Capítulo 17 | somos convidados para um banquete

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É quase profano retornarmos à clareira onde, até recentemente, nos escondíamos da realidade, acreditando que podíamos ser felizes, nós três.

Mas agora, já não somos mais três.

Onde antes havia uma fagulha de felicidade e a ilusão de que poderíamos conquistar o mundo, agora há um vazio que separa a mim e a Annabeth, corroendo lentamente o que restou de nós, até não sobrar nada além da escuridão.

Eu me sinto sujo. Vazio. Inútil.

Quero arrancar essa sujeira da minha pele com as próprias unhas, não importa se isso me dilacera, se estou sangrando.

— Percy... — a voz de Annabeth rompe o silêncio, horrorizada. — Pare!

Só então percebo que estou, de fato, arranhando meus braços freneticamente. A dor parece me ancorar na realidade, lembrando-me de que ainda estou vivo, mesmo que todos ao meu redor continuem morrendo.

De repente, as lágrimas começam a brotar dos meus olhos, embora eu não me lembre de tê-las convidado para esta festa fúnebre.

Eu não quero parecer fraco. Penso nos patrocinadores, e em como, agora, eles são mais importantes do que nunca. O apoio dos telespectadores e dos ricaços do Olimpo costuma ser decisivo na reta final dos jogos. Mas as lágrimas continuam a cair, e não demora até que eu esteja soluçando, desolado.

Meu corpo treme com o luto que, finalmente, permito tomar conta de mim. Penso no rosto delicado de Bianca, agora eternamente petrificado. Penso em Nico, o irmão sobre o qual ela contava tantas histórias, e em como ele deve estar se sentindo solitário e devastado.

Sinto o abraço de Annabeth, carinhoso e acolhedor. Sinto também sua dor. Bianca pode não ter sido tão importante para Annabeth quanto foi para mim, mas é impossível não se comover com a perda de uma garota tão jovem e tão doce.

Não sei quanto tempo se passa até que nos separemos, exceto pelo sol, que lentamente se transforma em estrelas piscando entre as copas das árvores da floresta.

Meus olhos estão inchados, e eu me sinto fraco, como se tivesse sido espancado por uma dúzia de Clarisses furiosas.

Annabeth parece igualmente exausta, talvez até mais. Finalmente, percebo uma expressão dolorida em seu rosto que não está relacionada ao luto. Ela está sofrendo. Noto também como ela tenta, de forma quase casual, esconder uma das mãos atrás das costas.

— Deixe-me ver — exijo, sem rodeios, certo de que ela sabe a que me refiro.

— Não é nada — ela protesta.

Annabeth tenta se levantar para se afastar de mim, mas meu reflexo é mais rápido, e eu a seguro pela cintura.

Quando puxo seu braço para ver o ferimento que ela está tentando esconder, ela geme de dor, incapaz de manter a farsa de que está bem.

Seu pulso está inchado e arroxeado, exatamente onde eu a golpeei para me livrar de seus ataques. Sinto meu sangue ferver de raiva—raiva de mim mesmo, da situação, dos jogos, de Zeus.

Contudo, sei que preciso direcionar minha raiva onde ela for mais útil. Restamos apenas nós dois e Clarisse. Se eu conseguir eliminar nossa oponente, então...

Pensar no "depois" é difícil. A perspectiva de fechar os olhos e jamais abri-los outra vez é torturante. Nunca mais sentir o abraço da minha mãe ou bagunçar o cabelo castanho de Tyson...

Respiro fundo, tentando controlar a onda de sentimentos que me atinge de uma só vez.

— Desculpe, Annie — suspiro, exausto. — Eu não quis te machucar.

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⏰ Última atualização: Sep 04 ⏰

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