Kelvin não estava feliz. Definitivamente, felicidade não definia seu estado de espírito nos últimos 365 dias – e havia motivos bem razoáveis para isso. Sim. Motivos – como se apenas um não bastasse. Surpreendentemente plausíveis, inclusive, capazes de transformar o ser humano mais otimista já nascido numa poça de lágrimas, deitado em posição fetal na cama dentro de um pijama ao meio-dia de uma tarde ensolarada de sábado, tendo como companhia um pote de sorvete pela metade, uma colher babada e uma televisão, onde estaria passando um filme de amor dramático, onde o casal não ficava junto porque alguém morria no final.
Não que Kelvin Santana tenha passado por uma situação assim – pelo menos não tão recentemente. Uma vez? Dá para compreender após ter o coração partido. Duas? É normal afogar as mágoas quando se termina um relacionamento onde você é perdidamente apaixonado pela outra pessoa. Três? Começava a se tornar preocupante. Quatro? Já levantava a possibilidade de buscar terapia, embora estivesse focando a energia na carreira, cujos resultados estavam sendo positivos. Cinco? A amiga Luana havia invadido a casa dele no início daquela noite e o impedido de continuar naquele ritual deprimente. Então, ao todo haviam sido quatro vezes e meia.
Era um típico rapaz de vinte e cinco anos. Gostava de sair com amigos para bares, boates, festas e resenhas. Era alegre, divertido, com um talento nato para fazer amizades e com um sorriso cativante e gay assumido muito bem resolvido consigo. Se esforçava para a carreira de cantor deslanchar e, por sorte e por ter ótimos contatos no ramo artístico, conseguia se manter no seu trabalho produzindo músicas, lançando dois clips e tendo pequenas participações nos trabalhos de outros cantores consagrados. Era chamado para cantar em shows e casamentos e sempre dava o melhor de si em cada apresentação. No último ano havia desistido de cantar nos casamentos – até porque não daria certo. Como poderia? Frank, um adorável homem de vinte e nove anos quem conhecera há pouco mais de um ano, o havia abandonado para trabalhar como contador em outro estado quinze dias após tê-lo pedido em casamento.
- Eu não acredito que me convenceu a isso, Lu! – reclamou deitado na cama, com o celular rente ao rosto.
- Minha velha, queria o que? Aceitasse que você ficasse deitada na sua cama chorando as pitangas pelo terceiro dia seguido? De jeito nenhum! Já passou da hora de se arriscar e respirar novos ares.
- Luana, eu estou deitada numa cama! – quase berrou.
- Ah, é? Ok. Vá até a porta ou alguma janela, abra e inverta a câmera do celular.
Num biquinho Kelvin acatou ao pedido a passos apressados descalço, sentindo o piso gelado sob os pés.
Ao ver a linda paisagem paradisíaca onde belas pessoas passavam com roupas leves cujos tecidos esvoaçavam suavemente graças a brisa fresca, replicou com um enorme sorriso:
- Olha como é diferente. É outra coisa, menina! Até o ar daí deve ser melhor comparado a esse poluído da cidade. Seus pulmões vão me agradecer.
- Te odeio! – ralhou fechando a porta e sentando no chão, com as costas apoiadas no material amadeirado.
- Adoro quando você fala isso! – soltou uma gargalhada batendo palmas – Sempre significa que tenho razão e que você não tem argumentos pra debater comigo.
- Vaca! – reprimiu o impulso de tacar o celular contra a parede tamanha a frustração.
- Anda, se anima. Certeza que esse Resort vai te ajudar a se sentir melhor. É enorme, lindo, cheio de gente, paradisíaco e ainda vai estar ganhando um bom salário pra trabalhar. – respondeu com olhar bondoso.
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Fugindo do Amor
RomanceKelvin Santana é abandonado há um ano pelo ex noivo, quem sumiu sem sequer avisá-lo. Pra melhorar, a carreira como cantor vai de ladeira abaixo. Numa tentativa de dar a volta por cima, Luana, a melhor amiga, o convence a trabalhar num Resort como ca...