013² • LAETITIA

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LAETITIA










Uma risada ecoa na escuridão.

É longa, maligna e antiga. Ela me rodeia, sufocando como uma fumaça tóxica. Perco o fôlego, e isso parece divertir ainda mais quem está no escuro.

Pobre, pobre princesa. Está tão perdida que nem mesmo sabe quem é mais.

Tropeço pra trás e meus pés afundam em água. Olho para baixo e observo os pés bracos e com os dedos arroxeados. A barra do vestido preto que uso está molhada, me rodeando como uma barreira.

Eu sei quem você é, filha de Hades. Você é a herdeira. Aquela destinada à levar aqueles que amam para as sombras, para servir à mim.

Sinto uma respiração suave na minha nuca.

Você é feita de medo, moldada por sombras e vestida por teias de aranha. É a Rainha dos Pesadelos, nascida para guiar a Carruagem das Trevas e para empunhar a Ceifadora de Sonhos.

Balanço a cabeça.

Sai da minha cabeça.

Não tente se conter, esse é o seu destino.

Eu não quero ouvir. Eu não quero. Sai da minha cabeça.

Não vai poder se esconder pra sempre do que é.

Sai da minha cabeça!

A risada ecoa novamente, mas muito mais perto de mim.

Não vai conseguir esconder a sua natureza.

Sai da minha cabeça! Sai da minha cabeça! Sai da minha cabeça!

Você vai ceifar todos os sonhos daqueles que mais ama.

Sai da minha cabeça! Sai da minha cabeça!

Liberte-se, Rainha dos Pesadelos.

— SAI DA MINHA CABEÇA!

O grito corta minha garganta e os móveis do quarto imaculadamente branco se chocam contra as paredes.

Meu peito sobe e desce com a velocidade da minha respiração, meu coração está tão acelerado que os batimentos ecoam na minha cabeça. Meus dedos se embrenham nos lençóis com força, e eu mal percebo quando a cortinas se mexem e uma garota entra às pressas, o vestido branco rodando ao seu redor.

— Você está bem? — ela questiona, se aproximando lentamente da cama. — Eu ouvi você gritar. Teve um pesadelo?

Ergo os olhos pra ela.

Sua pele tem cor de café e seu cabelo é preto como piche, preso em uma bonita trança. Seus olhos escuros são firmes, curiosos, mas suaves.

— O meu nome é Reyna — ela diz, e se senta na beiradinha da cama, sem fazer um único movimento para me tocar. — Você... Quer me contar com o que sonhou?

Você é feita de medo.

Nego com a cabeça, e um sorriso suave surge em seus lábios.

— Tudo bem — ela se levanta e caminha até um dos móveis destruídos, pegando uma toalha felpuda. — Você quer tomar um banho? Encontramos você e seus amigos na praia, mas você estava desacordada. Minha irmã e eu cuidamos de você.

Minhas sobrancelhas se juntam em confusão.

— Onde estou? — questiono, estremecendo quando minha voz rouca faz minha garganta arder. — Aqui parece um hotel.

did i mention • clarisse la rueOnde histórias criam vida. Descubra agora