Capítulo 18

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Ele continuou trabalhando na fazenda e indo na cidade de vez em quando vender o que conseguia produzir aqui. Com o dinheiro que conseguia nos manter, ele conseguiu mandar que fossem feitas algemas e correntes de prata. Eram firmes o suficiente para segurar um animal grande. Para saber se realmente funcionavam, tínhamos de testar.

Na segunda lua cheia, quando eu já sabia da sua identidade, combinamos de colocá-lo no celeiro. Afastados dos animais e amarrado num dos pilares que segurava o lugar. Prendi as correntes ali, e as algemas em seus dois braços.

'Fique em casa, tranque tudo' avisou-me Sebastião. 'Não podemos arriscar que você ou a criança sejam feridas'.

Prometi que faria isso, mas menti, até certo ponto. Realmente voltei para casa, mas quando a lua apareceu no céu e ouvi o primeiro uivo, precisei ver como estava a situação. Voltei armada com mais uma faca, e no caminho pude ver os porcos e as galinhas desesperados para saírem dali, as vacas dentro do celeiro mugiam sem parar. Quando abri as enormes portas, vi algo impressionante, o homem-lobo estava curvado no chão, olhou-me assim que cheirou o ar. Apenas ficou quieto no canto, olhando-me, as vezes desviando o olhar para as vacas...

Parecia que a prata nos seus pulsos o enfraqueciam, deixavam-no como uma pessoa indefesa. Aquilo me acalmou, a tal ponto que fechei as portas, voltei para casa e pude dormir quase que tranquilamente. Obviamente com a faca debaixo do travesseiro.

Anos se passaram e nesse meio tempo nossa relação voltou a funcionar, havíamos achado uma resolução para o nosso problema. E ele passou a comentar sempre um desejo sobre ter um menino, só para garantir que não existiria uma maldição na próxima geração da sua família.

Para nossa angústia, não foi isso que aconteceu. Livia foi a que nasceu primeiro, Natália foi a segunda e a terceira foi Fabiana. Três lindas garotinhas, fortes e saudáveis. A criação delas não era fácil para nenhum de nós dois, muitas noites mal dormidas e uma trabalheira danada.

Poderíamos ter parado nestas três? Sim. Mas naquele tempo só usávamos camisinhas algumas vezes, algo de que as vezes me arrependo, as vezes não. De qualquer forma, nesse meio tempo em que as três primeiras irmãs viviam suas vidas sem saber o segredo que seu pai escondia, nós dois, tentamos achar um jeito para que aquela fera não machucasse mais nada que fosse vivo caso escapasse do celeiro.

Dessa maneira, Sebastião juntou mais alguns trocados. Certa noite, ao voltar de outra excursão à cidade, ele me presenteou com uma arma de fogo. Ele me explicou que se tratava de uma Taurus 38, que ostentava um cano longo e capacidade de disparar seis vezes antes de precisar recarregar.

'O mais difícil não foi conseguir a arma, e sim as balas. Tive de mandar fazer balas de prata' falou ele, mexendo na arma na minha frente. Em detalhes, ele demonstrou a técnica adequada de manuseio, como colocar as balas de prata e o que fazer se elas se esgotassem, bem como mirar e puxar o gatilho. Contudo, quando chegasse a hora da pratica, não sabia se conseguiria puxar o gatilho. Devido a isso, rezei com todas as minhas forças para que nunca precisasse usá-la.

Mais anos se passaram sem que nenhum acidente acontecesse, então o único temor era se a maldição continuaria ou não. As próximas crianças a nascerem, por coincidência do destino foram meninas: Sarah, Melinda e Graziela. Foi de se imaginar que as brigas começaram a partir da aí, não se relacionávamos como antes para não ocorrer o perigo de nascer mais uma criança, e sempre que fazíamos era com camisinha. O medo deixou-nos paranoicos, Sebastião começou a ficar mais irritado, focando quase que inteiramente no seu trabalho, nos pequenos tempos livres ele procurava passar com as filhas.

Enquanto a mim? Bem, procurei cuidar da casa e de minhas filhas. Quase não conversávamos mais, nosso relacionamento, como dizem alguns jovens hoje em dia, havia esfriado. Houve uma vez, um certo momento onde transamos, e a camisinha estourou. Nosso desespero foi instantâneo, ficamos dias nesse sentimento, até que finalmente levamos um baita susto quando minha menstruação não veio.

O Sétimo Filho ( Romance Gay - Lobisomem)Onde histórias criam vida. Descubra agora