Capítulo Único
O Furor da TempestadeA chuva rugia lá fora, batendo contra as janelas como uma legião de punhos furiosos. O vento uivava, ecoando a fúria da tempestade que se desencadeava. No entanto, o verdadeiro tumulto residia dentro da modesta casa onde Rafael e Yan Lucas habitavam.
Rafael, com seus cabelos cacheados gotejando água da chuva, estava encurralado na cozinha, cercado pela ira contida de Yan. O jovem moreno, de apenas 17 anos, tremia diante da figura imponente de Yan Lucas, um rapaz branco e alto, com cabelos negros que pareciam absorver a escuridão da noite.
Yan empunhava um canivete, a lâmina reluzindo à luz fraca da lâmpada da cozinha. Seus olhos, normalmente serenos, ardiam com uma intensidade assustadora, a raiva borbulhando sob a superfície de sua pele.
-- "Você pensa que pode simplesmente sair de casa sem minha permissão?", rosnou Yan, sua voz carregada de ameaça.
-- "Você precisa entender que este é o seu lugar. Sua casa é aqui, comigo. Você não pode simplesmente ir embora quando bem entender."
Rafael recuou, sentindo a frieza do azulejo sob seus pés úmidos. Seu coração batia descontroladamente, os olhos arregalados de medo fixos no canivete reluzente que Yan brandia.
--"Eu só queria dar uma volta, Yan. Sair um pouco, respirar ar fresco", Rafael tentou argumentar, sua voz tremendo com a ansiedade. --"Eu prometo que volto logo. Não precisa se preocupar."
Uma risada amarga escapou dos lábios de Yan, mas não alcançou seus olhos que permaneciam fixos em Rafael com uma intensidade perturbadora.
--"Você promete? Promessas vazias, Rafael. Você sabe que não pode me prometer nada. Você é meu. Sua única preocupação é ficar aqui e cuidar desta casa", Yan declarou, a frieza em suas palavras cortando como o vento que uivava lá fora.
Rafael sentiu um calafrio percorrer sua espinha enquanto as palavras de Yan ecoavam em sua mente. Ele sabia que estava preso em um ciclo de controle e manipulação, mas a força da tempestade dentro de Yan o deixava paralisado, incapaz de escapar.
A chuva continuava a cair lá fora, lavando as ruas e os telhados com sua fúria implacável. Mas dentro daquela casa, o verdadeiro dilúvio era o tumulto emocional que envolvia Rafael e Yan Lucas em um relacionamento tóxico e perigoso. E, naquele momento sombrio, Rafael percebeu que a tempestade que mais temia não era a que rugia lá fora, mas sim a que estava enraizada dentro das paredes de sua própria casa.
O ar ainda estava impregnado com a tensão que pairara momentos antes na cozinha. Rafael permanecia ali, seu corpo ainda tremendo com a lembrança do aperto de Yan em seu pescoço, sua respiração irregular ecoando no silêncio da casa.
Enquanto Yan se retirava para o quarto, trancando-se em seu próprio mundo sombrio, Rafael sentiu um alívio temporário. Mas era um alívio frágil, sabendo que a tempestade dentro de Yan nunca estava verdadeiramente adormecida.
Com mãos trêmulas, Rafael começou a despir a roupa que pretendia usar para sair. Cada movimento era cuidadoso, cada gesto calculado para não despertar a fúria de Yan. Seu coração martelava em seu peito, o medo ainda presente, aguardando silenciosamente por seu próximo momento de libertação.
O tempo parecia esticar-se como uma sombra à medida que Rafael realizava suas tarefas domésticas, cada segundo uma eternidade de expectativa e apreensão. Mas, finalmente, o momento chegou.
Quando Yan saiu do quarto, seus olhos se fixaram na casa impecavelmente limpa, nos esforços meticulosos de Rafael para garantir que tudo estivesse perfeito. Uma centelha de satisfação brilhou nos olhos de Yan, uma rara expressão de contentamento em meio ao caos de sua mente.
Ele se aproximou de Rafael, sua presença imponente envolvendo o moreno como uma sombra. Rafael sentiu um arrepio percorrer sua espinha, a incerteza ainda presente em cada fibra de seu ser. Mas, no fundo, uma chama tímida de esperança começou a se acender.
Yan beijou o rosto de Rafael, um gesto que continha tanto ternura quanto uma ameaça velada. Rafael fechou os olhos por um momento, o conflito de emoções dançando dentro de sua mente tumultuada.
O moreno continuou a preparar o jantar, seus movimentos agora mais confiantes, mais determinados. Era uma dança perigosa, uma linha tênue entre a paz frágil e a tormenta iminente.
Enquanto Yan se assentava para aguardar o jantar, uma calmaria temporária se instalou sobre a casa. Mas Rafael sabia, no fundo de sua alma, que a tempestade ainda rondava, esperando o momento certo para desencadear sua fúria uma vez mais.
E assim, naquela noite sombria, enquanto a chuva continuava a cair lá fora, Rafael e Yan se encontravam presos em um ciclo interminável de amor distorcido e desespero, cada momento uma batalha entre a luz e a escuridão, entre a esperança e o medo.