Três sessões

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Os olhos de Maraisa se abriram, e ela olhou ao redor do quarto do hotel. Depois de tatear um pouco a superfície do criado-mudo, encontrou os óculos.

O relógio digital marcava nove e vinte e quatro. Seu coração disparou. Ela dormira até mais tarde. Aquilo nunca acontecia.

Quando se sentou na cama, as cobertas caíram sobre sua cintura e o ar frio tocou sua pele exposta. Estava só de lingerie. Sirenes de alerta dispararam em sua mente, avisando que sua rotina noturna tinha sido ignorada. Ela não havia passado fio dental, escovado os dentes, tomado banho ou colocado o pijama. Ficara com o corpo sujo sobre os lençóis outrora limpos. Ainda bem que não precisaria dormir naquela cama mais uma noite.

Marília saiu do banheiro de banho tomado, com uma toalha enrolada no corpo. Sua tatuagem parecia especialmente sexy à luz do dia. Ela sorriu, com a escova de dente ainda na boca. — Bom dia.

Maraisa levou a mão à boca. Seu hálito devia estar um horror.

Marília atravessou o quarto com passos tranquilos e remexeu na mochila que só podia ter ido buscar no carro, porque não estava lá na noite anterior. Enquanto Marília pegava roupas limpas, Maraisa observou os movimentos fluidos e sincronizados dos músculos das suas costas, admirando as elevações idênticas dos dois lados da base da coluna.

Queria tocar aqueles contornos. Depois tirar a toalha e... — Acaba na minha coxa direita. — Marília falou, olhando por cima do ombro. Acaba? O que acaba?

Piscando várias vezes para aclarar os pensamentos, ela percebeu que a tatuagem contornava os quadris, desaparecia sob a toalha e se estendia até a parte posterior do joelho. O dragão se desenrolava pelo tronco e pelas pernas dela. Maraisa se imaginou fazendo a mesma coisa ao longo da duração do acordo - algo que ainda precisava ser discutido.

Ela abriu a boca para falar, mas sua boca estava tão seca que ficou desconcertada. Só quando levantou lembrou que estava quase pelada, então pegou a primeira peça de roupa que viu - a camiseta de Marília da noite anterior - e correu para o banheiro enquanto a vestia.

Uma vez lá dentro, passou fio dental duas vezes. Ao ver que nada de nojento se desprendeu, soltou um suspiro de alívio e começou a escovação com gestos mais tranquilos.

Marília entrou no banheiro, e ela deu um passo para o lado para permitir que cuspisse na pia, envergonhadissima por estar com a boca cheia de espuma. Por que aquilo não parecia tão sensual nela quanto em Marília? Depois de enxaguar a boca e secá-la, Marília se inclinou em sua direção e beijou sua bochecha. Cheirava a sabonete de hotel, pasta de dente sabor hortelã e... Marília. Aquele cheiro fugidio continuava atrelado a ela. Devia emanar de seus poros. Sorte da loira. Ou dela.

Maraisa manteve os olhos voltados para as bolhas de espuma na pia enquanto escovava os dentes até Marília sair do banheiro. Então fez uma pausa e ouviu o farfalhar de tecido. Marília estava se vestindo. O que significava que tinha tirado a toalha. Sem pensar duas vezes, ela correu até a porta para espiar.

Ela murchou de decepção quando viu que a calça jeans já cobria a cueca. Ela vestiu uma camiseta preta justa e sentou para calçar as meias escuras. Em breve iria embora.

Maraisa correu para terminar de escovar os dentes e a pegou amarrando o último cadarço.

— Precisamos conversar. — ela avisou.

A expressão no rosto da loira quando se ajeitou na poltrona fez o estômago dela se revirar. Marília ia pular fora. A noite anterior fora um fiasco, com seu ataque de pânico e seu suor nervoso, e ela não queria mais saber daquela história. Maraisa comprimiu os lábios, que ameaçavam tremer. Tinha sido ruim, mas com algumas partes boas. Ou não?

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