Planos de aula

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Quando a sexta-feira chegou, Maraisa estava em polvorosa. Não conseguia parar de batucar os dedos na mesa do restaurante enquanto esperava Marília. Havia providenciado o encontro pelo aplicativo da agência, com a mesma praticidade com que compraria uma passagem de avião, mas sem o programa de fidelidade. Ela recebera o e-mail de confirmação, sua única garantia de que o encontro ainda estava de pé. Era impossível não temer que Marília tivesse mudado de ideia.

Maraisa gostaria de ter o número do celular dela, mas Marília não devia passá-lo às clientes. Era pessoal demais. Principalmente considerando que uma delas tinha ficado obcecada.

Aquela era uma das maiores fraquezas de Maraisa, e uma das características definidoras de sua condição. Não sabia se interessar um pouco pelo que quer que fosse. Ou era indiferente ou... obcecada. E suas manias não eram passageiras. Elas a consumiam, se tornavam parte dela. Maraisa as nutria, as incorporava à sua vida. Como fazia com o trabalho.

Ela precisava tomar cuidado na aproximação com Marília. Tudo nela a agradava. Não só o visual, mas a paciência e a gentileza também. Ela era boazinha.

Era uma mania esperando para começar.

Sua esperança era conseguir manter a cabeça fria pelas semanas que viriam. Talvez fosse melhor mesmo que tivessem apenas três sessões. Quando terminassem, Maraisa poderia se concentrar em alguém que pudesse ser seu de fato. Como Hugo Neves.

Ela notou Marília assim que entrou no restaurante do hotel. Estava usando um vestido preto de caimento impecável. O cabelo solto, e um salto baixo. Tudo ali lhe chamou a atenção, como era tão feminina mesmo com algo masculino. Marília esquadrinhou o salão com o olhar e o pousou sobre ela.

Maraisa olhava o cardápio sem ver nada. Marília não parecia ter pressa de ir em sua direção. Mantenha a cabeça fria.

— Oi. — Marília se sentou diante dela e apoiou as mãos entrelaçadas sobre a mesa.

Maraisa respirou bem fundo, e sentiu seu cheiro. Suas entranhas se reviraram. Com uma sensação de derrota, ela levantou os olhos na direção dela, contou até três e virou a cabeça para o outro lado. — Oi.

— Já está nervosa?

Ela deu uma risadinha. — Estou nervosa desde sábado.

— Por falar nisso... Quem era no telefone quando eu estava indo embora?

Ela comprimiu os lábios para esconder um sorriso. — Minha mãe. O nome dela é Almira. E pensa que estamos juntas, aliás.

Marília levou a mão à boca sorridente. — Entendi. E isso é um problema?

— Na verdade, acho que é até bom. Agora que ela pensa que tenho namorada, deve parar de tentar me arrumar encontros às cegas.

— Ah, mãe e encontros às cegas... Sei bem como isso funciona.

— Isso quer dizer que você não tem namorada? — Assim que a pergunta saiu de sua boca, Maraisa fez uma careta. — Desculpa. Esquece que eu falei isso.

Ela não tinha o direito de interrogá-la sobre questões pessoais, mas uma curiosidade terrível fervilhava dentro de si. Queria saber tudo sobre ela. Se Marília tivesse namorada, fosse quem fosse, ela ia odiá-la.

— Não, eu não tenho namorada. — Marília disse, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Graças a Deus.

— Com que tipo de garota sua mãe tenta juntar você?

Marília revirou os olhos. — Médicas, o que mais? E enfermeiras. Acho que minha mãe já tentou me juntar com metade do segundo andar da Fundação Médica de Palo Alto.

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