— Me sinto estranha! — a mulher exclamou assim que abriu a porta de entrada da casa.
— Hum? — murmurei vendo-a tirar os sapatos.
— Já faz um mês que eu voltei a dar aulas e ainda sinto como se estivesse fazendo tudo errado — fez uma careta. — Quando eu vou sentir que estou sendo eu mesma?
— E você não está sendo você mesma? — questionei.
— Não! — negou se aproximando do sofá. — Sinto que falta algo. E o que falta são esses últimos quatro anos que simplesmente sumiram da minha cabeça.
— Você vai lembrar, querida... — falei, vendo a garota balançar a cabeça.
— Já faz quase dois meses. Eu já perdi as esperanças.
— Eu não — neguei. — Continuo tendo as esperanças de que logo você vai ter as suas memórias novamente.
— Pelo menos alguém tem! — ela sorriu fraco. — De resto parece que todos já até perderam a paciência com isso.
— Como assim? — perguntei confuso.
— Às vezes parece que algumas pessoas se irritam pelo simples fato de eu não recordar de coisas que aconteceram — rolou os olhos. — Não que eu ligue para as pessoas. Mas me sinto insuficiente as vezes por não lembrar.
— Você não é insuficiente, Sunhee.
— Óbvio que eu sou — se jogou no estofado. — Não ter parte da memória me torna insuficiente.
Ela suspirou e cobriu o rosto com as mãos.
Eu fiquei em silêncio, esperando que ela voltasse a falar se quisesse.
Mas em vez disso eu ouvi ela fungar.— Sunhee... — murmurei e me aproximei dela. — Está chorando?
— Sim — murmurou.
Eu fiz um muxoxo.
Fiquei frustrado. O que eu deveria fazer?
Queria poder dizer que vai ficar tudo bem enquanto estou abraçando ela.
Mas ela estaria a vontade para tal contato?Tudo ainda era uma incógnita.
Dois meses e nós não nos aproximamos muito. Ela ainda estava reclusa, e eu não sabia muito bem como agir.
Mesmo depois do dia em que levei ela até o nosso lugar, não ficou mais fácil de ela se soltar.
Arrisquei e a abracei mesmo assim. Se ela demonstrasse qualquer sinal de desconforto, eu me afastaria.
Ela aceitou o abraço e pareceu aliviada com isso. Precisava mesmo do abraço.
— Eu sei que não está adiantando de muita coisa, mas estou aqui — fiz carinho nos seus cabelos. — Vou continuar fazendo o meu melhor para que você lembre, ou pelo menos saiba das coisas que já aconteceram.
A mulher me abraçou mais apertado.
— É difícil — ela suspirou. — A minha mãe parece continuar não ligando para mim, mesmo depois de eu sofrer um acidente e perder a memória.
— Ela sempre ligou. Ela continua difícil como sempre, ela não mudou nada, acredite. Mas não quer dizer que ela não ligue para você.
— Ela sequer se preocupou em vir me ajudar com os curativos — se afastou e me fitou com os olhos molhados. — Mesmo sabendo que eu tinha receio com você ainda.
— Eu não posso defender a sua mãe, pois sei que ela é um pouco sem noção. Mas ela ainda é a sua mãe, e se importa com você mais do que tudo.
Ela balançou a cabeça afirmando e passou as mãos no rosto, secando as lágrimas.
— Obrigada pelo abraço — agradeceu. — É o que eu precisava.
— Sempre que precisar, é só me abraçar — ela sorriu de lado.
SunHee assentiu.
— Vou beber um pouco de água — disse ao se levantar.
Ela foi para a cozinha, mas dois minutos depois estava de volta.
— Você quer que eu vá a aquela festa da sua família? — perguntou.
A minha mãe teve a incrível ideia de insistir que a SunHee fosse junto comigo para a festa da família.
Eu nem confirmei a presença. Sabia que ela jamais se sentiria bem no meio de tantos estranhos. E eu não queria ir sem ela.
Jamais pediria a ela uma coisa dessas.
— Não — eu neguei. — Eu não vou ir.
— E por que?
— Não quero.
— Talvez fosse bom eu ir — se aproximou do sofá novamente. — Acho que vou me sentir um pouco desconfortável, mas talvez ajude. Pelo o que você me falou eu me dava muito bem com a sua família.
— Sim — afirmei. — Mas eu não quero precisar te ver desconfortável. Por que provavelmente vai ficar.
— Preciso pelo menos saber quem é quem, mesmo que não ajude para recordar. É a sua família.
A sua fala fez um pequeno ponto de esperança surgir em mim.
Se ela queria saber mais da minha família, então talvez voltasse a me ver como antes?No mesmo instante balancei a cabeça para afastar esses pensamentos egoístas. O foco é o seu bem estar e a sua memória.
— Você quer mesmo? — ergui as sobrancelhas. — Jura?
— Eu quero — assentiu.
— Então podemos ir — afirmei.
— Acho que até pode acabar sendo divertido. E nós precisamos disso.
— Precisamos mesmo de uma descontraída.
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Remember
Roman d'amourApós um acidente de carro, além de machucados espalhados pelo corpo, SunHee também sofre com a perda da memória. Existe esperanças quando ela sequer se lembra da pessoa com quem divide um anel no dedo?