O Alvorecer - Anonymous: Livro 1 (Ato I)

Capítulo 39 - Orion

    Meus nervos estão à flor da pele quanto observo as gravações de sábado a noite da casa de Charlie Moore, pai de Sabrina. Na gravação, ela está puxando seus cabelos enquanto anda de um lado para o outro no seu quarto. Por fim, ela se senta ao pé da cama e morder seu braço.

     Ele está atormentando a cabeça dela e, porra, fez ela se machucar.

      Sabia que tinha algo errado desde domingo, quando ela voltou da escola, mas vê-la atormentada ao ponto de se machucar diante dos meus próprios olhos é algo completamente diferente. Fecho o notebook, me lembrando de ter uma conversa séria com Charlie, e olho novamente a mensagem que Jasper mandou no nosso chat em grupo, mandando o horário da reunião que teremos.

      Encaminho a mensagem para o contato de Sabrina, dizendo para ela me encontrar no meu quarto, e sento na cama, esperando minha monstrinha chegar.

    Alguns minutos depois, ouço seus passos suaves no corredor abafados por suas pantufas antes que ela entre no quarto, usando uma de suas camisas gigantes do Slipknot.

      Percorro meu olhar pelo seu corpo, absorvendo cada detalhe de seu corpo minúsculo sendo engolido pela enorme camiseta que bate na metade das suas coxas.

        Sabrina troca o peso de um pé para o outro e cruza os braços sobre o peito, atraindo meu olhar para seus seios e meu pau endurece automaticamente. Ela limpa a garganta.

        — Nós vamos ir pra essa reunião ou não? — Pergunta ela e olho para seus olhos azuis safira. Ainda tem aquela tristeza, mas a curiosidade agora se sobressai.

      Me levanto do colchão da cama e abro as portas do meu guarda roupas, retirando o fundo falso e o apoiando na parede ao lado.

        Tudo o que eu quero é manter Sabrina longe de tudo isso, mas não há como impedi-la. Mesmo se não tivesse lhe dado minha palavra de que ela participaria de todas as nossas reuniões e ficaria a par de tudo o que acontece aqui na Spring, ela daria um jeito de descobrir.

      — Vamos — digo e gesticulo para ela me acompanhar.

        As escadas que dão para o nosso pequeno covil estão completamente escuras, mas consigo descer sem errar um degrau sequer pela quantidade de vezes que já tive que vir até aqui. Sabrina, por outro lado, apoia uma mão em meu ombro para se equilibrar e mesmo assim tropeça diversas vezes antes de chegarmos à porta que dá para nossa sala.

        Assim que entramos, somos saudados pelas conversas dos meninos. Logan, como sempre, está sentado com Matteo e os dois estão conversando com garrafas em miniatura de Jack Daniel’s em suas mãos, os dois estão tomando o whisky como se fosse água. Adrian está sentado em uma das cadeiras giratórias ao lado de Jasper e falando alguma coisa com ele enquanto o mesmo está concentrado no que está digitando na tela do computador.

        — SABRINAA — Matteo grita e se levanta da poltrona em que estava sentado assim que nota a garota de cabelos vermelhos ao meu lado. — Parece um pouco abatida. Toma um gole disso — ele diz passando um dos braços pelos ombros dela e já lhe entregando a garrafa.

       Sinto meu sangue pulsar nos meus ouvidos.

       Logan se levanta e vem ao encontro dos dois, também tentando convencer Sabrina a beber um gole do whisky, mas ela nega em todas as vezes, afirmando não gostar da bebida.

       Preciso de tudo de mim para não bater em Matteo e Logan enquanto os dois levam Sabrina para uma das poltronas e começam a conversar com ela, me lembrando repetidas vezes que os dois são meus amigos e que eu não poderia matá-los mesmo se quisesse.

       Me sento em uma das poltronas ao lado da de Sabrina, me mantendo por perto para quebrar o nariz de Matteo, caso necessário.

        — Como assim você tem uma coleção de guardanapos roubados? — Sabrina pergunta rindo, franzindo a testa com incredulidade enquanto olha para Matteo como se ele fosse louco.

     — Eu sempre roubo quando vou para qualquer lugar e tem. Logan sempre me ajuda, ele coleciona copos roubados.

     — Vocês têm problemas! — Ela afirma, rindo ainda mais alto. O som da sua risada faz as batidas do meu coração acelerarem minimamente, e teria sido bastante agradável se o motivo das suas risadas fosse eu e não os filhos da puta na minha frente.

       — Ei! É super normal — Matteo diz, ofendido. — Orion também tem uma coleção de calcinhas guardadas e ninguém fala nada sobre isso.

    — Verdade — Logan concorda. — Tem calcinhas de diversas cores lá. Eu acharia que era ele quem as estava usando se as calcinhas não fossem tão minúsculas.

   — Vocês mexeram nas minhas coisas? — Pergunto, tentando não focar no fato de que eles viram as calcinhas de Sabrina.

       — Em minha defesa, eu estava vendo se você tinha maconha escondida — Matteo diz, levantando as mãos em forma de rendição e Logan concorda com a cabeça.

     Capturo um movimento na minha visão periférica e olho para a poltrona do lado, vendo Sabrina se mexer desconfortavelmente, já se tocando de que as calcinhas que eles encontraram provavelmente são dela. Suas bochechas estão completamente vermelhas enquanto ela mexe as mãos nervosamente em seu colo.

       — Mas de quem eram as calcinhas, afinal? — Adrian entra na conversa. — Do nada Orion criou uma tara por calcinhas?

       As bochechas de Sabrina ficam ainda mais vermelhas e noto o momento exato em que os meninos se tocam de que as calcinhas, na verdade, são de Sabrina.

      — Ahhhhh — Logan e Matteo dizem ao mesmo tempo, balançando a cabeça afirmativamente quando decifram o que o vermelho nas bochechas dela significam. Adrian não se segura e cai na gargalhada enquanto Matteo e Logan ficam super desconfortáveis. Sinto minha boca se inclinar para o lado em um sorriso.

     — Bom — Jasper diz, chamando nossa atenção para ele. Ouço o suspiro aliviado de Sabrina por não ser mais o alvo da atenção —, chamei vocês aqui porque consegui descobrir o que aquela lista de nomes significa.

      Seu rosto está sério, mas seu tom de voz é algo que não consigo identificar o que significa.

        — A lista de tarefas nada mais é que uma lista das próximas vítimas que serão capturadas e vendidas na dark web e em leilões — Jasper continua. — Consegui encontrar outras listas antigas e comparei com a quantidade de pessoas desaparecidas na Spring e todas estavam batendo. A foto de cada uma dessas pessoas também estava nas pastas que Orion encontrou, todas elas foram tiradas de forma comprometedora. Tentei achar alguma notícia sobre esses alunos, mas não encontrei nada.

       O silêncio na pequena sala é palpável. Sabrina está calada pelo choque e pelo medo, enquanto eu e os meninos somos tomados por memórias de três anos atrás, de quando tínhamos 13 anos, de quando nós fomos sequestrados e quase vendidos para esse mesmo tipo de tráfico.