Cap 4 - Sinto falta de ser desempregado

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 Por mais que não siga nenhuma religião, algum louvado me ouviu.
 Vou ter que trabalhar na espelunca do meu bairro que o dono tem coragem de chamar de Supermercado.
 Após segunda-feira, terei apenas o domingo para ficar perto do meu amorzinho Rae--- Quer dizer, para descansar.
 São fodendo 19:00h e a porra da banda do merda do Lucca está ensaiando, agora eu entendi porque Rael disse que ele é um pouco barulhento, sua banda não tem senso nenhum de que ELES FAZEM BARULHO E O ISOLAMENTO NÃO É SUFICIENTE. Eu me incomodo, mas Rael parece gostar.
 Ontem foi bem tranquilo, mas depois disso, se não for alguma música estralando, é a guitarra de Rael ou a porcaria da Experimento22.
 Percebi que me arrependi, a não ser por Rael, ele é divertido e cheiros--- Gente boa. Alguns dos ruídos que ele chama de música são até agradáveis e ver ele rosnando pela casa é fofo.............. caralho o que eu tô falando?

 21:00h e a galera emo está indo para casa.
 - Já vão? Acabou cedo hoje. - Rael disse simpático para o baixista magrelo (agora eu sei que não é uma guitarra, Rael me explicou).
 Cedo?? Quer dizer que em dias normais eles ficam mais? Eu vou ficar louco.
 - Pô Rael, a gente sabe que não vai passar das oitavas. - ele deu de ombros. - vamos ficar sem dinheiro para lançar o álbum, então nem tem porque ensaiar muito.
 Rael fez uma cara triste parecendo um cachorrinho filhote.
 - Vocês vão parar de tocar? - ele parecia magoado.
 - Geral tá perdendo o tesão - Lucca respondeu.
 - E o Jo tá precisando de grana, provavelmente vai vender a batera. - repondeu o baixista.
 - Posso ajudar de alguma forma? - ele olhou para Lucca.
 - De novo essa hitória? Já disse que não. - Lucca parecia um pouco ofendido.
 O baixista fez uma careta.
 - Ah, eu já vou. - Ele se despediu educadamente e foi embora.

 - Já falei que não preciso do dinheiro da sua mãe.
 - Você tá morando na casa que comprei com o dinheiro dela. - Rael parecia magoado e confuso.
 Lucca suspirou estressado e me olhou de relance.
 - Você tem que parar com isso, você não é uma irmã de caridade. Fica adotando gente que tá tentando fugir da família.
 Rael trincou os dentes e fechou as mãos com força. Me perdi.
 - Você é um puta ingrato.
 - Você me magoa bastante sabia?
 - O que eu te fiz?
 - Ah, cara, você tenta fazer caridade aí porque faz um monte de merda e tenta compensar, né?
 Eu estava fazendo parte de um cenário que não devia estar, eles sempre eram assim?
 Rael olhou para mim depois olhou pro chão.
 Lucca passou a mão pelo rosto, estava estressado. Eu não entedia bem, o que o Rael fazia de tão mal que devia compensar?
 - Olha - Lucca continuou - ao menos seja sincero, você sempre foi, não sei o que está dando em você? É culpa da batalha?
 Rael foi até a mesa da cozinha e se sentou, pegou o celular e não respondeu.
 - Ah, entendi. - Ele fez uma careta, depois veio para perto de mim e falou comigo na intensão de ser particular - Não deixa ele sozinho, tá? - e ele foi para o quarto.
 Dei um suspiro preocupado e me sentei ao lado dele na mesa hesitante.
Ficamos em silêncio, eu estava me segurando para não sair de perto dele, sua aura queria me expulsar.
- Eu e Lucca não namoramos de verdade. - olhei para ele confuso e ele suspirou - a gente se trata como, mas não... Temos uma relação física... Ah - ele suspirou - é confuso até para nós dois, ele fica magoado com isso, mas eu não consigo. Ele é hétero e isso me fere um pouquinho quando lembro, então preciso de um tempo.
- Se ele fosse hétero ele não iria querer ser considerado seu namorado... - eu disse sem pensar.
 Ele me olhou sorrindo e riu.
- Eu sempre quis ouvir isso. - ele disse baixo olhando para a mesa.
 Ele se levantou e beijou o topo da minha cabeça.
- Vou ir dormir. Boa noite! - ele sorriu para mim, parecia genuinamente feliz.
 Eu sentia um calor vindo do meu peito.

 Sexta foi o melhor dia da minha semana.
 O ensaio da Marias Hunter foi às 17:00, a maioria dos membros eram ex colegas de Rael e eram divertidos. Eu assisti ao ensaio no "estúdio", pude conhecer as novas músicas antes de todos.
 A cada coisa que descobria sobre Rael eu me deslumbrava mais com sua personalidade, ele era o compositor principal das letras e das linhas de guitarra da banda.
Está muito cedo para dizer que estou apaixonado?

 Sábado acabei acordando cedo de mais, Rael sempre acordava cedo, e dessa vez vi ele fazendo o café. A garrafa cheia acompanhava a rotina dele o dia inteiro independente do que ele fazia.
 - Bom dia. - Ele sussurrou para mim sorrindo. - Não vamos acordar o Luquinha.
 Eu sorri. Eles tinham carinho um pelo outro, mas isso é realmente estranho, namorados que não agem como namorados, uma situação bem diferente do típico "agem como namorados, mas não estão namorando".
 Se eu me confessasse para ele qual seria a sua reação?
 Seria por isso que ele gosta tanto de dar atenção para as garotas?
 Ele tenta compensar a incapacidade de ter relações físicas com seu namorado com qualquer fã minimamente bonita que ele encontra nos shows? Acho que agora eu entendo o Lucca um pouco, Rael é um pouco egoísta...
 - Quer? - ele me perguntou com uma xícara na mão e eu aceitei. Ele se sentou ao meu lado e me entregou-a. - A gente não costuma brigar, acho que... não se sinta mal, ok? Você vir para cá afetou ele um pouquinho.
 - Não quero ser um empecilho na vida de vocês... - ele me interrompeu.
 - Olha o jeito que você fala - ele riu baixo - "𝘦𝘮𝘱𝘦𝘤𝘪𝘭𝘩𝘰" parece que está escrevendo uma redação.
 Eu corei e olhei para baixo.
 - Ei, não fica chateado. E, não, você não é um empecilho - ele riu um pouquinho novamente.
 Eu me sentia baixinho enquanto ele acariciava meu ombro em um meio abraço tentando me consolar, e eram só 5 cm de diferença.
 Continuamos conversando um pouco até que Lucca acordou com o cabelo bagunçado e correu pela casa toda se aprontando para ir trabalhar. Quando ele estava prestes a sair ele segurou Lucca no pulso, o mais alto ficou em choque e parecia só um gatinho amuado perto de Rael olhando para ele.
 - Cadê o meu beijo? - Rael perguntou com a voz manhosa, fiquei com vergonha e virei a cara para não ver a cena, não resisti e continuei observando.
 - Não precisa fazer isso... - ele olhou por cima do ombro de Rael me olhando, depois para Rael de novo. - tem certeza?
 - Você é homem ou não é? Tá com medo? - ele brincou.
 Lucca sorriu e eles trocaram um selinho. Eu senti ciúme pela primeira vez em toda a minha vida.

̶T̶r̶i̶â̶n̶g̶u̶l̶o̶   não, Y! Y amorosoOnde histórias criam vida. Descubra agora