Capítulo 38 - Sabrina

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   Gemo baixinho ao acordar, me espreguiçando. Minha cabeça ainda dói e o aperto na minha garganta ainda está lá, como se espinhos estivessem envolvendo minha traqueia.

      Passei o dia inteiro trancada no quarto. Não saí pra almoçar nem pra jantar.

     No final da tarde, minha mãe me ligou para falar comigo. Disse que meu pai contou a ela o que aconteceu e que ela só queria o meu bem, que entendia que era tudo novo para mim, mas que ela queria que eu me desse bem nos estudos. Conversar com ela foi melhor do que conversar com meu pai, mas me senti mais mal ainda quando percebi que de alguma forma ela estava triste também.

     Na noite anterior, logo depois que terminei de tomar meu banho, meu pai me enviou uma transferência bancária. Por mais que a errada da história seja eu, ele sabe que suas palavras pesaram em mim de forma inexplicável, principalmente quando foram preferidas com tanto nojo e desgosto. E também sabe que ele não deveria falar da minha criação quando em nenhum momento da minha vida fez parte dela.

     Inspiro profundamente o cheiro de Orion em sua camisa dos Slayer que não devolvi, de alguma forma seu cheiro amadeirado ainda está impregnado nela, e me levanto para escovar meus dentes.

      Estamos na primeira semana de setembro. Já fazem três meses que me mudei pra cá, mas ainda não consegui me acostumar. Ao mesmo tempo que parece que eu vivo aqui há anos, é como se eu tivesse me mudado ontem. E as coisas aconteceram tão depressa! Faltam apenas três meses para o ano acabar e eu finalmente voltar para minha casa.

     Olho meu reflexo no espelho. A marca que Orion deixou ainda está em meu pescoço, forte como se tivesse acabado de ser feita, e passo meus dedos por cima dela, lembrando de Orion e da sensação de sua boca macia contra a minha pele.

       Balançando minha cabeça para tirar essas imagens da mente, termino de escovar meus dentes e troco de roupa, vestindo uma regata preta com shorts jeans claros. Passo um pouco de corretivo por cima do chupão antes de descer as escadas praticamente correndo e ir até a sala de jantar.   

     — Me leva de volta pra Spring — digo assim que passo pelo batente, ignorando toda a comida disposta sobre a mesa e encarando meu pai. Estou morrendo de fome mas eu me recuso a comer na presença dele.
        Ele para com o garfo a meio caminho da boca e me encara. Silver também para de comer pra me encarar.

   Intercalo o olhar entre os dois, com as sobrancelhas arqueadas.

    — Você não vai comer nada? — Minha madrasta me pergunta e olho para ela.

         — Não tô com fome — mentira.

       — Sabrina, você não comeu nada desde que chegou ontem — meu pai diz, sua voz demonstrando preocupação.

    — Ah, então agora você se importa? Não parecia que se importava até uns meses atrás — digo debochadamente com o rosto impassível.

       — Sabrina, eu sempre me importei com você. Sei que não fui presente e me arrependo por isso — ele apoia as mãos dos dois lados do prato.

       — Se arrepender não vai fazer você voltar no tempo. Eu quero voltar pra escola — digo e vejo mágoa em seus olhos antes de me virar de costas e ir esperá-lo na porta de casa.

***

      Ando pelos corredores da Spring até a sala da diretora Harriet. Max e Liz já foram para suas respectivas aulas e estou indo perguntar em qual sala irei ficar.

      Assim que cheguei na escola ontem, a primeira coisa que fiz foi comer antes de dormir o dia inteiro. Max e Liz não disseram uma palavra sequer sobre o meu desânimo e agradeci por isso. Nunca tinha ficado tão afetada com uma detenção quanto dessa vez. Pulei o jantar de ontem e o café da manhã de hoje, mas Liz levou a comida no quarto para mim.

O Alvorecer - Anonymous: Livro 1 (Ato I)Onde histórias criam vida. Descubra agora