Busca no Google por acompanhantes

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— Sei que você odeia surpresas, Maraisa. Para alinhar nossas expectativas a um cronograma aceitável para você, saiba que já estamos prontos para ser avós.

O olhar de Maraisa Pereira saltou da mesa do café da manhã para o rosto de sua mãe, que envelhecia da forma mais graciosa possível. A maquiagem sutil chamava a atenção para os olhos cor castanhos, prontos para a batalha.

Aquela não era uma boa notícia para Maraisa. Quando sua mãe punha alguma coisa na cabeça, era impossível fazer com que mudasse de ideia.

— Recado dado. — Maraisa respondeu.

O choque deu lugar a questionamentos acelerados, motivados pelo pânico. Netos significavam bebês. E fraldas. Montanhas de fraldas. Uma explosão de fraldas. E bebês choravam, dando gritos agudos como criaturas mitológicas que nem os melhores fones de ouvido eram capazes de abafar. Como conseguiam berrar tanto e por tanto tempo sendo tão pequenos? Além disso, bebês implicavam em ter alguém, uma esposa ou esposo. Estes eram precedidos por um namoro. Namoros eram precedidos por encontros. Encontros levavam a sexo. Ela estremeceu.

— Você tem trinta anos e ainda está solteira, Maraisa. Estamos preocupados com você. Já experimentou usar o Tinder? Lá pode encontra uma mulher ou homem que possam te interessar.

Maraisa deu um gole enorme de água e engoliu acidentalmente um cubo de gelo junto. Depois de limpar a garganta, respondeu: — Não. Nunca experimentei.

Só de pensar no Tinder - e no encontro decorrente do uso do aplicativo - já começou a suar. Maraisa detestava qualquer coisa relacionada a um encontro: a quebra da rotina confortável, as conversas rasas e constrangedoras, e, de novo, o sexo...

— Me ofereceram uma promoção no trabalho — ela disse, na esperança de distrair a mãe.

— De novo? — questionou seu pai, baixando o Wall Street Journal e revelando seus óculos de aros finos. — Faz uns quatro meses desde a última promoção, não? Isso é incrível.

Maraisa se acomodou na beirada do assento. — Um novo cliente, um grande varejista da internet que não podemos divulgar, tem um banco de dados incrível. Me deixaram brincar à vontade com os números, então criei um algoritmo para ajudar a sugerir compras. Pelo jeito, está funcionando bem.

— E qual é seu cargo novo? — seu pai quis saber.

— Bom... — O molho e a gema do ovo dos bolinhos beneditinos de siri tinham se misturado, e Maraisa tentava separar as duas texturas viscosas com o garfo. — Não aceitei a promoção. Era para econometrista sênior, com cinco subordinados e muito mais interação com o cliente. Prefiro trabalhar só com dados.

A mãe recebeu a informação com um gesto de reprovação. — Você está ficando acomodada, Maraisa. Se não aceitar novos desafios, não vai evoluir no seu traquejo social. Por falar nisso, tem algum colega na empresa com quem aceitaria sair?

O pai baixou o jornal e cruzou as mãos sobre a barriga saliente. — E aquele rapaz, Hugo Neves? Ele me pareceu um bom sujeito na festa de confraternização da empresa.

As mãos da mãe voaram para a boca. — Ah, por que eu não pensei nele antes? Um moço tão educado. E bonito também.

— Ele é legal, acho. — Maraisa passou os dedos nas gotículas de água condensadas do lado de fora do copo. Se fosse sincera, precisaria assumir que até daria uma chance a Hugo. Ele era convencido e desagradável, mas pelo menos era direto, algo que ela apreciava nas pessoas. — Acho que Hugo tem vários transtornos de personalidade.

A mãe deu um tapinha na mão de Maraisa e em seguida a segurou. — Então ele pode ser uma boa opção para você. Talvez entenda melhor a questão do Asperger se também tiver suas dificuldades.

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