.04 | e pro cronograma, um foda-se DESSE tamanho!

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— Primeiro, o design da tatuagem foi um presente que ganhei quando passei um mês com os Huichille, segundo, ela foi feita pela tatuadora da tribo com os métodos originais e terceiro, eu nunca me apropriaria de um símbolo religioso indígena.

Aquela entrevista definitivamente não estava indo para onde deveria. O corte de Killua em Morgan, a repórter responsável pela pergunta "sua nova tatuagem é um símbolo indígena; foi uma escolha autorizada?", passava longe de ser o primeiro do dia e todo o resto da banda desistira há muito tempo de suavizar as palavras dele, estando eles mesmos incomodados com o que ela vinha questionando; como diabos uma entrevista sobre a turnê e o álbum Vampire's Graveyard tinha se tornado um jogo de pinball de coisas pessoais?

— Então os povos tinham ciência disso.

— Com licença, dá pra gente falar de como todo mundo aqui tem trabalhado como louco para nossa primeira turnê mundial? — Zushi a interrompeu antes que outra pergunta fora do tópico acordado surgisse, cruzando os braços para ela. — Temos assuntos muito melhores do que as tatuagens do Killua. Elas não tem nada a ver com nosso trabalho.

A Zoldyck reprimiu uma risadinha com a cara de Morgan, dando um soquinho amigável no braço dele como se dissesse que estava orgulhosa da evolução de ratinho assustado para alguém com voz própria.

— Bom, trabalho é algo muito relacionado a nós mesmos.

— É mesmo, e sabia que nosso novo álbum tem um pouco de cada um nele? Killua compôs muitas das letras, todos nós montamos as melodias, fazemos vários ensaios musicais e fotográficos para que ele saia perfeito e até agora ninguém aqui teve a chance de mostrar isso porque você só fez perguntas sobre toda a existência de Killua. — Gon soltou, apoiando a cabeça em uma das mãos com uma cara fechada que fez todos os quatro ficarem quietos. Nem mesmo o mais tolerante da banda depois de Zushi tinha paciência sobrando para ficar ouvindo besteiras como aquelas. — Se o plano era vir aqui e dissecar toda a personalidade dele tentando decidir se ele é um homem ou não ou se tem morais pessoais ou não, coisa que eu acho que não está ao seu alcance fazer, não precisava ter se dado o trabalho de fingir que era para a banda toda estar aqui.

— Ainda estamos no tópico ao falar de Killua...

— Pelo amor de Deus, você quer um autógrafo? Me arranjem papel e caneta, por favor.

— Eu não quero um autógrafo.

— Então tem como falar dos outros também ou você recebe pra agir como tiete exclusiva? — rebateu o Zoldyck, cruzando as pernas para acompanhar a pose de seus braços. — Começando a te corrigir desde o início, eu sou um homem não importa o que eu esteja usando ou se eu não estiver usando nada, todas as minhas tatuagens foram feitas com a porra da cabeça no lugar e sim, o trabalho é muito relacionado a nós mesmos, mas não é só isso. Eu e Alluka termos composto letras que remetem nossa disparidade de gênero não significa que é isso que nos define na indústria para sempre. Parem de tentar colocar Mother Arcade em uma caixinha rotulada se nós nunca nos enfiamos nelas.

Killua levantou da cadeira após soltar um "já deu pra mim", saindo para os bastidores sob o olhar da plateia que acompanhava a gravação da entrevista e sendo seguido pelo resto da banda, todos mentalmente esgotados; eles ignoraram os protestos de Shalnark — o diretor de marketing — para não saírem assim e se enfiaram todos na van que havia os levado, fechando as portas com uma pancada forte. Nenhum dos quatro conseguia acreditar no que tinha sido aquela entrevista, digerindo ainda as camadas de transfobia e xenofobia que a maior parte das perguntas estavam encobertas.

Talvez o que pior lidava com elas no momento era o vocalista, sentado com um olhar vazio para o estacionamento do lado de fora e aura mais retraída que o comum; era como se ele fosse capaz de matar o próximo que falasse qualquer besteira.

✧ MOTHER ARCADE, killugonOnde histórias criam vida. Descubra agora