Como a vida tem sido boa comigo!
Eu nunca imaginei que chegaria aos 30 tão plena na vida. Quase tudo está ótimo. Quando olho para trás e vejo o caminho que percorri, sinto uma pontada de orgulho de mim.
A vida tem sido generosa. Poderia dizer que em quase tudo. Mas não posso. Eu, uma libriana convicta, não consigo me entregar a um amor verdadeiro. Sempre tenho uma pulga atrás da orelha com qualquer mulher que eu conheça.
Minha vida está toda certa. Eu tenho a profissão dos meus sonhos. Sou médica dermatologista. Sou bem conceituada na minha área.
Além disso, viajo todos os anos para vários lugares do Brasil e do mundo. Esse é o meu hobby preferido.
Minha família me dá todo suporte que eu preciso. Sempre foi assim. Meu pai, também médico e de quem herdei o gosto pela profissão, sempre bancou todos os meus cursos. Ele sempre fez tudo o que eu quis.
Se não fosse isso, talvez eu não estivesse onde estou. Tenho que falar sobre os meus privilégios, não é mesmo? Sempre estudei em escolas boas e, aos 16 anos, pude fazer meu primeiro intercâmbio. Passei um ano na Alemanha.
Bem, essa experiência foi um pouco traumática. Aprender alemão não foi fácil e lidar com os costumes do local foi um desafio e tanto. Precisei mudar de família algumas vezes. Depois de uns meses tentando me adequar, enfim encontrei uma casa com pessoas que se tornaram a minha segunda família.
Agora, estou aqui no aeroporto de Frankfurt esperando meu voo para o Brasil. Vim visitá-los. Aproveitei que vim para um congresso médico e estendi minha estadia até a cidadezinha deles, que fica bem próxima.
Cheguei de surpresa e fui abraçada por todos eles, contrariando todos os costumes alemães. Mas é família. Sabe como é. Família sempre se abraça.
Fazia muito tempo que não os visitava. A saudade era grande. Então, sentei com eles à mesa: minha mãe, meu pai e minha irmã, hoje casada e com uma filhinha. Era uma quarta-feira. Por coincidência, encontrei todos ali.
Minha mãe alemã me mostrou como ainda guarda algumas recordações nossas. Um mural de fotos com vários momentos que passamos juntos. Fotos na neve, na escola, no parque, à beira do rio Meno.
Lembrei de como me sentia naquela época. Eu era uma menina e estava descobrindo minha sexualidade. Sempre fui uma garota bem feminina e bonita. Meus cabelos pretos e lisos, minha pele clara, meu sorriso largo e bonito sempre me destacaram. Tinha todos os garotos aos meus pés. Mas eu não estava interessada neles.
A Alemanha me fez dar um mergulho em mim mesma para que eu pudesse me entender. Eu precisava saber o que eu sentia por mulheres. Porque eu saí do Brasil muito magoada e muito mexida. Nunca tinha me sentido daquela forma por nenhuma amiga minha.
Engraçado... Eu demorei demais a aceitar o que estava sentindo. Me coloquei em dúvida e me desacreditei em vários níveis. Sempre que me olhava no espelho pensava: "Eu sou mulher e o certo é ficar com garotos e não com garotas".
Mas o coração dizia outra coisa. Sinceramente, com 16 anos sempre achamos que vamos encontrar o amor da nossa vida e que tudo vai ser encantado. Não foi assim comigo. O que eu senti até hoje nunca consegui explicar para ninguém.
Aliás, fiz questão de esconder isso até de mim mesma. Evito até falar o nome dela. E não sei mesmo porque eu lembrei disso agora. Acho que foram as fotos e as recordações da minha estada por aqui.
Minha irmã alemã, Leah, perguntou se eu tinha alguma namorada. Na verdade, temos a mesma idade e foi com ela que eu desabafei, durante aquela fase estranha, sobre o que estava sentindo. Estávamos no quintal e, enquanto brincávamos com Mia, minha sobrinha de 3 anos, ela foi me questionando. Estava curiosa para saber os detalhes.
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Dream - O Caminho Do Amor
Ficción GeneralE se você conhecesse sua alma gêmea e desse um fora nela? E se você sonhasse com ela regularmente, mas não tivesse mais contato? E se você a encontrasse por acaso em um aeroporto enquanto viaja para um funeral? E se ela for uma pessoa de amores líqu...