" As vezes você parece o mesmo"
            
      " Do mesmo jeito antes do acidente"

The 30th– Billie Elish

Acordo com o meu pequeno felino ronorando em cima de mim. Afago seus pelos felinos incrivelmente macios, e penso a mim mesma que quero ter o mesmo cabelo que seus pelos pretos.

Levanto, ainda com resquícios de sono, indo em direção a cozinha colocar comida para meu pequeno felino, antes de preparar algo para comer. Sou seguida até a cozinha por garbit, o gato, se esfregando em minha panturrilha ao colocar sua comida. Após o pequeno ato, vou até a cozinha pegar a pequena e atrativa maçã.

Me sento no pequeno banco ao lado da geladeira e começo a comer, sendo acompanhada apenas pelos meus pensamentos. Nunca fui tão emotiva pelo meu pai, não consigo chorar pela sua morte, mas também não consigo rir de sua morte, eu apenas aceito que ele morreu. Mas ele era meu pai, então eu tenho um grande apreço por ele, mesmo que não pareça.

Após longos minutos, me levanto deixando a maçã em uma lixeira e indo ao meu quarto. Hoje, infelizmente, era segunda-feira, que quer dizer que nessa manhã repugnante haverá aula. Mesmo com o acontecimento, não deixarei de ir à faculdade, nunca faltei, por que iria faltar justo hoje? Um pensamento um pouco egoísta, eu sei, mas é que não vejo motivo para faltar. Meus próprios pais me "obrigaram" a ir para escola no dia em que minha avó morreu.

Abro meu guarda roupa e pego uma calça reta preta junto a uma camisa preta com uma cantora estampada. Ao terminar de me arrumar, pego minha mochila e meu all star Verde musgo, que estava no chão ao lado da minha cama, e vou em direção a porta de saída, trancando-a assim que passo por ela.

Aperto o botão do elevador, mas é em vão, visto que mesmo com socos no botão o elevador não se move o milímetro sequer. Aceitando minha derrota, sigo em direção a escada, morrendo cada degrau que desço.

Depois de longos minutos, chego até o térreo indo até o porteiro.

— O que aconteceu com o elevador?

— Você já é a sexta pessoa que pergunta isso hoje — Ele se vira para mim — Devia estar bastante cansada ontem a noite. Já que você e nem as outras cinco pessoas perceberam a queda de energia ontem.

Não dou uma resposta a ele, apenas assinto e vou até meu carro ligando-o e relaxando, sentido o ambiente se esfriar por conta do ar condicionado.

Abaixo minha cabeça até o volante, me encostando ali mesmo. É difícil admitir, mas ele faz falta, ele faz muito falta. Sinto vontade de chorar, minha ficha finalmente caiu, ele não vai mas mandar mensagem de manhã para mim, eu não vou ouvir conversar sobre namoro e como eu tenho que arranjar alguém, eu não vou mas ouvir suas conversas com mamãe, eu não vou ter mas meu porto seguro.

Aos poucos, deixo a tristeza me levar, não lutando mas contra as lágrimas. Me permito afundar em mágoas, choro feito uma criancinha que acabou de perder seu urso, choro até soluçar, não aguento tanta dor, não aguento essa perda.

É como se algo de mim fosse tirado à força e eu não tive nem como tentar pegar de volta. Foi tão rápido, que em um momento ele estava lá, comigo, me abraçando como se eu fosse fugir, e no outro ele já estava dormindo profundamente.

Eu não entendo a vida, eu realmente não entendo.

Forço-me a ficar bem, enxugando os olhos e verificando minha aparência, que adianto, está horrível.

Não me importo com isso, apenas sigo o meu caminho habitual como  o de costume. Começo a conectar o bluetooth ao meu celular e coloco uma música da minha cantora favorita, Billie Elish.

Everybody dies– Billie Elish

Começa a tocar na tela. Mesmo não sendo sua música mais animada, ainda sim, coloco ela. Sempre coloco uma música de acordo com o que estou sentindo ou o que mais faz sentido no momento.

Sinto meu corpo relaxar ao escutar a melodia, me acalma, me libertar.

"But it's okay to cry
And it's alright to fold
But you are not alone
You are not unknown".

Ela tem razão, está tudo bem chorar, afinal, eu não estou sozinha. Eu tenho meus amigos.

A música acaba assim que chego na faculdade. O caminho foi relativamente rápido, dando se em conta que moro 5 quadras de distância.

Pego minha mochila no banco do passageiro e me dirijo até a parte de dentro do recinto, passando pela cantina, até chegar no pátio onde meu amigos me esperavam todos os dias.

Avisto eles de longe conversando entre si, mas estranho quando vejo uma nova pessoa entre eles. Aceno para Bianca que me olhou com um sorriso no rosto.

— Oi, pessoas. — Me sento ao lado de Eugene.

— Oi Wed. Como você está?— Divina é a primeira a falar. Sua expressão é de incerteza, como se o que acabou de falar fosse um fósforo que pode acender ou não uma bomba.

— Estou levando a vida como ela quer. — Me limito a falar apenas isso, se eu falar mais, choro.

— Que bom, como está a sua mãe. — Agora que fala é Eugene.

— Tentando lidar da melhor maneira. Meu irmão está ajudando–a. — Quando tiro os olhos dele, meu olhar bate na garota de ontem, no estacionamento. — Eu conheço você, não é? Isabel, certo?

— Você não é a garota do estacionamento? Laura, isso.

— Vocês já se conhecem?— Ajax pergunta.

— Não, amor. Acho que você me confundiu com a minha irmã pequena. Bom, eu me chamo Isabel.

— Amor? Você tá namorando e nem me contou, Ajax? — Falo com uma expressão de tristeza.

— Na verdade você que é esquecida. Te contei semana passada.

— Mas o que adianta falar e não apresentar?

Antes que ele me responda, o sinal bate, indicando que temos que ir para as salas de aulas.

— Até mais pessoal, vamo gene e wed. — Bianca fala — Até bel.

Acompanho Bianca e Eugene. Conversamos sobre assuntos diversos desde de o namoro de Ajax até o funeral.

Apenas paramos quando chegamos em nossos devidos lugares. Eugene sentava junto com Bianca, enquanto eu sento sozinha. Eles falam que é para caso alguém esteja interessado em mim, senta ao meu lado. Acho isso estremamente idiota, mas não reclamo.

Assim que o professor chega na sala, todos os murmurinhos se dissipam, podendo ouvir apenas o ar condicionado ligado.

— Turma, temos uma aluna nova. — O professor é curto e rápido — Espero que sejam educados.

Assim que a nova aluna adentra a sala de aula, arqueio minha sobrancelha.

Não pode ser possível.

A mesma garota de ontem. A que julgo ser, irmã de Isabel. Enid.

Viro para Bianca, que está babando na garota, tento olhar para Eugene, mas o mesmo está olhando seu caderno de anotações.

Viro para frente e vejo ela vindo em minha direção, sentando ao meu lado. Sabia que não era bom deixar esse lugar vago.

Meus pensamentos são cortados pelo barulho de mensagens chegando. Pego ele, e pelo visor vejo que é uma mensagem de Bianca.

" Estou  com inveja"

Reviro meus olhos pelo comentário e direciono meu olhar para frente.

— Você é a garota de ontem, não é? — Viro para a garota, que agora me olhava intensamente.

— Sim. A que estava conversando com sua irmã.

Ela não me responde, apenas vira para frente e começa a prestar atenção no professor. Faço o mesmo, me virando completamente em direção do quadro.

Nesse Universo. Onde histórias criam vida. Descubra agora