Eu gostava de colecionar livros antigos.
Desde criança, me confortava a presença daqueles empoeirados e cheios de marcas de uso, marcas essas que ao meu olhar infantil eram de uma beleza singular; um livro marcado era sinônimo de uso excessivo e uso excessivo queria dizer que aquele livro havia sido visitado várias vezes por sua escolha de palavras ser digna de ser lida mais de uma vez. Mas colecionar coisas antigas, apesar de carregarem uma beleza fúnebre, com o tempo ocupava espaço de novos livros que pudessem chegar.
E eu, sempre apegada ao que já havia sido lido, me impedia de desfrutar do que era novo. Eu, colecionadora de livros antigos, me impedia de conhecer novas histórias, lugares, novos sentimentos e sentidos. Era travada pelo aspecto lascado de histórias antigas que costumava querer revisitar mais de uma vez, mesmo aquelas onde a dor às vezes se fazia presente. Aquelas eram tão minhas que já as conhecia como a palma das mãos, mãos essas sempre sujas de partículas de poeira de livro velho.
E na minha teimosia de não largar livros lascados e surrados, permitia que minha estante se tornasse empoeirada e mofada, e me impedia de abrir espaço para novas histórias fazerem morada.
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Teto de Vidro
Poetry"Cuspam em mim todos os teus julgamentos, apontem sobre meu rosto teus dedos de mãos que deveriam acolher, não condenar; dedos estes que cutucam feridas abertas que já não consigo mais estancar, que ao jorrar sangue sobre meu corpo ainda sou culpada...