tão poucos amigos, que foi capaz de fazer Carlos recuar alguns passos das grades de ferro.

O Sétimo Filho ( Romance Gay - Lobisomem)Onde histórias criam vida. Descubra agora