O jardim

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Jack e a garota sentaram nos degraus da entrada do chalé. O verde ao redor da casa destacava a intensidade do laranja pastel que coloria o que Jack Kline passaria a chamar de lar. Algumas plantas se agarravam pelas estacas de madeira que cercava um pequeno jardim à sua frente. A ruiva observava cada milímetro a sua volta, fazendo questão de comentar cada detalhe  enquanto o garoto permanecia focado no canto dos pássaros e no bater de suas pequenas asas.

A garota parecia impressionada e admirava o que o mundo apresentava como se fosse a tela de uma obra de arte. Seus olhos claros brilhavam com cada detalhe.

-Que coisa mais linda ... - Disse ela  quando viu uma folha cair ao chão.

Jack desembrulhou um pirulito em formato de coração de um pacote e levou até a boca da garota que arregalou os olhos por segundos.

- Será que você pode observar a natureza em silêncio?

Arrancando o pirulito da boca, a Nephilim fez beiço e ameaçou a chorar.

-Não precisa chorar... Eu só quero escutar os sons direito ...

-Mas eu gosto de falar ... Desse jeito parece que não gosta de mim.

- Tudo bem ... É claro que eu gosto de você. Você é minha nova amiga. - Jack sorriu. - Sobre o que você quer falar ?

A ruiva ficou em silêncio observando  atentamente o caminho que se fazia entre o jardim à sua frente e levantou-se caminhando em sua direção.

-Ei... - O garoto a chamou.

Ela permanecia caminhando. Jack sentia suas pernas tremerem, estava com medo. Sabia que não deveria sair daquele lugar, que já era demais ter saído pela porta.

- Acho que não devemos sair daqui... – Jack gaguejou e não se levantou.

- Tem um jardim maior do lado de fora... – A garota apontou com o pirulito que segurava em direção à saída.

- A última vez que um homem seguiu uma mulher em um jardim, a humanidade foi condenada à morte! – Castiel apareceu com um piscar de olhos e encarou o o garoto com um olhar firme enquanto caminhava na direção dos dois – Quem é ela? E por que você saiu?

A garota permanecia estática olhando para os dois temendo sua morte quando Castiel sacou sua adaga.
 
- Ela é um deles! – Castiel afirmou. – Quem te trouxe até aqui?

  A ruiva encarava Castiel e temia que qualquer palavra dita à condenasse. Jack respirava ofegante e confuso. Não entendia o motivo de tanto temor.

- Como assim “ Um deles”? – A garota questionou enrolando as palavras e com voz trêmula.  – Por que está apontando isso para mim?

- Não é possível que você não saiba... – Castiel puxou Jack pelo braço, na tentativa de levá-lo para dentro. O garoto relutava e parecia querer chorar. – Jack, entra!

- Não ... Não vou entrar. - Jack se soltou de seuss braços  afastando-se e caminhando para próximo da garota e quando a afastava de qualquer ataque para protegê-lo. - Se ela não entrar, eu não vou entrar.

-Santo Deus! - Castiel guardou sua adaga e virou-se para a entrada da casa. - Então você fica do lado de fora, e a hora que você entender que ela não vai entrar, estarei te esperando lá dentro.

Jack sentou-se no chão e deixou as lágrimas caírem por seu rosto. Enquanto o anjo abria a porta.

- Mas se você me deixar aqui fora... – A garota sentiu sua voz falhar. – Para onde eu vou? nem tenho família. Por favor, me deixa dormir nessa parte aqui. – Disse apontando para a pequena varanda próximo a porta.

Castiel fechou os olhos por alguns segundos, pensando se seria uma boa ideia trazer um ser tão perigoso para onde deveria ser o abrigo de Jack. O anjo não sabia ser egoísta, não sabia salvar apenas uma pessoa ou apenas um ser. Era o que o tornava diferente, o que o tornava belo. Alguns anjos questionavam e o chamavam de fraco, mas a verdade é que o amor era a força de Castiel, e foi com esse amor que o anjo ainda que relutante e com medo, sabia que precisava cuidar da garota. Sabia que a luz que ele havia visto horas antes era da Nephilim à sua frente e por isso, ainda não tinha tirado sua vida.

