O Eco

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Antes do céu ser céu e da terra ser terra, existia algo. O nada, o Vazio. Era o lugar onde ficavam todos os anjos quando morriam. Sem luz e sem a ausência dela. Apenas o som de sua própria mente silenciosa. No vazio, os anjos dormem. Não queira saber o que pode acontecer quando um anjo desperta no Vazio. Uma camada acima, existe o Eco. O local é o que seria o vazio porém, suportável para humanos. Quando humanos morrem, o Eco consiste em repetir incessantemente suas melhores memórias em curto prazo, mas em um ciclo constante e infinito. Mais um pouco acima, existe o Véu. Estar entre a vida e a morte deixava qualquer  humano, ser divino ou demônio em completo silêncio. Sem noção de dias, minutos ou segundos. Ao final, tudo era parecido. Mas a última camada, a que ficava acima de todas elas, era diferente das três. Nada era tão radiante quanto a Vida propriamente dita. Não havia prazer maior entre todas estas camadas maior do que estar vivo. Poder sentir um cheiro, poder tocar um objeto ou abraçar seu melhor amigo que um dia se tornaria o amor de sua vida.
Todos os anjos tinham acesso à todas essas camadas. Mas depois do céu se corromper pela segunda vez, os únicos que poderiam acessar o Eco seriam os Filhos da Luz. Quando um Nephilim filho de arcanjo está sendo gerado, coisas cósmicas acontecem. Catástrofes, migração animal ou qualquer tipo de praga bíblica. Dessa vez, a única catástrofe que acontecera foi a quantidade de anjos corrompidos. Haveria redenção para tanto pecado? Ainda não se sabia mas o que Dean, Castiel e Sam sabiam era o que Kline e Cassie diziam diante de Bobby e Charlie:

- Eu juro Dean... – Jack olhou para o mais velho enquanto apontava para Charlie. – Era como se eu pudesse encontrar cada mente presa naquele lugar... Cada pedacinho de cada alma presa naquela coisa tão repetitiva.
Bobby abria seu pequeno cantil enquanto ouvia-los falar.
- Eu escutei você me chamar... – Charlie sorriu. – E eu não tive muito tempo pra pensar. Só senti como se eu me desprendesse das minhas memórias constantes. – Não é ruim estar aqui... Mas é...
- Insano? – Sam sorriu. – É, pode apostar!
- O que vocês querem dizer? – Bobby rangeu os dentes. – Que essa garota com síndrome de peter-pan me trouxe de volta à vida?
- Ela não é tão ruim assim... – Dean respondeu e foi o suficiente para começar um burburinho confuso entre vozes que mal se entendiam.
- Tão ruim? – Cassie encarou o mais velho. – Eu trago o seu papai de volta e você diz que "eu não sou tão ruim assim"? – Cassie escutou um estralar de vidro e respirou fundo ao se concentrar no controle do seu poder.– Certo... Tire suas próprias conclusões.
- A garota é rebelde... – Bobby fechou o cantil enquanto conversava com Charlie.
- O próprio reflexo do Dean... – A ruiva mais velha cruzou os braços e se encostou na pilastra do meio do Bunker.
Ninguém se mantinha calado além dos dois ressucitados. Sam tentava amenizar a confusão mas não parecia adiantar. Jack viu o olhar angustiado do mais alto e se afastou da confusão, Castiel também se afastou enquanto Cassie e Dean não se davam conta de que apenas os dois continuavam discutindo.
- Acabaram com o Show? – Bobby resmungou.

Após se acalmarem, Cassie e Jack começaram novamente a falar sobre como foi trazê-los de volta.

- Você estava numa cabana... – Cassie apontou para Bobby e continuou. – Mas antes de eu chegar aonde você estava, eu estava em um lugar sombrio. Sem forma... Não tinha nada ali. E parecia tão íntimo... Tão meu.
- Eu tive essa mesma sensação quando cheguei lá... – Jack prosseguiu. – E ai eu chamei por ela... Disse seu nome. "Charlie Bradbury". E quando eu disse isso, eu vi suas memórias passarem tão rápido. Eram muitas. Mas era rápido.
- O Eco! – Castiel concluiu.
- O que? – Sam franziu o rosto.
- O que você tá Dizendo? Resolveu falar em código? – Dean revirou os olhos.
- Bem... – Castiel continuou. – É onde ficam os humanos. É... "um Vazio para humanos".
Acredite, você não iria suportar estar no Vazio absoluto.
- Sei... – Dean arfou. – E o que está acontecendo?
- Ninguém alem de humanos acessam o Eco desde que os anjos se corromperam.– Castiel respondeu. – O Jack é meio humano, mas a Cassie não. Eles são "impuros demais para tocar o céu e puros demais para morarem no inferno."
- Isso foi uma ofensa. – Cassie revirou os olhos.
- Realmente... Do jeito que fala parece o Anticristo...– Bobby respondeu. – Eu não sei porque ela me trouxe de volta.-Disse olhando para a ruiva mais nova. - O que sei é que essa garota invadiu minha memória. Eu estava na minha maldita cabana, bebendo minha cerveja favorita. E agora não faço ideia de porque eu estou aqui... Sério, pessoal? – continuou. – Vocês sempre me trazem de volta para limpar a bagunça.
- Bagunça? – Dean questionou.
- O que o bobby quer dizer é... – Castiel respirou fundo e tirou as mãos do bolso esfregando uma à outra. – Se o Jack e a Cassie estão acessando um local não permitido, mesmo que na melhor das intenções, mesmo que não deseje o mal...
- Estamos caminhando para um apocalipse. - Bobby concluiu. - Eu não sei porque você precisa enrolar tanto para falar algo. Ficar enxugando gelo é sua cara não é Castiel?
-Acho que estamos ferrados... - Charlie afirmou.
-Ferrados? - Sam arregalou os olhos. - Dessa vez não faço ideia de por onde começar.

Novamente um burburinho começou na sala. Dessa vez, o barulho foi interrompido por Dean após ouvir do irmão mais novo  o que talvez fosse verdade: " Ja pensaram na possibilidade de que a aproximação dos dois Nephilins tenha gerado isso". Pela primeira vez, depois de anos, Dean enxergou alguém com outros olhos. Com esperança. Era o que Cassie era pra Dean. A esperança, a pureza... Algo que lhe foi privado quando criança estivesse em sua vida, mesmo que não diretamente, mas ainda assim tão perto. Dean gostava da visão que tinha da pequena Nephilim.
- Tá legal... – Respirou fundo. – Isso não é o tipo de coisa que eu faço, mas não. Não vamos abandonar essas crianças. Talvez isso ferre com tudo. Nem sabemos o que fazer. Isso é horrível. A droga de um efeito borboleta que você tenta evitar o mal e ele acontece pior do que imaginávamos. E não... – Dean olhou para Cassie e Jack. – Não estou fazendo isso por medo... Estou fazendo isso porque somos família, e família não está no sangue. Nunca esteve... Está na alma, se é que tenha alma. Mas sempre cuidamos um do outro e na boa, que venha o apocalipse, talvez ver o mundo acabar quando você finalmente sente que tem um lar e é um lar não seja tão ruim assim. Mas se a gente puder deter, a gente vai. Todo mundo junto, pronto e acabou!

Filhos da luz | Volume um - CONCLUÍDA- Aguardando revisão Onde histórias criam vida. Descubra agora