Capítulo 8

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Marcos chega bem tarde em casa. Está com a camisa afrouxada no pescoço, as mangas dobradas até o cotovelo, com ar de cansado e parece ter bebido.
Ao mesmo tempo que tenho misericórdia, também sinto raiva. Tinha planejado conversar com ele sobre tudo isso. Hoje é sexta-feira, estaremos em casa amanhã, então penso que podemos conversar bastante. Mas terei que esperar até amanhã, pois hoje, definitivamente, não conseguiremos conversar. Ele está alterado.
Quando ele sai do banho eu já estou deitada. Pergunto se ele quer jantar, ele balança a cabeça de forma negativa. Quando me levanto pra ir à cozinha guardar a comida, ele me pega pelo braço, me faz voltar, afunda o seu rosto no meu pescoço dizendo que está louco de saudades, apertando meu seio e a minha bunda.
—Gostosa pra caralho!
—Para, Marcos! Você bebeu e eu não quero transar.
—Duvido que você não queira transar. Você gosta de dar e muito.
—Que grosseria! Me solta!
—Por que você não quer? Está dando pra outro?  —Raiva me consome. Estou puta da vida!
—Como é que é?! —E só ouço o estalo da minha mão no rosto dele. —Eu poderia estar dando pra outro, mas, ainda, por respeito a você, não estou dando. Você falou bem: eu gosto muito de dar. E gosto de gozar também, mas ultimamente seu egoísmo está maior do que seu pau. —Pego o seu travesseiro, uma coberta e entrego a ele.  —Você vai dormir no sofá hoje.
—Lisa, eu vou dormir na minha cama!
—Não vai não! Amanhã conversaremos. Boa noite! — Passo por ele pra ir à cozinha, fervendo de ódio.  Guardo tudo e o encontro na porta do quarto.
—Você me deu um tapa no rosto!
—Você me ofendeu! —Empurro-o para que entenda que é preciso sair do quarto. Tranco a porta e fervo de raiva, de mim mesma. Culpa me consome. Olho pra trás e vejo uma mulher romântica que casou pra viver uma vida perfeita, com marido e filhos. Mas os anos passaram e parece que isto não está sendo o suficiente. Parece que tudo está se resumindo a orgasmos. Como posso trocar tudo isso, toda vida por orgasmos negados? Meu Deus! É tão difícil pensar, parece até vergonhoso.
A verdade é que não são somente sobre orgasmos negados. É o egoísmo, o machismo, eu tendo que servir ao Marcos como uma mulher habilidosa em casa e estar disponível para o sexo quando ele quiser. Isso é casamento? O que eu estou fazendo? Conhecendo pessoas virtualmente e transando com elas? Minha vida está uma bagunça, Marcos está certo em dizer que estou dando pra outro.
Será que o certo seria eu aceitar o machismo do meu marido, transar com ele mesmo insatisfeita e acreditar que tudo vai ficar bem?


