Qual envelope ela abriria primeiro? O do resultado dos exames ou o da conta? Marília era paranoica em relação a proteção, então talvez devesse optar pelo primeiro. Devia ser o melhor a fazer. Por sua experiência, merdas aconteciam sem motivo. Já as contas eram sempre a mesma coisa. Um pé no saco. A única diferença era a força do impacto.
Por algum motivo, ela abriu o envelope da conta, tensa e se preparando para o golpe. Quanto estaria devendo aquele mês? Seus olhos foram direto para a parte inferior da fatura, que discriminava cada compra. O ar se manteve em seus pulmões por um bom tempo antes que conseguisse soltá-lo. Não era tão ruim assim. Numa escala de "incômoda" a "massacrante", a conta ficaria na categoria "dolorida".
O que provavelmente significava que ela estava com clamídia.
Marília deixou a conta sobre o armário de metal atrás da mesa da cozinha e abriu o envelope com o resultado de seu mais recente exame de DSTs. Todos negativos. Ainda bem. Era sexta à noite, o que significava que ela precisava trabalhar.
Estava na hora de entrar no clima para trepar. Não que fosse uma coisa fácil depois de passar tanto tempo pensando em DSTs e boletos aterrorizantes. Por um instante, Marília se permitiu imaginar como seria se as contas parassem de chegar. Enfim estaria livre. Poderia voltar à sua antiga vida e... se afundar na vergonha. Não, ela não queria que as contas parassem de chegar. Aquilo não podia acontecer. Jamais.
Enquanto tirava a roupa no caminho para o banheiro do apartamento barato, Marília tentou reviver o entusiasmo que costumava sentir pelo trabalho. De início, a natureza da função, cercada de tabu, foi motivação suficiente, mas depois de três anos como acompanhante seu ânimo tinha acabado. A necessidade de vingança, porém, continuava lá.
Olha só o que sua única filha faz da vida, papai.
Ele ficaria transtornado se descobrisse que Marília fazia sexo por dinheiro. O que era o bastante. Não em termos sexuais, claro. Para aquilo serviam as fantasias. Marília repassou mentalmente suas favoritas. O que poderia deixá-la tentada naquela noite? Uma professora? Uma dona de casa negligenciada? Uma amante secreta?
Ela abriu o chuveiro e esperou o vapor dominar o ar antes de entrar na água quente. Respirando fundo, conseguiu acalmar seus pensamentos. Como era mesmo o nome da cliente daquela noite? Maísa? Marisa? Não, Maraisa. Seria capaz de apostar vinte dólares que aquele não era o nome verdadeiro dela, mas tudo bem. A mulher tinha pagado adiantado. Marília tentaria fazer alguma coisa legal para compensar. Aluna com tesão pela professora, então.
E começou a fantasiar:
Ela era uma caloura de faculdade. Tinha abandonado todas as disciplinas menos uma, porque a sra. Maraisa gostava de deixar o apagador cair perto da bolsa dela. Imaginando a saia da professora subindo quando se abaixava para pegá-lo, Marília segurou o pau e o acariciou com movimentos firmes. Quando a aula terminava, debruçava a professora de costas sobre a mesa, levantava a saia até a cintura e descobria que ela estava sem calcinha. Começava a penetrá-la com estocadas fortes e aceleradas. Se alguém entrasse e as visse...
Com um grunhido, ela afastou a mão antes que fosse longe demais. Estava mais do que pronta para se encontrar com a sra. Maraisa fora da sala de aula.
Enquanto ela terminava o banho, se secava e saía do banheiro para vestir calça jeans, camiseta e blazer preto, sua mente se manteve voltada para a fantasia que criara. Com uma rápida olhada no espelho ainda embaçado e uma passada de dedos pelos cabelos molhados, teve certeza de que estava apresentável.
Camisinhas, chave, carteira. Por força do hábito, Marília releu a seção de pedidos especiais do encontro daquela noite no celular.
* Por favor não use perfume.
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Love Numbers | G!P
Hayran KurguMaraisa Pereira tem dificuldades de se relacionar com as pessoas, ela tem síndrome de Asperger e muitas vezes não consegue filtrar o que diz ou simplesmente 'trava'. É uma mulher sensível e odeia desorganização. Sendo econometrista, ama números e é...