capítulo 1

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Yam — Jake?

Jake — Hm?

Yam — Jake?

Jake — ...

Yam — Jake, você está bem?

Jake — Sim, só estava pensando em algumas coisas.

Yam — Tudo bem. Vamos lá?

Jake — Claro, vamos.

Naquela época, eu tinha apenas 11 anos. Meus pais eram pessoas simples, mas vivíamos bem financeiramente. Sempre fui considerado diferente, ou estranho, como diziam na escola. Acho que sofria bullying, quase não tinha amigos. Minha única companhia constante era Yam, meu melhor amigo. Apesar dos comentários negativos, ele sempre esteve ao meu lado. As pessoas eram cruéis, diziam que eu era esquisito e que minha casa era assombrada. Eu já estava acostumado com esses rumores.

Um dia, na escola, ouvi duas garotas falando coisas horríveis sobre mim. Elas diziam que eu tinha uma irmã e que meus pais a haviam matado, afogando-a. Fiquei chocado e não sabia se era verdade ou não. Aquele dia foi difícil de suportar, e tudo o que eu queria era ir para casa e esquecer aquilo.

Cheguei em casa e o ambiente estava diferente. O silêncio era mais pesado e, de alguma forma, ameaçador. Minha mãe estava estranha, mais distante do que o normal. Tentei não pensar muito nisso, mas não conseguia ignorar a sensação de que algo estava muito errado.

Naquela noite, perguntei à minha mãe sobre o que tinha ouvido na escola. Ela hesitou antes de responder, o que só aumentou minhas suspeitas.

Jake — Mãe, ouvi umas coisas estranhas na escola hoje. Disseram que eu tinha uma irmã e que vocês...

Mãe — Jake, isso são só rumores. Não dê atenção a essas coisas.

Jake — Mas, mãe, por que estão dizendo isso?

Mãe — As pessoas falam muitas coisas sem saber. Não se preocupe com isso.

Apesar das palavras dela, a inquietação permaneceu. Nos dias seguintes, tentei viver normalmente, mas a sombra do que tinha ouvido me perseguia. Eu queria acreditar que tudo não passava de mentiras, mas a dúvida era constante.

Meu pai sempre foi um homem reservado, trabalhando longas horas e muitas vezes ausente. Lembro-me de que ele costumava se trancar no escritório, dizendo que precisava de paz para trabalhar. Mas havia algo mais acontecendo, uma tensão que eu não compreendia totalmente.

Certa noite, ouvi meus pais discutindo. A voz de meu pai estava mais alta do que o normal, algo sobre dívidas e problemas que ele não conseguia resolver. Minha mãe chorava, tentando acalmá-lo. Eu me escondi no corredor, ouvindo tudo sem ser visto. Aquela foi a última vez que ouvi a voz de meu pai.

Na manhã seguinte, acordei com um silêncio ensurdecedor. Fui até o escritório dele e encontrei minha mãe lá, de pé, pálida e trêmula. Meu pai estava caído no chão, um frasco de remédios vazio ao lado dele. Ele havia tirado a própria vida.

O choque foi imenso. Não consegui entender o porquê, mas a explicação oficial era que ele não suportou a pressão das dívidas e dos problemas que enfrentava. Minha mãe tentou me proteger, dizendo que ele estava em paz agora, mas eu já não sabia em quem confiar.

Depois disso, minha mãe e eu nos mudamos para a casa da minha tia. Elas eram boas pessoas, mas sempre havia algo sombrio rondando minha mente em relação a elas. Desejava que tudo aquilo terminasse, que as dúvidas e a dor cessassem, mas essa esperança parecia cada vez mais distante...

Com o passar do tempo, percebi que o medo e a insegurança moldavam minha vida. Na solidão da noite, as lembranças daquele dia se misturavam com pesadelos. As duas garotas que espalharam o rumor sobre minha irmã apareciam como fantasmas, rindo e sussurrando segredos que eu não conseguia entender. Eu queria desesperadamente que aquele dia acabasse, mas sabia que isso estava longe de acontecer.

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