Capítulo 3

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O despertador toca, ferindo os ouvidos sonolento de Emma; é um novo dia. Se mexe debaixo das cobertas. A luz faz seus olhos arderem. Nem mesmo se recorda de ter ido para a cama, é provável que o pai a tenha colocado para dormir; já o dia anterior foi seu aniversário ele pode ter pensado ser um tanto indelicado despertar a aniversáriante, então ela se perdoa por ter adormecido às onze horas, mas agora sua cabeça gira pelo cansaço. Enfia a cabeça debaixo dos travesseiros igual um avestruz e procura o celular para cessar o barulho. A porta se abre, quase como se tivesse sido arrombada.

- Mana! - Sherry pula na cama da irmã, sacudindo-a e gargalhando.

- Sherry, que horas são? - resmunga ousando levantar o travesseiro.

- São sete e quinze!

Sete e quinze?! Ela dormiu demais!

 Salta da cama, tropeçando até o armário, não caindo com a cara no carpete por um milagre. Pega a primeira roupa que vê e a joga na cama: uma camiseta de cor caqui, a mesma jaqueta jeans que usou na semana passada e no dia anterior jogou no fundo do armário; um shorts relativamente logo até o meio das coxas; meias listradas coloridas e longas, uma delas secretamente furada perto do tornozelo esquerdo e o mesmo colar em forma de olho que ganhou de Gilda em seu aniversário. Corre até o banheiro e nem mesmo se importa em fechar a porta, apenas saí do campo de visão da irmã e se veste sem nem mesmo ter tempo de colocar um sutiã. Escova rápido os dentes apenas para disfarçar o hálito e esfrega as mãos molhadas no rosto.

- Cadê a minha mochila?! - exclama ao sair do banheiro para calçar os tênis All Star jogados ao lado da cama.

- Mamãe colocou em uma cadeira na cozinha, eu acho...

- Valeu, mana. - Bagunça os fios ruivos da irmã, fazendo-a rir. Amarra os cadarços já sujos pelo uso e se apressa para descer as escadas.

Deveria ser má ideia descer escadas correndo desse jeito, mas o atraso pode fazer as pessoas fazerem coisas idiotas; da mesma forma que a menstruação faz mulheres se tornarem bestas selvagens em busca de chocolate, mas descer escadas com tênis com cadarços frouxos seria doloroso demais para uma besta selvagem louca por chocolate.

- Emma, vai tropeçar assim! - Escuta a mãe lhe repreender da cozinha. O cheiro de ovos e bacon enche as narinas da garota que, sem resistir, vai até a bancada na cozinha. É como se o aroma fosse mágico.

Dina está focada na frigideira, manuseando a espátula com cuidado e colocando os ovos num prato ao lado das bocas do fogão.

- Bom dia - cumprimenta a menor.

- Gema mole ou dura? - a alta mulher pergunta com um sorriso costumeiro por cima do ombro.

- Mãe, eu não tenho tempo!

- Ora, vai para escola com fome?

Emma não responde, revira a geladeira rápido para encontrar pasta de amendoim e geleia. Tendo o saco de pães de forma e coloca tudo sobre o balcão. Agarra rapidamente uma das fatias no saco e faz um sanduiche às pressas. Olha para o trabalho feito. Não é a coisa mais deliciosa do mundo e está longe de ser o melhor que poderia dar na cozinha - não que ela seja uma mestra nisso, mas é capaz de se virar sem incendiar a casa - mas é o que tem para hoje.

- É, vai ter que servir... - Anda apressada para se despedir da mãe. - Até mais tarde.

- Cuidado no caminho! - Dina beija a testa da filha, afastando sua franja ruiva para trás.

Emma sorri, logo se direcionando até a sala para ver o pai. Yugo está de pé ao lado da porta, balançando o casaco empoeirado para ir ao trabalho.

- Acordou tarde - resmunga ao por os olhos cinzentos na menor. - Vai ir com as meninas?

Pouco Antes De Setembro.Onde histórias criam vida. Descubra agora