Capítulo Cinco

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— Me sinto estranha! — a mulher exclamou assim que abriu a porta de entrada da casa.

— Hum? — murmurei vendo-a tirar os sapatos.

— Já faz um mês que eu voltei a dar aulas e ainda sinto como se estivesse fazendo tudo errado — fez uma careta. — Quando eu vou sentir que estou sendo eu mesma?

— E você não está sendo você mesma? — questionei.

— Não! — negou se aproximando do sofá. — Sinto que falta algo. E o que falta são esses últimos quatro anos que simplesmente sumiram da minha cabeça.

— Você vai lembrar, querida... — falei, vendo a garota balançar a cabeça.

— Já faz quase dois meses. Eu já perdi as esperanças.

— Eu não — neguei. — Continuo tendo as esperanças de que logo você vai ter as suas memórias novamente.

— Pelo menos alguém tem! — ela sorriu fraco. — De resto parece que todos já até perderam a paciência com isso.

— Como assim? — perguntei confuso.

— Às vezes parece que algumas pessoas se irritam pelo simples fato de eu não recordar de coisas que aconteceram — rolou os olhos. — Não que eu ligue para as pessoas. Mas me sinto insuficiente as vezes por não lembrar.

— Você não é insuficiente, Sunhee.

— Óbvio que eu sou — se jogou no estofado. — Não ter parte da memória me torna insuficiente.

Ela suspirou e cobriu o rosto com as mãos.

Eu fiquei em silêncio, esperando que ela voltasse a falar se quisesse.
Mas em vez disso eu ouvi ela fungar.

— Sunhee... — murmurei e me aproximei dela. — Está chorando?

— Sim — murmurou.

Eu fiz um muxoxo.

Fiquei frustrado. O que eu deveria fazer?

Queria poder dizer que vai ficar tudo bem enquanto estou abraçando ela.
Mas ela estaria a vontade para tal contato?

Tudo ainda era uma incógnita.

Dois meses e nós não nos aproximamos muito. Ela ainda estava reclusa, e eu não sabia muito bem como agir.

Mesmo depois do dia em que levei ela até o nosso lugar, não ficou mais fácil de ela se soltar.

Arrisquei e a abracei mesmo assim. Se ela demonstrasse qualquer sinal de desconforto, eu me afastaria.

Ela aceitou o abraço e pareceu aliviada com isso. Precisava mesmo do abraço.

— Eu sei que não está adiantando de muita coisa, mas estou aqui — fiz carinho nos seus cabelos. — Vou continuar fazendo o meu melhor para que você lembre, ou pelo menos saiba das coisas que já aconteceram.

A mulher me abraçou mais apertado.

— É difícil — ela suspirou. — A minha mãe parece continuar não ligando para mim, mesmo depois de eu sofrer um acidente e perder a memória.

— Ela sempre ligou. Ela continua difícil como sempre, ela não mudou nada, acredite. Mas não quer dizer que ela não ligue para você.

— Ela sequer se preocupou em vir me ajudar com os curativos — se afastou e me fitou com os olhos molhados. — Mesmo sabendo que eu tinha receio com você ainda.

— Eu não posso defender a sua mãe, pois sei que ela é um pouco sem noção. Mas ela ainda é a sua mãe, e se importa com você mais do que tudo.

Ela balançou a cabeça afirmando e passou as mãos no rosto, secando as lágrimas.

— Obrigada pelo abraço — agradeceu. — É o que eu precisava.

— Sempre que precisar, é só me abraçar — ela sorriu de lado.

SunHee assentiu.

— Vou beber um pouco de água — disse ao se levantar.

Ela foi para a cozinha, mas dois minutos depois estava de volta.

— Você quer que eu vá a aquela festa da sua família? — perguntou.

A minha mãe teve a incrível ideia de insistir que a SunHee fosse junto comigo para a festa da família.

Eu nem confirmei a presença. Sabia que ela jamais se sentiria bem no meio de tantos estranhos. E eu não queria ir sem ela.

Jamais pediria a ela uma coisa dessas.

— Não — eu neguei. — Eu não vou ir.

— E por que?

— Não quero.

— Talvez fosse bom eu ir — se aproximou do sofá novamente. — Acho que vou me sentir um pouco desconfortável, mas talvez ajude. Pelo o que você me falou eu me dava muito bem com a sua família.

— Sim — afirmei. — Mas eu não quero precisar te ver desconfortável. Por que provavelmente vai ficar.

— Preciso pelo menos saber quem é quem, mesmo que não ajude para recordar. É a sua família.

A sua fala fez um pequeno ponto de esperança surgir em mim.
Se ela queria saber mais da minha família, então talvez voltasse a me ver como antes?

No mesmo instante balancei a cabeça para afastar esses pensamentos egoístas. O foco é o seu bem estar e a sua memória.

— Você quer mesmo? — ergui as sobrancelhas. — Jura?

— Eu quero — assentiu.

— Então podemos ir — afirmei.

— Acho que até pode acabar sendo divertido. E nós precisamos disso.

— Precisamos mesmo de uma descontraída.

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