Capítulo 8 | eu decido matar minha adversária, figurativamente falando

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Primeiro, as câmeras dão um zoom dramático no olhar melancólico de Annabeth Chase.

A plateia suspira, indignada com a tamanha falta de sorte da filha de Atena. Depois, as câmeras me procuram freneticamente entre os demais tributos, estabilizando somente quando transmitem minha expressão perplexa para a audiência.

Observo a mim mesmo nas telas que estão espalhadas ao nosso redor. Minha boca pende, aberta pateticamente, mas eu não consigo me obrigar a fechá-la. Sinto como se o meu cérebro tivesse se transformado numa enorme gelatina inútil. Se eu pudesse nomear um sabor para essa meleca que substituiu o meu cérebro, certamente seria "abobalhado e humilhado".

Conforme minha alma aturdida retorna ao corpo, sinto raiva. Annabeth falou sobre mim! Ela teve a audácia de fingir estar apaixonada por mim!

— Ah, puxa! — Apolo parece honestamente desestabilizado, mas também entretido.

— Sim — ela concorda. — Eu não poderia imaginar sofrimento maior.

— Bem — o deus do Sol tenta aliviar o clima pesado. — É difícil não se apaixonar pelo garoto em tormenta, hein? Acredito que qualquer um de nós poderíamos nos encontrar fadados à esse destino cruel.

Escuto Clarisse bufando, mesmo estando alguns assentos à distância.

A plateia aplaude a tributo de Hera uma última vez, e Apolo encerra com um sorriso estonteante as entrevistas da noite.

Meus pensamentos estão frenéticos, desordenados e opressivos. Qual é a estratégia de Annabeth? Com certeza ela tem alguma estratégia, sendo filha de Atena. O que ela e Dionísio combinaram? Por que essa fixação comigo? Ela espera me usar durante os jogos?

Quando percebo, já fomos escoltados novamente para o Acampamento Meio-Sangue. Cada tributo está sendo acompanhado por seu mentor em direção aos seus respectivos chalés. Ao longe, identifico Annabeth sendo guiada por Dédalo.

— Pobre garota — Dionísio resmunga ao meu lado, dando-se conta de que estou a observando. — Apaixonar-se nos Jogos Olimpianos é uma sentença de morte definitiva.

— Você não pode acreditar realmente nisso — o acuso.

— Até Afrodite acreditou — ele dá de ombros. — Recebi um áudio dela aos prantos ameaçando me transformar numa pomba caso eu não o induzisse a retribuir o amor da jovem filha de Atena.

— Isso é ridículo — esbravejo.

— Não mais ridículo do que sua teimosia o tornando obtuso. Está nos olhos dela, garoto. Estampando o tempo todo, para que todos vejam. Ela sequer consegue disfarçar.

— Estampado para enganar a todos então — rebato. — Ao que parece, com sucesso.

Dionísio invoca uma taça de vinho. Meu mentor bebe um gole generoso, antes de apontar o dedo na minha cara e dizer:

— Eu desisto de você, rapazinho. Se você quer fazer desfeita dos conselhos de um cara imortal, então que faça sozinho.

Seus olhos transmitem uma tristeza inconcebível. Por um momento, penso que ele é sincero em suas palavras. Penso que ele acredita honestamente na paixão de Annabeth por mim, e que se compadece por ela — por nós.

Então, minha mente remonta a cena que flagrei na floresta. A conversa misteriosa e a promessa ainda desconhecida de meu mentor. Lembro da fotografia que carrego comigo, sempre. Ela queima no bolso do meu terno, como se pressentisse que direcionei meus pensamentos à ela. Desconfio de tudo e de todos.

Encaro Annabeth mais uma vez.

Nossos olhares se encontram. Ela parece ansiosa. Assustada, até, como se já antecipasse minha reação à declaração que realizou publicamente há pouco. Que se dane, penso. Se ela quer jogar, então que seja. Se ela é tão sabidinha ao ponto de prever minha reação, então que ela lide com a minha fúria.

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