Capítulo Um

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Querida... — falei encostando no braço da mulher, que se assustou com o meu toque.  — Desculpe — tirei a mão de perto dela no mesmo instante.

— Eu estava distraída e me assustei — justificou.

— Tudo bem — eu assenti. — Nós chegamos, mas você parece estar tão perdida em seus pensamentos que nem notou.

— Oh, certo — assentiu e tirou o cinto. — Eu estava mesmo distraída, desculpe.

Ela ditou e abriu a porta, descendo do carro.

Eu fiz o mesmo que ela, vendo-a continuar parada ao lado do carro, encarando a casa.

— Vem — a chamei, fazendo o seu olhar vir até mim. — Vamos entrar.

Eu esperei ela chegar ao meu lado para que nós pudéssemos caminhar até a porta.

Girei a chave na maçaneta e abri a porta, fazendo sinal para que ela entrasse primeiro.

A SunHee entrou e tirou os seus tênis, colocando-os no canto ao lado da porta.

— Quer que eu mostrei tudo à você? — perguntei e também tirei os meus sapatos. — Ou você prefere ir ver tudo sozinha?

Eu estava sempre receoso ao lado dela. Temendo me aproximar demais e ela ficar desconfortável. Não queria que ela se afastasse mais do que já estava.

— Pode mostrar — afirmou. — Acho que vai ser melhor.

— Então vamos começar — concluí com um ar animado, pelo menos tentei.

Mostrei à ela todo o andar de baixo da nossa casa, e só então fomos para o andar de cima.
Fui diretamente para o quarto que antes pertencia a nós dois.

— Esse é o nosso quarto — falei e ela entrou no cômodo, olhando cada canto do quarto. — Mas agora vai ser só seu.

— E você vai ficar onde? — me olhou.

— Estou arrumando o quarto de hóspedes — coloquei as mãos nos bolsos da minha calça jeans. — Não tive tempo de levar as minhas roupas para lá, mas prometo que logo tudo vai estar arrumado.

— A casa é tão grande que tem até quarto de hóspedes — ela murmurou.

— Não é uma casa muito grande — discordei. — E na verdade era um escritório. Nós costumávamos ficar revezando para usá-lo. Mas na maioria das vezes você usava para planejar as suas aulas — contei. — E por isso ainda não terminei de arrumar ainda. Precisei tirar as coisas de lá e arrumar os móveis para ser o meu quarto. Fiquei a maior parte do tempo com você, então sinto muito por praticamente nada estar pronto agora — cocei a nuca, constrangido.

Queria mesmo que tudo estivesse pronto para quando ela chegasse ali. Mas eu mal consegui receber o responsável por montar os móveis do meu quarto.

— Não tem problema — ela negou.

Ela sentou na cama e observou o quarto.

— Vou deixar você sozinha — me pronunciei pela última vez e saí do cômodo.

Fui para o quarto de hóspedes que agora era o meu próprio quarto, e sentei na cama.

Não sabia se era uma boa ideia ela continuar vivendo na mesma casa que eu.

Óbvio que eu a queria por perto, queria muito. Mas não era uma boa ideia para ela.

Quão ruim deveria ser morar em uma casa onde teria que dividir com um estranho?
Ela sabe que somos casados, mas não se lembra de absolutamente nada relacionado a mim.

Me doía tanto vê-la tão deslocada e confusa.

Ficou impressionada com detalhes pequenos da casa que ela mesma escolheu.

Ela estava sofrendo e não só por ter vários machucados espalhados pelo corpo. Mas por não conseguir recordar de nada, e ter que viver daquele jeito mesmo assim. Viver comigo.

A mãe dela chegou a conclusão de que talvez fosse bom ela continuar a vida de onde parou a mais de um mês atrás.
Para ela, se a filha continuasse convivendo comigo, talvez fosse fazer voltar todas as suas lembranças.

Eu não sabia ao certo se isso era bom.

Meu coração pesava cada vez mais vendo o quão desconfortável ela fica quando estou por perto.

Sou um estranho.

Ela tem se esforçado para não transparecer, mas vejo o seu incômodo.

Estou me esforçando. Tentando garantir que tudo vá ficar no lugar e o mais confortável possível para ela. E tentando não ficar tão presente assim.
Queria ela confortável acima de tudo.

O seu acidente sempre faz uma culpa gigante cair sobre mim.

Mas o meu agradecimento por ela estar sã e salva agora é maior, mesmo que ela não tenha parte da memória agora.

Foram duas semanas de aflição. Vendo ela respirar por tubos, e totalmente desacordada.

Duas semanas rezando para que o pior não acontecesse. E não aconteceu.
Ela está bem aqui, mas a sua memória e o seu amor por mim não.

Mas pelo menos ela estava ali. É o que importa.







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