01 | Théo

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30 de junho de 2023
Portugal - Lisboa

— Queridos alunos, chegamos ao fim de mais um ano letivo repleto de aprendizado, superação e momentos inesquecíveis. Desejo a cada um de vocês um merecido descanso e férias repletas de alegria, paz e novas descobertas. Que aproveitem este tempo para recarregar as energias e voltem no próximo ano prontos para novos desafios. Vocês são incríveis e tenho muito orgulho de cada conquista alcançada. Até breve, e que as férias sejam memoráveis.

[...]

Descalcei os  "pés" e me sentei na cama observando a escrivaninha que me fez viajar um ano atrás. Lembro do dia em que ele faleceu como se fosse ontem. Lembro de estar estudando e ver minha mãe me encarando da porta. Lembro de como foi difícil para ela encontrar as palavras certas para me fazer perceber que ele não estava mais aqui. Lembro de correr para o banheiro. Lembro do líquido que saiu da minha boca. E lembro de não saber como agir, o que fazer, e o que pensar.

Penso na última vez que me despedi dele no aeroporto. Eu sabia que ele estava indo para a África do Sul resolver assuntos de trabalho. Mas o que eu não sabia é que, antes de o avião decolar ele passou mal e teve que ser levado para o hospital.

Meses antes, ele tinha sido diagnosticado com um tumor nos rins. Quando chegou ao hospital teve que ser transferido para um hospital mais especializado — para a operação de urgência que ele fez. Ele não resistiu à cirurgia.

Quando ele descobriu o tumor, ele fez vários tratamentos para poder viver e não deixar eu e minha mãe sozinhos, os médicos garantiram que ele estava se recuperando da melhor forma. Pelo menos foi isso que pensaram até aquele dia.

Perder alguém é como caminhar em um mundo onde o silêncio da ausência grita mais alto do que qualquer palavra.

Estiquei o braço até uma gaveta da escrivaninha e tirei meu velho diário.

Dei um suspiro e abri o diário na lista dos desejos,

Bungee jumping da ponte Europabrücke em Innsbruck — Eu devia ter uns 8 anos quando escrevi isso — As letras eram mais grandes que passavam da linha e bastante desajeitadas
Beber champanhe —  peguei uma caneta e coloquei um certo no desejo
Mergulhar com tubarões — Sempre gostei do mar

Lágrimas escorriam no meu rosto enquanto lia os demais desejos, é estranho como é a mente de uma criança. 

Levei uma caneta ao lado e comecei a escrever,

Oi pai, depois de um ano sem você estou aqui expressando os meus sentimentos da melhor formaescrevendo . Há dois meses, o meu aniversário de dezesseis anos tão esperado por nós chegou. Lembra o que havíamos planejado para quando eu fizesse dezesseis? Iríamos viajar para vários lugares do mundo e faríamos tudo que está na lista de desejos. Pai você sempre disse que eu não devia ter medo de nada e de ninguém, sempre disse que a coragem é viver sem medo do que está por vir, mas eu não sou corajoso o suficiente para viver sem medo. Eu tenho medo, eu tenho medo de ser quem sou, pai, EU SOU GAY.



D

epois de tomar banho, fui até a cozinha fazer algo para comer. Assistia O Incrível Mundo de Gumball quando meu telefone começou a vibrar.

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