Depois do breve tour que tivemos pelas quadras da SS, vou para o meu quarto e passo a tarde inteira customizando meu uniforme. Em algum momento do dia, Liz aparece com uma pilha de livros em seus braços e diz que só vai tomar banho para o jantar.Junto com meu uniforme, recebi uma camisola que bate em meu tornozelo e duas pantufas rosas desbotadas. Talvez meu pai realmente tenha me mandado para um convento e me enganou dizendo que era um colégio interno. Trinta minutos depois, Liz já saiu do banho e se dirigiu para o refeitório, onde fazemos todas as nossas refeições juntos. Tomo meu próprio banho e ao invés de vestir a camisola de vó, visto um conjunto de lingerie preta com uma calça de moletom da mesma cor, na parte de cima, resolvo por uma camiseta branca um tamanho maior que o meu. Assim que termino de pentear meus cabelos, visto minhas pantufas pretas da Louis Vuitton e saio do quarto.
Durante todo o percurso do meu quarto até o refeitório, não encontro ninguém nos corredores, e presumo que todos já estão na sala de jantar. Tudo isso é confirmado quando eu passo pelas portas e encontro todos sentados nas mesas, já no meio das suas refeições. Com o barulho da porta se abrindo, chamo toda a atenção para mim.
Quatro mesas grandes estão dispostas na vertical uma ao lado da outra, grandes o suficiente para que todos os alunos possam se sentar e comer à vontade. Outra mesa grande se encontra na horizontal, com todos os membros do corpo docente sentados nela e comendo suas próprias refeições. Ou pelo menos eu acho que é o corpo docente, considerando que a diretora Harriet está sentada na cabeceira da mesa e me lançando um olhar mortal enquanto seus olhos verdes intercalam entre minha roupa e meu rosto. Dou uma rápida olhada nos alunos e percebo que todas as meninas estão usando as camisolas enquanto os meninos estão vestidos com calças de moletom e camisas de pijama com a logo da escola. Tento não prestar atenção no fato de estarem com roupas mais confortáveis que as garotas.
Um silêncio ensurdecedor cai sobre a sala quando a diretora se levanta de sua mesa e anda até a mim, se demorando em cada passo até que esteja parada bem na minha frente.
— Que roupas indecentes são essas? Volte já para o seu quarto e troque-as — diz com um tom de repreensão em sua voz, sua cara enrugada em uma careta enquanto me lança um olhar superior.
— Essas roupas são indecentes? Por que não falamos sobre as camisolas transparentes que todas as meninas desse colégio são obrigadas a usar? — Ouço um suspiro coletivo a minha volta e o olhar de todos em cima de mim quando termino de dizer essas palavras, mas todo o meu foco está na velha senhora a minha frente, que recua um passo e arregala os olhos antes de mascarar sua reação.
— Como ousa falar assim comigo? Sou sua superior e diretora desse colégio e mereço ser tratada com respeito.
— Eu fui educada com você e te tratei com respeito. Você não pode me obrigar a usar roupas que eu não me sinto confortável de usar. Sinto muito, mas se me der licença, eu estou com fome — passo por ela e procuro Max e Liz no meio de todas as pessoas sentadas nos bancos, encontrando eles sentados no final da fileira à direita. Enquanto me dirijo para lá, encontro o olhar frio de uma garota morena de olhos azuis, ela me olha com o mesmo olhar de superioridade da diretora Harriet. A morena está sentada no colo do mesmo garoto em que esbarrei hoje, Orion, que me encara com um olhar indecifrável enquanto seus companheiros o acompanham em sua sessão de encarar. Eles são os únicos que, assim como eu, não estão usando o pijama da escola. Apenas a garota está vestida com a camisola.
Levanto o meu queixo e lhe devolvo o olhar desafiador até que me sento ao lado de Max.
