Era para ser apenas uma aula de sexo

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Quando a porta do quarto se fechou atrás delas, Marília tirou os saltos e foi andando até a janela. Abriu as cortinas e contemplou a vista do prédio ao lado, a Fundação Médica de Palo Alto. O que fez lembrar de sua mãe, das contas, das responsabilidades e do cachê de acompanhante. E não era bem isso o que ela queria ter na mente naquele momento.

Ela fechou as cortinas e se virou para Maraisa, que estava de pé ao lado da cama.

A econometrista desviou os olhos e ficou mexendo nas folhas dobradas que trazia nas mãos. Os planos de aula.

Marília se imaginou rasgando tudo e transformando em confete. Apesar de não saber precisar um motivo, detestara as listas. Em vez de agir de acordo com sua fantasia, ela se aproximou, pegou os papéis e colocou-os cuidadosamente sobre o criado-mudo, então encontrou uma caneta na gaveta e pôs em cima da AULA 1. Se Maraisa conseguisse se lembrar de marcar os quadradinhos, Marília precisaria rever suas técnicas.

Marília diminuiu a intensidade das luzes.

— Como eu... o que eu... talvez eu... — Maraisa levou a mão ao vestido negro. — Quer que eu tire a roupa?

— Não sei. Não está no plano de aula. — Marília logo se arrependeu de dizer aquilo. As listas a irritavam, mas ela não precisava tratá-la daquele modo. — Descul...

— Tem razão. Não pensei em incluir isso. — Maraisa passou por ela e foi até o criado-mudo. Depois de observar a lista por um tempo, se inclinou e pegou a caneta, demonstrando a verdadeira função de uma saia justa para Marília: mostrar a curvatura perfeita de uma bela bunda.

Talvez tenha sido por isso que Marília demorou tanto tempo para se dar conta de que ela não sabia o que estava fazendo. Maraisa não entendia grosseria ou sarcasmo. Talvez tivesse passado a vida mergulhada nos livros e não estivesse acostumada a socializar. Se fosse o caso, Marília estava pegando pesado demais com ela. — Se eu dissesse que seus planos de aula são ofensivos, como você reagiria? — Marília perguntou baixinho.

Ela a olhou por cima do ombro, alarmada. — Tem alguma parte que preciso reescrever? Posso fazer mudanças. — Maraisa se virou para o plano de aula e passou os dedos pelo texto, pensativa.

A irritação que oprimia o peito de Marília se aliviou. Era impossível se irritar se ela não entendia o motivo.

Maraisa mordeu o lábio e batucou os dedos na mesa cada vez mais depressa, até se virar para ela com um olhar ansioso. — Eu deveria ter escrito outra coisa que não 'avaliação de desempenho'? Estava me referindo ao meu desempenho, claro. Não tem nada de errado com o seu. Mesmo se houvesse, eu não saberia. Não sou qualificada para julgar...

Antes que ela tivesse um ataque de pânico, Marília falou: — Era uma pergunta hipotética. Esquece.

A morena pareceu confusa por um instante, mas piscou rapidamente e soltou um suspiro de alívio. — Ah, tudo bem. — Depois de ajeitar os óculos, se voltou para os papéis e escreveu *de Maraisa* depois de cada avaliação de desempenho.

Era um bom lembrete. A questão ali era ajudar no desempenho dela. E só. E daí se ela não via a situação como a realização de suas fantasias secretas, como outras clientes? Marília precisava seguir seu próprio conselho e parar de pensar tanto.

Enquanto ela passava para a segunda folha, Marília tirou o vestido, colocou-o sobre o braço de uma poltrona, e sentou na cama ao lado de Maraisa. Ela lançou um rápido olhar em sua direção, com a atenção capturada pela porção de pele exposta. A caneta parou no meio da anotação e caiu sobre o criado-mudo.

Marília abriu um sorriso de satisfação. As coisas estavam ficando menos assépticas.

Maraisa ajeitou os ombros antes de levar a mão ao colarinho. Os botões foram abertos num ritmo dolorosamente lento, então o tecido branco foi ao chão, junto com a saia cinza. A maneira como ela levantou o queixo quando permitiu que Marília a olhasse mostrava determinação. E Marília olhou.

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