Capítulo Quatro

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— Esse carro não é seu, certo? — eu perguntei quando descemos do veículo.

— Não — ele negou. — Eu peguei emprestado com o meu irmão.

— Posso perguntar o motivo? — falei entre um riso sem graça.

— Você já vai ver — respondeu.

Ele começou a mexer na parte de trás da Picape.

Eu me distrai encarando os girassóis que estavam um pouco mais à frente de onde nós estávamos. Só voltei à realidade quando o Namjoon me chamou.

— Sunhee — a sua voz soou doce como sempre soa quando é direcionada à mim. — Está pronto.

Ele apontou para a parte de trás do veículo.

A caçamba da Picape estava forrada com algumas cobertas, e em cima delas haviam algumas almofadas e também uma sacola grande.

— Uau — falei surpresa.

Eu pensei que nós realmente só tivéssemos ido ali para ver os girassóis. Não achei que ele iria preparar alguma coisa assim.

— Isso ficou demais — eu sorri e olhei para o rapaz, que também estava sorrindo.

— Eu queria fazer um piquenique, mas o chão provavelmente ficaria mais úmido perto do anoitecer, então eu pensei na Picape — se explicou e gesticulou para que nós nos aproximassemos do carro. — Também foi isso que nós fizemos naquele encontro.

— Sério, eu estou impressionada — falei e tomei impulso para conseguir me sentar na caçamba.

— É uma coisa tão simples — ele sorriu mais ainda, também se sentando.

— Mas eu achei incrível — passei a mão pelo edredom fofinho que estava embaixo de mim. — Você ter se preocupado em fazer isso torna isso mais incrível.

Ele sorriu timidamente e desviou o olhar.

— Esse lugar é lindo — comentei olhando para o campo de girassóis.

— É — ele concordou. — Me trás tantas sensações boas pelas lembranças daqui.

Mais uma vez eu senti um incômodo por não conseguir me lembrar do que ele falava.

Era como uma tortura.

Eu tinha uma vida praticamente formada, mas não lembro de sequer um resquício do que vivi nos últimos quatros anos.

Era estranho conviver com um homem que agora para mim é um estranho, mas que é a pessoa que eu dividia uma aliança na mão esquerda até pouco mais de um mês atrás.

Me deixa triste pensar em como ele está se sentindo com tudo isso. Mesmo que eu não o conheça direito, já entendi a intensidade dos seus sentimentos por mim. Esses que eu infelizmente não retribuo mais.

Namjoon é uma pessoa incrível. São poucos dias convivendo com ele, mas já foi o suficiente para me fazer saber como ele é, e entender por que eu me apaixonei anos atrás.

Querida... — Namjoon tirou a minha atenção das flores. No mesmo instante ele fez um muxoxo e sorriu sem graça. — Desculpe. Sunhee, vamos comer?

Ele ficava visivelmente sem graça quando se ligava que se referiu à mim como querida.

Era o apelido que ele usava antes, e ficava se controlando para não usá-lo agora.

Ele tirou alguns potinhos da sacola, colocando-os no meio de nós dois.

— Eu queria ter preparado alguma coisa — ele falou. — Mas você já deve ter percebido que eu não sou muito bom na cozinha. Então eu comprei tudo pronto.

— Está ótimo — falei e ele sorriu pequeno.

Ele nos serviu do bolo de chocolate que havia comprado, e nós comemos enquanto conversávamos um pouco.

— Agora consigo entender o porquê de você achar esse lugar tão especial — comentei. — É lindo.

O sol estava se pondo, deixando a vista ainda mais bonita.

— É muito mais especial do que você imagina — ele falou sorrindo pequeno, enquanto encarava o pôr do sol.

— Por que? — eu perguntei.

— Outro dia eu te conto — me olhou, deixando o seu sorriso se tornar sem graça.

— Por que não conta agora? — questionei curiosa.

Ele balançou a cabeça negando e voltou a olhar para o lugar.

— Não me diga que foi aqui a nossa primeira vez — falei e ele soltou um riso.

— Sunhee — falou entre o riso. — Você continua direta como sempre.

— Isso é de nascença — brinquei.

— É, a nossa primeira vez foi aqui — afirmou. — Fizemos um piquenique assim, e acabou rolando.

— Assim? Com tudo aberto? — ergui as sobrancelhas em surpresa.

— É um lugar isolado, não tinha perigo de alguém ver — olhou em volta e eu fiz o mesmo, constatando que não tinha mesmo como outra pessoa ver.

— Hum — murmurei. — Ok, é mais especial do que eu imaginava mesmo.

Ele sorriu.

— Quer mais suco? — perguntou, mudando totalmente o rumo do assunto.

— Por favor — estiquei o copo para ele enchê-lo do suco de laranja.

Eu agradeci quando ele terminou de encher o copo, e fiquei em silêncio para beber o suco.

— Será que eu já posso voltar a trabalhar? — eu perguntei ao terminar de beber.

— Você quer? — ele perguntou.

— Acho que sim — eu assenti.

— Achei que você iria querer descansar um pouco. Tem certeza que está bem recuperada dos ferimentos do acidente?

— Já estão todos bons.

— Se você quer, então acho que pode — afirmou.

— Quero, mas ao mesmo tempo sinto aflição — suspirei. — E se eu não me sair bem dando aula? Foram quatro anos de experiência que eu perdi.

— Mas você já era professora antes, e era ótima — tentou me confortar. — Você vai se sair bem, eu tenho certeza.

Eu sorri pequeno.

Tão pouco tempo, e o Namjoon conseguia fazer eu me sentir bem o suficiente para conversar com ele.

Namjoon me conhecia o suficiente para saber como me confortar.
Mas eu me sentia mal por não conseguir fazer o mesmo com ele.

Ele contava coisas sobre ele, e tentava agir normalmente. Mas eu conseguia ver como ele ficava receoso de agir de cerrar formas. Tinha medo de eu não gostar. Isso era nítido.

E levaria tempo para que eu o conhecesse novamente. Levaria tempo para conseguir me soltar dentro da casa.

Mesmo não lembrando e não sabendo o que eu sentia, eu torcia para poder voltar a sentir. Queria saber como a minha vida era antes, e como era amar alguém como o Namjoon.

Eu queria poder ver o rapaz feliz.

Mas eu também não tinha muitas esperanças.

Mesmo com todo o esforço e estímulos para lembrar, nada voltava.
Tudo continuava como se nunca tivesse acontecido.


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