Acordo num mau humor diabólico. Doida pra mandar todos pro inferno. Tomo um banho e me preparo para o café da manhã. As meninas acordam um pouco mais tarde hoje, provavelmente não viram o pai dormindo no sofá.
Quando saio do quarto, vejo Marcos sentado com os cotovelos nos joelhos e as mãos na cabeça e, quando a levanta, vejo em seus olhos muito mau humor também. Isso não vai dar certo!
—Vamos conversar agora! —O seu jeito autoritário me dá mais raiva ainda. Mas, pra eu não me aborrecer antes do café, o ignoro. —Lisa, temos que conversar!
—Agora não! Preciso de cafeína.
—Tudo bem. —Suspira alto. —Vou tomar um banho e depois então conversamos.
—Se eu quiser conversar, sim, depois conversamos. — Ah, vai pra puta que o pariu! Quis conversar esse tempo todo e ele quem não quis.
Quando estou à mesa, tomando café, comendo e tentando controlar a puta mal-humorada dentro de mim é que Marcos retorna e senta-se à mesa também. Também está chateado. Será que pelo tapa que levou? Será que isso está mexendo com o seu ego a esse ponto? A resposta é: sim, está!
—Lisa, a gente...
—Agora não.  Estou comendo. As meninas vão acordar. Não vou discutir com você na frente delas. Se quer conversar vamos para o quarto. E outra: conversar. Eu não estou a fim de gritar nem brigar.
—Você está muito exigente.
—Pois é, Marcos.  Sabe qual foi o meu grande erro?
—Hum?
—Não ter sido exigente antes. Fui omissa em muitas situações. É isso que estou querendo reparar.
No quarto, a tensão nos consome. Ele com raiva do tapa que levou. Eu com raiva da negligência deste homem.
—Lisa, há algumas coisas que precisamos resolver.
—Sim... Algumas coisas? Há muitas coisas que precisamos resolver!
—Ontem você me deu um tapa no rosto, porra! Sabe o que dá vontade de fazer? Eu não sei se eu tenho vontade de te esganar ou de te foder com força até você gritar.
—Desde que eu goze, está tudo bem.
—Tá vendo como você é? Você só pensa em sexo e em gozar, eu estou com a cabeça a mil...
—Marcos, olha só, se você vai se colocar como coitado e me colocar como a puta que só quer sexo e gozar, então esta conversa não nos levará a lugar algum. Estamos há meses discutindo sobre isso. Agora, se você quiser começar pela essência do nosso desentendimento, vai ser produtivo para nós dois.
A cara dele! Eu fico perplexa em ver que, pela cara, ele não dá a mínima. Ou, se dá, é para beneficiá-lo. Estou a cada dia mais enxergando o egoísta que ele é.
—Pois bem, Lisa. Então eu vou começar...
—Ah, claro! —Filho da puta!
—O que está acontecendo com você? Você não quer mais transar, está intransigente, me deu um tapa no rosto! Só de lembrar eu fico puto da vida.
—Eu vou lhe dizer o que se passa comigo! Quero muito transar, mas não quero ser o depósito particular de esperma...
—Lisa, sem baixar o nível!
—Não estou fazendo isso. Estou dizendo que transar é bom quando damos e temos prazer. Eu tenho, mas não chego ao final porque você não me espera mais, Marcos. Faz muito tempo que eu não gozo, você não me espera mais. Aconteceu uma, duas, três vezes, e eu achei que era por conta do seu cansaço, estresse e eu entendi... compreendi por muito tempo até que você me esqueceu.
—Não é bem assim... realmente tenho estado cansado...
—Eu não mereço isso, Marcos. Eu dou o melhor a vocês três. Dou uma rotina impecável, metódica, pra que vocês não tenham falta de nada...e sou retribuída com o quê? Com o seu cansaço? Com o resto de você?
—Lisa...
—Deixa eu falar, por favor, Marcos. Estou cansada também. Estou cansada de ter marido e me masturbar pra poder gozar. —É claro que omiti a parte virtual do assunto. —Eu, hoje, consigo ver o seu egoísmo, a maneira como você quer só pra você as coisas e isso não é justo comigo.
—Lisa, eu te procuro... Estou louco pra transar com você. Estamos discutindo aqui, mas meu pau está duro só de pensar...
—Chega, Marcos. Você não assimilou a conversa. É algo sério e você ainda não entendeu a gravidade da situação. Não é sobre sexo. É sobre a maneira como você lê as coisas. Não é sobre penetração. É sobre troca de prazer. Você fica com raiva porque te dei um tapa no rosto, você insinuou que eu posso estar dando pra outro homem e...  —Ele me interrompe com mais um “Lisa" e eu levanto a mão pra continuar. O que eu sei é que não chegaremos a lugar algum, pois ele não vai ceder, ele simplesmente não entende.  —Eu não estou com raiva, não por isso. A minha mágoa é de muito tempo. Eu falo, tento me fazer entender, mas você enxerga só a si mesmo. É melhor parar por aqui, Marcos. Podemos nos machucar com as palavras.
—Amor, eu tenho saudades de você... —Ele me abraça, eu o abraço, pois também tenho saudades de quem éramos. —Saudade do teu cheiro, do teu beijo...
—Eu também, Marcos. Mas você precisa saber disso. Eu só quero nossa vida sexual de antes. Só quero o marido que me levava pra sair, que passeava conosco em um programa familiar. —Me permiti chorar, porque a carência é enorme, a culpa do erro, o prazer sempre interrompido. Uma mistura de tudo.
—Não chora, amor. Vamos dar um jeito nisso. Vem cá. —Me levou pra cama, me beijou, massageou meus cabelos, me deu um beijo carinhoso, que logo se tornou apaixonado... Beijou meu pescoço, passou a mão pelo meu corpo e eu senti que era saudade e fome. Eu também estava com fome, eu também estava carente.
E, enquanto Marcos beijava o meu corpo, eu brigava comigo mesma, entre dizer não e me entregar.
E eu me entreguei sem culpa, sem medo. Houve momentos que, sim, eu me culpava por ter virtualmente me envolvido com todos aqueles homens que alimentaram o prazer de sexo, mas não a carência emocional. Tive culpa porque despertei interesse no Eduardo. Mas tudo isso foi apagado quando Marcos retirou a minha calcinha e chupou com força o meu clitóris, quando, com a língua, fez movimentos de vaivém na minha abertura enquanto apertava meus seios.
Eu já não ouvia mais a voz da minha consciência julgando meus atos, mas os meus gemidos, a minha própria voz em puro êxtase.
Foi quando Marcos entrou em mim... Poderia ter continuado com o sexo oral, eu estava chegando a ficar mais confortável. Mas ele começou a bombar, cada vez mais forte, fechou os olhos e foi aí que eu vi que ele não estava ali por nós, mas por ele mesmo. E fechei os olhos também porque tive medo de ver essa verdade tão forte e tão esmagadora, assim, na minha cara, e sair da minha cama destruída.
Marcos só parou quando seu corpo se saciou e, quando abriu os olhos, se deparou comigo, de olhos fechados também, com lágrimas escorrendo pelas laterais do meu rosto. Então, ele também entendeu.
—Lisa, você gozou? —Eu balancei a cabeça negativamente e sem poder falar pra não chorar mais do que era exposta pelas lágrimas. —Fala comigo, amor. Estava tão bom que eu...
—Não termina, por favor. A humilhação já é grande aqui. Não é preciso explicação. —Marcos rolou para o lado com as mãos na cabeça. O que ele iria dizer? Que ele se deixou levar? Entre uma boneca inflável e eu não haveria muita diferença porque ele queria meter? Será que haveria algo diferente no discurso ou eu já posso me chamar de burra por ter cedido?
Me levantei, fui até o banheiro, tomei banho pra arrancar todo o momento da minha pele e me lembrar que as esposas precisam se valorizar também.
Quando saí do banheiro, já havia colocado a máscara da imparcialidade, como se nada houvesse me abalado e fui escolher uma roupa leve para vestir.





Olá! Tudo bem?
Só pra lembrar que este livro está totalmente disponível na Amazon e terá continuação,  que já está no forninho, quase saindo.

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