***
Mais tarde na mesma noite, após o toque de recolher, estou sem sono e sem nada para me distrair. Geralmente, estou acostumada a mexer no celular até tarde e ir dormir apenas quando está amanhecendo, mas com o toque de recolher, que acontece às 21:00, temos que entregar nossos celulares e só os receberemos quando sairmos de nossos quartos na manhã seguinte. Sinceramente, não sei o porquê disso, acho que um celular não afetaria o aprendizado de alguém.
Certo?
Desistindo da minha luta com meu edredom, me levanto da minha cama e calço minhas pantufas, fazendo o mínimo de barulho possível para não acordar Liz. Abro a porta silenciosamente e saio com passos leves para os corredores vazios e escuros da SS.
A Spring School é totalmente diferente a noite, com seus corredores vazios e luzes apagadas, apenas a luz filtrada das janelas me permitem enxergar alguma coisa no meio de tanta escuridão.
A princípio, não sei para onde ir, já que não conheço a escola direito. Meu plano basicamente é perambular pelos corredores até ficar com sono e voltar para o quarto, torcendo para não me perder e arrumar problemas logo cedo. Por mais que eu goste de chamar a atenção dos meus pais com alguns probleminhas na escola, acho que está muito cedo para fazer isso aqui, ainda não entendi como o sistema desse colégio funciona e como os meus superiores irão reagir a isso, não quero fazer algo para dar em nada. Se for para ser suspensa, quero ter certeza de que tal coisa irá acontecer.
Ando por alguns corredores e saio da torre das meninas, parando por um momento para observar a lua acima de mim. Sempre tive uma leve obsessão por ela, a todo momento tirando fotos. Eu até tinha um telescópio em meu quarto em Bilmighan, apenas para poder ver ela mais de perto.
Vejo um vulto em minha visão periférica e volto meus olhos para lá, encontrando a sombra de dois homens conversando enquanto se dirigem para a pequena lacuna que existe entre a torre do dormitório masculino e a do corpo docente. Sei que não deveria e essa provavelmente seria a deixa para mim voltar ao meu quarto antes de ser pega, mas a curiosidade fala mais alto.
Sigo atrás dos dois homens altos até que eles param de andar e eu me escondo atrás da parede do dormitório masculino. Nessa posição, não consigo ver seus rostos e a escuridão da noite não me permitiria fazer isso de qualquer forma.
— Estamos ficando sem tempo, precisamos achar alguém. E rápido — diz uma voz grave e abafada em um sussurro quase inaudível.
— Não é assim que funciona, é preciso tempo para escolhermos as vítimas com total precisão e de acordo com o que Martini quer — diz a segunda voz, também dita em um tom de voz baixo e tento chegar mais perto para ver se eu reconheço.
— Vamos só escolher qualquer um, lidamos com as consequências depois. Será melhor do que não lhe enviarmos nada. Já fazem meses que ele pediu.
— Não é como se eu pudesse fazer algo a respeito. A culpa não é minha se ele é exigente e quer que tudo seja feito da sua forma.
— Bom, não podemos fazer nada de qualquer maneira. Vamos apenas enviar algum garoto qualquer e deixar que ele lide com isso — eles voltam a andar, fazendo com que o resto da conversa se torne abafada. Tento procurá-los com os olhos, mas falho. Permaneço um tempo apoiada na parede de pedras atrás de mim antes que volte para o dormitório feminino.
Durante toda a noite, me reviro na cama apenas pensando na conversa daqueles dois homens desconhecidos e no que está por trás dela. Faço todas as suposições possíveis, mas nenhuma delas se encaixa no diálogo dos dois. Precisarei de mais tempo para entender o que isso significa. E com esse pensamento, finalmente caio no sono.
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O Alvorecer - Anonymous: Livro 1 (Ato I)
Romance⚠️ ESTE LIVRO É UM DARK ROMANCE ⚠️ Sabrina Fox sempre procurou a aprovação dos pais, e quando não a tinha, fazia tudo o que tinha ao seu alcance para chamar a atenção deles, o que resultou em uma adolescente mimada e que levava problemas para onde q...