.06 | uma família com mãe e pai é privilégio para poucos

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— Morel, eu quero minha banda aqui comigo agora.

Sua banda?

Sua que não é, né?

Killua encarou seu produtor pela janela do estúdio de braços cruzados e olhos semicerrados, como se estivesse desafiando Morel a dizer qualquer coisa além de "tudo bem". Aquela era a pior sessão de gravação desde que haviam se lançado como banda e tanto a produção quanto os integrantes já não se davam mais uns com os outros calmamente pela quantidade absurda de estresse acumulado.

Houve um momento de silêncio até Morel sussurrar algo para Knov e ele sair da sala, provavelmente em direção às outras salas de gravação. O vocalista desligou seu microfone momentaneamente e focou em ler a letra outra vez, repetindo seus versos entre parênteses e sorrindo minimamente ao ver a quantidade de linhas que haviam para Gon, afinal, uma grande parte da música era em espanhol e falava de voltar para casa após longos anos por ter sido composta por ele e Zushi. Era uma pena que não houvessem linhas em português por conta da imensa timidez do baterista, que só se tornava intocável quando estava batendo nos tambores e logo depois virava tão quietinho quanto uma criança que nunca tinha aprendido decentemente a socializar.

— Tua banda aí.

Não passaram muitos segundos entre a voz de Morel no seu fone e a entrada meio convencida de Alluka, Gon e Zushi, tomando seus postos normais na sala de sempre — eles se recusavam a trocar de sala por conta do Zoldyck, que odiava mudanças — e saudando-o às suas maneiras. Como Killua ainda estava absurdamente receptivo a toques físicos, Gon deixou um beijo nas costas de sua mão antes de puxar o segundo microfone pendente e arrastar um dos amplificadores para perto, plugando Alma (a guitarra vermelha) nele.

— Todo mundo confortável? — ele espiou por cima do ombro, vendo Alluka e Zushi procurarem o ritmo da música juntos e chegarem em um consenso. Ambos tinham apenas um neurônio em guarda compartilhada quando estavam em dupla e deram um joinha sincronizado, rindo disso até Killua mandar que mantessem o foco com um sorrisinho. — Ok. ¡Empecemos!

— [ 🎸 ] —

De alguma forma, Zushi tinha conseguido uma contusão no pé. Por intervenção divina, não era o que precisava para tocar bateria, porém agora ele era carregado nas costas de Gon para seu apartamento após uma rápida consulta no posto de saúde enquanto os Zoldycks iam atrás de remédios.

— Garoto, você não podia ter ferrado esse pé mês passado, não? — brincou Gon, ouvindo um muxoxo de desculpas dele. — Não se preocupa. Seu pé vai ficar bom antes mesmo da turnê chegar.

— Minha mãe sempre disse que eu era destrambelhado, mas eu não achava que era tanto assim. Já não bastava sempre perder a hora, agora coloco todos vocês nessa situação.

— Zu, tá tudo bem. — o moreno o auxiliou a sentar no sofá, ficando ao seu lado por ver o quão cabisbaixo Zushi estava. — Você se atrasa mesmo, mas a gente já tá acostumado e geralmente marca as coisas um pouco mais cedo do que realmente deveria ser...

Ele abraçou uma das almofadas, evitando o olhar de Gon e balançando seu pé bom enquanto apoiava o outro numa poltrona. Após muitos segundos de silêncio, Zushi fungou e sussurrou:

— Cacete, que saudades de casa.

— Oh, Zuzi, calma. — Freecss o abraçou lateralmente, apoiando a cabeça dele em seu ombro carinhosamente. Sua natureza era extremamente protetora, ainda mais em se tratando do caçula da banda, que era o único que ainda não tinha feito uma visita para seu país desde que se mudara. — A gente vai tocar lá e você sabe que o Kil, apesar de parecer um insensível, mal amado e sem coração, brigou pra termos uns dias a mais na sua cidade pra você poder passar bastante tempo com sua família. Sei que é pouco pra quantidade de saudade, mas é o que a gente conseguiu fazer por você no momento.

✧ MOTHER ARCADE, killugonOnde histórias criam vida. Descubra agora