Norman jamais poderia se esquecer de como tudo isso havia começado, numa tarde ensolarada de domingo, pouco antes de Setembro, quando a viu pela primeira vez. Ela dançava na rua em frente à sua casa conforme a música agitada no rádio do carro do pai...
O que amigos normais fazem durante ligações por vídeo? Devem fazer palhaçadas em frente à câmera e rir da cara um do outro por uns minutos até se cansarem; dizem uma pilha gigantesca de palavrões e desligam um na cara do outro até a brincadeira perder a graça. a questão aqui é que certamente Norman e Emma estão destinados a não serem "apenas amigos". Não sabem quando começaram, mas sabem que com certeza estão conversando há mais de quatro horas sem pausa, e ainda não conseguem ver um fim aparente para o assunto; como um poço fundo demais para que se possa ver a água no fundo.
- Então... uma girafa! - repete as palavras da ruiva, explodindo em gargalhadas. Os vizinhos já devem estar chegando ao ponto de querer chamar a polícia.
Emma abre a boca e arregala os olhos em frente à câmera, fingindo indignação.
- Eu tinha seis anos! Não sabia que zoológicos não permitiam que crianças montassem em girafas! - retruca, sentindo as bochechas esquentarem até que seja impossível ignorar a vermelhidão que existe em seu rosto (ela não sabe se está mais envergonhada ou tímida). Norman não deixa esse detalhe passar, mas decide que o silêncio é a melhor resposta que pode dar quanto a isto.
O albino volta a se contorcer de tanto gargalhar. Não se lembra da última vez em que riu tanto e tão abertamente, livre, sem sentir qualquer hesitação em soltar uma boa risada. Para ele a sensação é ótima, mas para sua mãe a situação é outra. Estar com bobs na cabeça, uma máscara facial e um belo balde de pipoca acompanhado de um pote de Nutella - ignorando o fato de a gordura e o açúcar no que está comendo como um animal com certeza irão fazer uma colônia de espinhas em seu rosto, e é isto que ela está tentando evitar -, tentando ouvir a TV com certeza é mais fácil em silêncio.
- NORMAN! EU ESTOU EM REUNIÃO! - Matilda mente ao repreender, mesmo que ainda focada em assistir um bom e velho dorama clichê. Ela é mais do que apenas uma mãe, afinal! Os dias de guerra devem estar muito longe dela, e se estão perto, essa mulher não se importa; agora ela quer dias de glória.
