Capítulo 10

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Na manhã de domingo, o cemitério Parque da Paz estava com um velório em andamento, das sete horas até as duas da tarde. Numa pequena sala, reservada somente para tal momento, o caixão estava no meio, aberto e com o corpo de Vitoria dentro, com as mãos cruzadas sobre o peito. Na parede ao fundo havia dois enfeites enormes de flores, e no meio disso, uma cruz enorme pregada na parede.

Graziela aconselhou que seu irmão Lucas fosse num horário com menos gente, a fim de evitar quaisquer desavenças. Lucas protestou, e mesmo com Álvaro também enchendo seu ouvido de reclamações, foi cedo, para chegar as oito em ponto. E ainda sim foi acompanhado por sua irmã e seu colega de quarto, que insistiram em ir para ficarem de olho nele.

Lucas não se importava com o que estavam achando, se ele a tinha matado ou não, se queriam ele lá ou não. Achava-se no direito de estar lá por ter vivido com ela a muito tempo, e mesmo que o último momento fosse dele descobrindo uma traição, não conseguia simplesmente apagar o que viveram juntos. Tanto que insistiu para que Grazi o deixasse de carro, pois se ela não desse uma carona ele optaria por um ônibus e iria sozinho.

Dentro do veículo os três estavam devidamente vestidos, com peças de cores pretas ou escuras. Contudo, referindo-se especificamente ao policial, que na noite anterior ficara tão nervoso que não dormiu nem duas horas direito, não comeu nada como se estivesse de dejejum e com uma elegância que terminava nas roupas. Ele sentia-se fraco, mole pela falta de comida e com uma aparência apática. Seu cabelo, antes estilo militar, agora estava um pouco grande, bagunçado e sujo. Por fim, seus olhos ficavam boa parte do tempo inexpressivos, como dois buracos negros.

O clima de tristeza estava tão forte que nem Álvaro e nem Graziela ousaram tocar em qualquer assunto que envolvesse Vitoria naquele momento. Lucas permaneceu estático desde o momento que sentou seu traseiro no banco até o momento em que o carro estacionou e ele obrigatoriamente se forçou a sair do automóvel para que pudesse entrar no cemitério.

Havia algumas pessoas adentrando o cemitério também, além do que, havia mais três ou quatro carros estacionados. E Lucas reconheceu o Pugeout 208 do pai de Vitoria, então deduziu que o senhor Vitor e a senhora Samira já estavam despedindo-se da filha. Ele não sabia que tipo de informações havia chegado até eles, se suspeitavam que um animal teria feito aquela barbaridade ou se a pessoa que convivia com ela na mesma casa foi capaz de brutalizá-la.

Foram eles, obviamente, que fizeram todos os preparativos que estavam faltando. Lucas só soube da data e que o corpo havia sido liberado para ser enterrado por causa de Cristina. Vitor e Samira não mandaram nenhuma mensagem ou sequer tentaram ligar. Era direito deles, claro. Podiam ter achado que Lucas não queria saber mais da filha deles já que não moveu um dedo para ajudar no enterro. No fim, ele queria muito, mas não conseguia sair de onde estava, não tinha forças para nada, e não saber se foi ele ou não o autor de tal ato o deixava louco.

Do lado de fora da sala do velório, no saguão, havia alguns sofás dois homens fumando cigarros. Duas mulheres bem-vestidas conversavam de maneira muito feliz para uma ocasião melancólica como aquela perto da porta da sala. E na lateral da porta principal, havia alguns policiais da delegacia no recinto exclusivamente para prestar apoio, Cristina era um deles, chegando a acenar uma vez com a cabeça na direção do seu policial.

O problema mesmo começou quando Lucas, Graziele e Álvaro se aproximaram do caixão para deixar seus pêsames. Dentro da sala havia cadeiras de couro encostadas nas paredes de cada lado, estavam enfileiradas uma do lado da outra. No meio, onde encontrava-se o caixão de Vitoria, Samira chorava com um pequeno lenço para enxugar as lágrimas. Quando a mulher percebeu uma presença próxima, virou-se e cutucou o marido, um tanto... surpresa. Vitor também se virou, o semblante franzido de curiosidade. Ele usava um elegante terno preto, sua face estava vermelha de tanto esfregar os olhos, e ao ver Lucas, ele continuou estático.

O Sétimo Filho ( Romance Gay - Lobisomem)Onde histórias criam vida. Descubra agora