- Eu não vou fazer mal a ninguém. Eu só preciso de uma família... - A ruiva sentiu seus olhos marejados também e passou a mão para não permitir que as lágrimas escorressem. - Eu sei que tem coisas ruins acontecendo. Eu só preciso ficar longe disso.

- Castiel... – Jack disse manhoso. – Podemos ficar com ela?

-  Jack, - Respondeu ao  garoto que olhava encantado para a Nephilim à sua frente. – Ela não é um cachorro. Não podemos ‘ficar’ com um desconhecido na nossa casa.

  Castiel cruzou os braços e sentou no degrau que antes os dois estavam juntos,  colocando as mãos no rosto, sentia seus músculos se tensionarem à cada pergunta interna. E sentia-se pressionado com os dois pares de olhos pidões o encarando esperançosos. O anjo sabia que poderia se arrepender, mas se ele não se arriscasse, seria um risco maior ter a garota lá fora, sabendo onde Jack estava escondido.

- Certo. – Castiel afirmou relutante. – Venha garota. Entrem de uma vez.

****

Jack caminhava pela sala observando inúmeras prateleiras de livros. A sala era aconchegante e tinha o mesmo tom alaranjado de fora, as cortinas quadriculadas visívelmente estranhas para qualquer pessoa encantava os olhos do garoto pois tudo lhe era novo. Kline caminhou até a divisão que levava até uma pequena cozinha de ladrilhos bejes e brancos e sorriu quando sentiu o aroma de chocolate quente se espalhando pelo cômodo. Castiel preparava os copos para Jack e para a ruiva enquanto falava em chamada de vídeo com Dean Winchester.

- O pai do ano... – Dean gargalhou quando escutou o barulho do leite se espalhando pelo fogão.

- Droga, droga. – O moreno desligou o fogo e tentava manter-se atento ao mesmo tempo que falava ao telefone. – Eu não sei fazer isso direito.

- Por que você está fazendo dois copos? – O Winchester questionou.

- Eu te ligo depois...

Castiel desligou a chamada quando viu Jack observá-lo de canto. O anjo terminou o preparo e entregou um copo nas mãos de Kline.

- Isso é bom...  – O garoto sorriu após experimentar e puxou o outro copo. – Vou levar para a... a... – Jack tombou a cabeça e apontou para onde a garota estava, mesmo que fora do campo de visão dos dois. – Ela não deveria ter um nome?

Castiel colocou o polegar direito em seu queixo e tentou pensar em algum nome, mas Jack já havia ido até a nova amiga, mesmo sem saber como chamá-la.  A garota sorriu ao tomar um gole em seu copo e abraçou Jack de forma inesperada e inocente fazendo o garoto corresponder o gesto de forma pura e seguido de um sorriso.

- Obrigada por me fazer  ficar... – A ruiva sorriu. – Jack...

O garoto assentiu com a cabeça e sorriu. Os dois se deliciavam em  seus copos de chocolate quente enquanto assistiam desenho animado. Jack se jogou no pequeno tapete da sala enquanto a garota deitou-se no sofá por cima de almofadas e agarrada à um ursinho marrom. A pureza dos dois era nítida em cada risada sincera após uma cena cômica. Castiel aproximou-se de canto e encostou-se no batente da entrada para o pequeno corredor que levava à escada e ficou a observar os dois em silêncio. Castiel ainda não havia contado para os Winchesters sobre a nephilim, esperava poder conta-los pessoalmente e por isso, permaneceu com o segredo à respeito disso, mas ele havia decidido uma coisa:

- Cassie... – Castiel sussurrou sem que os dois pudessem ouvir. – Ela vai se chamar Cassie.

Filhos da luz | Volume um - CONCLUÍDA- Aguardando revisão Onde histórias criam vida. Descubra agora