O dia amanheceu e eu senti um amargo na boca. Há dois dias eu, simplesmente, não quero comer nada. Pareço um fantasma andando pelo quarto do hotel. Não consegui nem, ao menos, buscar um novo apartamento.
Minha dignidade está no chão. Meu coração está dilacerado.
Sabe. Perder meu avô, passar por um episódio de violência doméstica e, ainda por cima, estar numa situação que faz o meu grande amor do passado acreditar que faço baixarias e que não tenho o mínimo de educação.
Sério, no lugar dela eu também não iria querer ver a minha cara. E acho que esse é o pior sentimento: a verdade.
Se eu contar isso para alguém, certamente esse alguém vai concordar com a July. E vai dizer que eu sou tóxica e que permito ter pessoas próximas a mim de nível baixíssimo.
Só que eu jamais ficaria com a Lena se eu soubesse quem ela é de verdade. E isso é um arrependimento tão grande, que chega a doer meu peito. Pior do que isso é perceber que eu perdi tempo com uma pessoa que não vale a pena, que foi tóxica e abusiva.
E que isso tem um custo alto para mim. Perder de novo a July.
Sei lá. Queria sumir.
Olho para o meu braço lanhado. Talvez, reste uma cicatriz disso. Porque ainda arde e machuca. Mas eu só queria esquecer.
Não parece que, de repente, tudo começou a dar errado ao mesmo tempo? Onde foi que eu errei na vida para que isso esteja acontecendo?
Será que eu fiz algo abominável em alguma vida passada para enfrentar esse karma? Oh, meu Deus!
Dei um salto.
Será que grudei chiclete na cruz e estou pagando por isso agora?
Pfuuuu!
Que besteira, Anna. São só as consequências dos meus próprios atos nessa vida mesmo.
Não tenho forças para nada, meu Deus. Eu até queria chorar um rio inteiro, mas nem isso eu consigo.
Meu coração começou a bater descompassadamente, meu ar começou a faltar. Olhei para as minhas mãos e elas tremiam. Estava suando. O teto rodando. A respiração cada vez mais curta.
Estou morrendo.
Cadê meu telefone?
Estou morrendo. Estou morrendo.
De repente, teto preto. Desmaiei. Não sei por quanto tempo. Bem... se eu tivesse realmente morrido, eu seria um daqueles casos em que o corpo é encontrado dias depois já em um estado lastimável.
Não foi o caso.
Acordei sem entender o que tinha acontecido. Estava deitada no meio do quarto. Passei as mãos por todo meu corpo e parecia tudo em ordem. Ufa! Foi só um desmaio, pensei.
De repente, um vazio enorme me tomou. Me senti tão sozinha naquele momento. Olhei para as minhas mãos, para o meu corpo. Era só eu. Não tinha mais ninguém ali.
Essa sensação de vazio latente que preenche um buraco enorme. Um paradoxo que não sei explicar. Um vazio que preenche, que me reduz, que me dói.
Respirei fundo. E concluí que era com essa solidão que eu teria que lidar pelo resto dos meus dias. Porque eu já não confiava em ninguém para doar meu coração. Não acreditava mais no amor e suas revoluções.
Nossa, como isso dói na minha alma. É como se eu estivesse abandonando algo tão precioso. Mas estava lidando com a mais pura realidade.
Que loucura tudo isso!
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Dream - O Caminho Do Amor
General FictionE se você conhecesse sua alma gêmea e desse um fora nela? E se você sonhasse com ela regularmente, mas não tivesse mais contato? E se você a encontrasse por acaso em um aeroporto enquanto viaja para um funeral? E se ela for uma pessoa de amores líqu...