Capítulo 2 | meu mentor veio de uma festa havaiana

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Os deuses são bons.

Os deuses são bons? Risque isso.

Peço perdão pela confusão, mas estou cancelando meu pensamento anterior. O mais correto seria dizer que os deuses são patifes sanguinários, mas vou me contentar dizendo que eles são complicados, mas benevolentes.

Somos levados sob custódia até uma espécie de sala de espera na estação de trem que irá nos transportar até o Monte Olimpo. Tipo, no pico do monte mesmo, onde os deuses residem em todo seu esplendor. O trem já está nos aguardando, mas Zeus concedeu a nós, tributos, um último vislumbre de nossos familiares. Complicados, mas benevolentes.

— Cinco minutos — a voz monótona de um Pacificador anuncia antes que cerca de duas dúzias de pessoas irrompam pela portinha da sala, desesperadas para se despedir de seus filhos, irmãos ou amigos.

— Percy! — Os braços de minha mãe me envolvem num abraço apertado.

Grover me dá tapinhas nas costas.

— Já estão com saudades? — Eu tento brincar para amenizar suas dores. Talvez não tenha sido a melhor piada do mundo, já que Tyson começa a soluçar.

É bem difícil para Tyson lidar com as lágrimas, porque o fato de ele ter somente um olho faz com que sua visão fique praticamente obstruída por completo.

— Ei, Tyson... Desse jeito os outros semideuses vão achar que eu não tenho chance alguma. — Eu agacho para ficar na mesma altura que ele, e o ajudo a secar o olho lacrimejante.

— Eu tenho um presente para você. — Tyson começa a tatear os bolsos da calça, mas suas mãos estão trêmulas e desajeitadas.

Quando ele enfim agarra o presente com seus dedinhos gorduchos, sou eu que quero chorar. Tyson me estende um broche feito de ouro, um trabalho delicado e deslumbrante, que tem como símbolo um pégaso destemido em posse de um enorme tridente. O ouro reluz conforme eu o movimento em meus dedos.

— É maravilhoso, Ty. O melhor presente que eu poderia querer. — Prendo o broche na camisa branca, cujo contraste parece torná-lo ainda mais belo. — Já me sinto um vitorioso.

— Você promete? — Ele logo emenda. — Promete que vai tentar vencer? Tentar até não dar mais?

Pergunta perigosa. Promessa perigosa.

Mas sim, por Tyson eu tentaria vencer até que meus ossos esfarelassem sob os coturnos gigantescos de Thalia Grace.

— Prometo, irmão. Prometo tentar até não dar mais.

— Ótimo, vamos precisar da recompensa para pagar pelo broche.

— Como assim?

— Eu prometi para o vendedor que acertaríamos a conta assim que você retornasse com a grana.

A situação toda me arranca um riso sincero. Talvez eu esteja enlouquecendo, sei lá. Quando me dou conta, minha bochecha está doendo com o esforço de segurar as gargalhadas que querem escapar, e os demais semideuses estão me encarando com desgosto evidente.

— Você sabe que pode fazer isso, Percy — Grover tenta retomar o meu foco naquilo que importa: a matança iminente. — Você é ótimo em esgrima, seus reflexos e sentidos são impecáveis. Há uma chance real de tornar-se vitorioso.

— Eu treinava para atacar monstros, cara.

Todos os semideuses passam a vida aprimorando as próprias habilidades tendo em vista um único objetivo: sobrevivência. Contudo, os filhos dos deuses que são representados nos Jogos Olimpianos treinam o triplo do restante de nós. Eles treinam não somente pela sobrevivência, mas pela glória e pelo espetáculo. Entregam suas vidas sabendo que também precisam entregar um show.

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