000. POBRE, POBRE PRINCESA

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• POBRE, POBRE PRINCESA •





NEW YORK, Upper East Side

Quatro anos atrás







Que Nova York no inverno era congelante não era novidade pra ninguém, mas certamente era novidade para Letitia Devereaux ser abandonada por sua mãe do lado de fora do prédio onde seu novo namorado morava, bem no meio de uma nevasca horrível.

Espere aqui, mon coeur, foi o que sua mãe disse antes de empurrar as portas de vidro do prédio e a deixar plantada na neve.

Já se faziam meia hora e nada. O gentil porteiro tinha voltado há pouco para dentro depois de alguns minutos insistindo para que a garota esperasse na recepção. Mesmo com o frio, Letitia era bem sabida dos casos de sua mãe para obedecer a uma ordem direta para ficar longe.

Estavam atrasadas para um jantar com Tristan McLean, o novo par romântico de Lydia em um romance, e sua filha, Piper. A menina era dois ou três anos mais nova que Letitia, mas sua mãe havia pedido carinhosamente que fizesse companhia à garota enquanto ela e Tristan conversavam.

Letitia dava apenas algumas semanas para que Piper fosse sua nova irmã. Pelas palavras de sua mãe, Tristan era bonito o suficiente para merecer um terceiro jantar com a belíssima Lydia Devereaux, com sua adorada filha como bônus desta vez.

Letitia só queria ter ficado em casa, em Los Angeles, com seu furão Snow e um filme qualquer da Disney.

Algo atraiu a atenção dela. Um filhotinho de rottweiler fungava próximo às lixeiras da esquina. Era tão pequenininho e com a pelagem tão escura que parecia mais um carvãozinho de lareira.

A menina deu uma olhada de esguela para as portas atrás de si, o porteiro assistia a um filme de Natal enquanto bebericava de uma caneca fumegante de chocolate quente. Talvez ela pudesse sair rapidinho dali, pegar o cachorrinho e então finalmente aceitar a oferta de esperar na recepção. Talvez ela até ganhasse uma caneca de chocolate quente.

Suspirando profundamente, ela reuniu toda a coragem que seu corpinho de dez anos poderia guardar e se aproximou do filhotinho.

— Olá — ela o cumprimentou, os olhinhos escuros dele se ergueram de uma lata de alguma coisa para ela. — Eu não vou te machucar. Venha cá.

A menina imaginou que ele se encolheria, ou que latiria, ou que fugiria, mas o filhote cheirou o ar ao redor dela antes de se aproximar alegremente dela.

— Olá, Seth — o rottweiler latiu, feliz, para seu novo nome. — Eu sou a Letitia, vou cuidar de você agora.

— Letitia — Uma voz melodiosa ronronou atrás dela. — Um nome adorável, de fato.

A menina se virou tão rápido que acabou caindo sentada na neve. A mulher a observava com um sorriso assustador nos lábios pintados de vermelho. A roupa era estranha, pareciam penas coloridas emaranhadas e costuradas de forma grosseira no tecido... Algumas delas farfalharam, e Letitia arregalou os olhos. Não se pareciam penas, eram penas.

did i mention • clarisse la rueOnde histórias criam vida. Descubra agora