Capítulo 3 Desespero POV - Anna

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Naquele exato momento em que ouvi meu nome, eu devia estar com a pior cara possível. Em uma hora de voo, de Curitiba a São Paulo, logo após me acomodar no meu assento, me pus a chorar.

Quando decidi deixar Manaus, meu avô me chamou em um canto da sala da casa dele e falou:

- Nessas horas, minha Florzinha, eu queria ser rico.

Florzinha era o apelido oficial do meu avô para mim. Só a minha família me chama assim, por influência dele.

- Por quê, vovô? A vida não está boa?

- Não é isso, Florzinha. Não queria esse dinheiro todo para mim. Afinal, eu já estou velho. Vou fazer o que com tanto dinheiro no banco?

- Ué. Então, por que o senhor gostaria de ter tanto dinheiro?

- Porque você merece o mundo, minha filha. Eu queria que você pudesse estudar nas melhores escolas do mundo. Que fizesse um mestrado em Londres. Ou que fizesse uma viagem pela Ásia.

- Sério, vô?

Abri um sorriso.

- Sério, minha Florzinha. Eu queria poder fazer tudo o que você sonhasse.

- O senhor é o melhor avô do mundo!

Eu não sei como serão os dias sem ele. Meu avô foi o cara que mais me incentivou na vida. E, quando lembrei disso tudo, quando finalmente consegui entrar em um avião para chegar ao seu funeral, eu desabei.

Abaixei meu boné, na tentativa de que ninguém me visse naquele estado, dentro do avião.

Quando o avião pousou, minhas pernas estavam inquietas. Todo mundo levantou ao mesmo tempo. Eu ainda precisava tirar minha mala e minha mochila do bagageiro. Meu Deus, me ajuda, por favor.

Fui pedindo licença e informando que eu estava perdendo minha conexão. Vários passageiros cederam sua vez e eu fui passando espremida, com minhas bagagens, pelo corredor.

A porta do avião se abriu e eu saí correndo. Parecia uma louca correndo pelo finger. Quando encontrei a tela que me confirmaria o próximo portão de embarque, além de estar ofegante, me encontrava em total estado de desespero.

Tirei o boné para tentar me ajeitar. Mas eu estava...

Descabelada, olhos vermelhos, rosto inchado e roupas desajeitadas.

Nem o melhor estilista do mundo daria um jeito em mim naquele momento. Eu aparentava o estereótipo da sapatão padrão. Jeans, camiseta, tênis e boné. Foi a roupa mais confortável e prática que eu encontrei, no meio do caos desse dia, que me permitisse cruzar o Brasil inteiro.

Mas eu estava, literalmente, bagunçada. E, aí, ouvi uma voz de fundo me chamando. Fiquei paralisada. Então, ouvi novamente. Dessa vez, bem mais perto.

Quando virei...

- July?

Fez-se um silêncio. Eu tentava ajeitar meu cabelo em vão. Meu rosto, muito inchado, e meus olhos, muito vermelhos, denunciavam o meu desespero.

- Anna? Você é a Anna mesmo?

- Sou eu, sim. Meu Deus! Como assim eu te encontro justo hoje, aqui no aeroporto de São Paulo? Como você está? - Falei enquanto tentava melhorar minha aparência.

- Eu nunca imaginei também. Quanto tempo! Você foi a responsável por muitas contas telefônicas altas na minha vida.

- Bem. As minhas eram altas também.

Rimos.

Eu a olhei nos olhos. Parecia que eu já conhecia aqueles olhos há muito tempo. Quando ela olhou nos meus, eu desviei o olhar. Baixei a cabeça e, certamente, meu rosto ficou um pouco corado.

Dream - O Caminho Do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora