Capítulo 5 O Arrependimento POV - Anna

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Já faz uma semana que estou em Manaus. Os dias foram bem difíceis, mas aproveitei o tempo para rever amigos, família e descansar.

No meu antigo quarto, abri uma caixa velha. Uma caixa cheia de cartas de mais de dez anos atrás. Também havia muitas fotos. Fui abrindo uma por uma, revendo as letras e as trocas de mensagens quando os Correios funcionavam não só para entregar boletos e cartas do Serasa.

Encontrei uma carta da July. Eu não lembrava daquela carta. Ela elogiava minha letra. Provavelmente, estava respondendo a uma carta minha que eu não faço a mínima ideia do que escrevi. Medo.

Lembrei novamente do que aconteceu entre nós.

Tanto tempo depois e eu ainda me culpo. Eu sei, eu sei, eu não deveria carregar essa culpa comigo. Na verdade, eu nem lembrava mais dessa história até ouvir a voz da July me chamando no aeroporto. Foi como relembrar tudo em apenas um piscar de olhos.

Sabe quando a onda sonora bate no seu corpo e você estremece? Foi o que senti naquele momento. Porque eu lembrei, como um filme completo que passa em menos de um segundo na sua frente, de tudo o que vivemos naquele breve período de tempo.

Eu fazia duas faculdades e um estágio. Sim, sou completamente doida da cabeça. Mas eu sempre tive uma mente lógica. Sempre fui dos números, dos cálculos, das possibilidades e das coisas concretas. Esse é o meu espírito capricorniano.

Engenharia civil e arquitetura. Pois é. Eu acho que sou maluca. Mas eu não consegui escolher entre as duas profissões e resolvi fazer os dois cursos ao mesmo tempo. E minha rotina se resumia a estágio de manhã e estudos à tarde e à noite.

Sobrava pouquíssimo tempo para qualquer outra coisa. Apenas academia, na hora do almoço. E, à noite, conversava com July.

Nos conhecemos em uma sala de bate-papo, um dia qualquer. Era madrugada. Eu estava de férias e ainda estava iniciando as duas faculdades. Não sei dizer. Foi uma conexão imediata.

Naquela sala só entravam as mesmas pessoas. Todas nós já nos conhecíamos e conversávamos bastante. Muitas vezes, conversei com cinco ou seis garotas diferentes, falando sobre tudo, sobre a vida, a rotina e gostos pessoais. Nada sobre qualquer relacionamento íntimo ou coisa parecida.

Sei lá. Acho que antigamente éramos mais inocentes nas conversas. Uma sala de bate-papo, hoje em dia, nem pensar. Mas, naquela época, era uma novidade. Assim como o MSN Messenger, o ICQ e o Orkut. Tempos pré-históricos da internet.

Foi nesse contexto que conheci a July e foi assim que passamos a conversar todas as noites. E, bem, só o teclado já não fazia jus à intimidade e amizade que criamos. Precisávamos conversar mais, ouvir nossas vozes e aprofundar nossa conexão de uma forma mais próxima. O telefone servia para isso. Por isso, passamos noites e noites conversando ao telefone e nossas contas começaram a vir muito caras.

Isso era um problema para nossos pais. A diferença é que eu tinha que trabalhar para pagar as minhas contas. E já fazia isso desde os 14 anos. Ela tinha os pais para pagar a conta. E nossa relação foi se aprofundando em meio a esse conflito. Havia a distância e havia as contas telefônicas. Além disso, havia a nossa diferença de idade.

Quando desliguei o telefone com ela pela última vez, as lágrimas vieram naturalmente. Havia muitos livros na minha cama, muitos cálculos a serem estudados, uma semana de provas pesadíssimas nos dois cursos e uma alma em frangalhos.

Eu disse não e eu me culpava. E se?

Eis uma pergunta que atormenta qualquer pessoa. O campo das possibilidades. Logo eu, que calcula todas as possibilidades e probabilidades, caí nessa armadilha.

Dream - O Caminho Do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora