Capítulo 7 Eu a perdi POV - Anna

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Chegou o dia de voltar para casa. A sensação é de que uma parte da minha história morreu também. Eu nunca tinha experimentado essa sensação de perder alguém que amo muito.

Morreram junto nossos diálogos, olhares e cumplicidade. Meu avô vai fazer falta. Não sei para quem ligarei quando estiver em dúvida sobre uma decisão difícil. Não sei de quem poderei receber apoio incondicional diante de uma dificuldade da vida.

Foi ele que me deu o suporte que eu precisava quando resolvi me assumir para a minha família. A Isa já não fazia mais parte da minha vida, simplesmente, porque ela decidiu que não queria mais viver um romance com uma mulher.

Foram dois anos da minha vida em que eu dizia para todo mundo que ela era a minha melhor amiga. Na frente de todo mundo era só amizade. Quando estávamos só nós duas, éramos namoradas.

Eu era apaixonada por ela. Não dava mais para esconder. Quando eu olhava para ela, minhas pupilas dilatavam, o ar ficava rarefeito e o tempo congelava. Tudo na minha vida era apenas ela.

Estava difícil esconder esse relacionamento. Um dia, eu falei para ela:

- Eu não aguento mais esconder que eu te amo, meu amor.

- Anna, para com isso. Eu jamais vou assumir o que temos para ninguém, amor.

- Por quê? O que há de errado nisso, Isa?

- Escuta só. Eu não sou lésbica. A única mulher que me envolvi foi você. Não vou fazer isso com mais ninguém. Porque é só com você. Eu amo você. Não amo ficar com mulheres.

- Para, né, Isa! Pelo amor de Deus. É óbvio que você é lésbica, ou não estaríamos juntas por dois anos. DOIS ANOS. Entendeu? Eu não aguento mais esconder o que eu sou, o que eu sinto e o que eu quero. Cansei de dizer que o amor da minha vida é só uma amiga. Eu queria poder gritar para o mundo e viver isso em paz.

- Não vai dar, Anna. E, se você continuar com isso, acho melhor terminarmos aqui. Eu te amo, mas não sustento isso em público, não. E tem mais. Eu quero casar com um homem, ter um filho, formar uma família.

Eu não estava acreditando no que estava ouvindo. Uma lágrima começou a cair. Depois, outra. E, depois, mais outra. Quando percebi, meu rosto já estava vermelho e meus olhos, inchados.

- Presta atenção no que você está me dizendo, Isa. Eu sou o que para você? Alguém que você ama e nunca vai dizer para ninguém? E, depois, você vai encontrar um macho, casar, ter filhos e fingir que é feliz? É isso o que você está me dizendo?

- Eu não vou assumir um relacionamento homossexual para ninguém, Anna. Eu já disse.

- Então, você está me dizendo que sente vergonha do que a gente vive? Eu não estou acreditando. Como eu sou idiota! Muito idiota! Dois anos da minha vida ouvindo você dizer que eu sou o amor da sua vida! DOIS ANOS, ISA! Eu descobri como é amar e ser amada. Descobri o melhor sexo da minha vida. Descobri que posso ser feliz sendo eu mesma. E você, AGORA, me diz que tem vergonha de ser você mesma para a sociedade? E que se for para ficarmos juntas terá que ser escondido? Enquanto você brinca de ter uma família feliz? Me poupe.

Ela ficou calada.

- Quem não quer continuar com você sou eu. - Finalizei nossa conversa e fui embora.

Vou dizer que superei rápido? Não. Porque eu dancei com a bunda na lama do fundo do poço. Comi o pão que o diabo amassou tentando esquecê-la. Chorei e esperneei bêbada pelos bares da vida. E ninguém entendia nada. Porque eu não podia expor a vida dela para ninguém. Por consequência, eu não podia falar sobre os meus sentimentos por ela.

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