212 Fahrenheit

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Depois do jantar, as duas caminharam pelas ruas ladeadas de lojas de departamento chiques e arranha-céus ostentando o nome de grandes instituições bancárias. O fluxo de pedestres - turistas, locais bem agasalhados e jovens em roupas de sair - entupia as calçadas e se espalhava pelas vias, por onde os veículos se arrastavam com vagar.

Ela nunca se dera ao trabalho de vivenciar a Bay Area à noite. Para sua surpresa, estava se divertindo. Em termos de acompanhante, Marília era o pacote completo. Ótima na cama e fora dela. Suas demonstrações de carinho em público tinham tudo para deixá-la envergonhada, mas até então ela tinha adorado. Quem não gostaria de ser beijada por ela em locais públicos, para que as pessoas pudessem ver, admirar e morrer de inveja? Marília segurava sua mão sempre que podia, e a conversa fluía com facilidade. Em geral, ela não gostava de novidades, mas se sentia segura com Marília. Ao lado dela, Maraisa se sentia parte da agitada noite de San Francisco, não apenas uma espectadora. Era incrível estar em meio à multidão e não se sentir sozinha.

Elas se aproximaram das cordas de veludo onde mulheres com pouquíssima roupa, outras mais vestidas e homens de terno, e com pouca roupa também, aguardavam em uma longa fila. Um segurança esquadrinhou o corpo e o rosto de Maraisa, fazendo-a se inclinar contra Marília.

— É aqui o lugar? — ela perguntou, sentindo a ansiedade vir à tona.

Marília a abraçou e confirmou com a cabeça. Então falou para o segurança: — A gente deve estar na lista. O nome é...

O segurança apontou com a cabeça raspada para a entrada. — Podem entrar.

Marília deu um beijo de leve na têmpora de Maraisa, segurou-a pelo cotovelo e entrou com ela pela porta da frente da 212 Fahrenheit. Outro segurança, que cuidava da porta, acenou para ela.

— Deixaram a gente entrar porque acham que sua presença vai ser boa pros negócios. — Marília murmurou em seu ouvido.

Suas bochechas esquentaram, e ela tentou não deixar aquelas palavras subirem à sua cabeça. Maraisa havia se maquiado e arrumado o cabelo para aquela noite. Não era ela de verdade.

Um número razoável de pessoas circulava pelo lugar. Maraisa cerrou os punhos e tentou se preparar para o que viria. Já havia ido a jantares beneficentes e festas da empresa. Aquilo não seria problema. O ruído das conversas, misturado com a batida da música eletrônica, preencheu seus ouvidos. Por sorte, nada muito alto. Ela ainda conseguia pensar.

O espaço era amplo, decorado num estilo minimalista e moderno, com vigas metálicas expostas em ângulos agudos. Um bar enorme ocupava os fundos do recinto, e um DJ comandava a música de uma cabine no alto da parede adjacente. Havia poucos lugares onde sentar, só alguns sofazinhos dispostos ao redor de mesas baixas de metal. Havia quatro delas em toda a casa, duas já ocupadas.

— Quero uma dessas mesas. — A voz dela saiu convicta e firme, o que a tranquilizou, aliviando o buraco no estômago. Estava se saindo bem.

— Não são de graça. — Marília comentou.

Ela pegou o cartão de crédito da parte de cima do vestido justo safira e entregou para Marília, dando risada quando ela abriu um sorriso surpreso. — Eu não tinha onde mais colocar.

Marília passou as mãos pelas suas costas e a puxou mais para perto. — O que mais tem aí? — Perguntou, espiando seu decote modesto.

— Minha carteira de motorista.

— Eu tenho bolsos, sabe? Posso guardar suas coisas.

— Nem pensei nisso. Deixei meu celular em casa porque não tinha onde enfiar. — Devia ser por motivos como aquele que as pessoas namoravam. Ter alguém que pensava no plano B.

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