✧ MOTHER ARCADE, killugon

.01 | uma baixista pra todos e um guitarrista de um só

O som do baixo reverberou pelo cômodo em algum solo diferente do comum, atraindo olhares curiosos para Alluka e o instrumento roxo em suas mãos. Não que ela estivesse reparando neles: o foco atualmente era apenas acertar sua passagem complicada em Girly Desire to Softly Die, lançamento futuro da banda.

Errando outra vez uma nota importante, ela bateu a testa no braço do baixo algumas vezes antes de encarar seus amigos sentados na mesa da sala de música e estreitar os olhos para Killua, que mantinha vários papéis nas mãos e a olhava de canto de olho. Totalmente contrário dele Gon apoiava os pés na mesa com a guitarra no colo metade por afinar, tendo desistido da tarefa no momento em que a baixista começara a treinar; era conhecida pelos fãs e integrantes a mágica de ver Alluka & Seu Baixo™, considerada por muitos uma arte à parte. Faltava Zushi para decidirem as músicas da turnê e os mil detalhes do novo álbum, mas o baterista era conhecido pelos seus atrasos fenomenais e ninguém mais tentava o repreender.

— Quem foi o filho da puta que fez essa cifra?

— Você foi a filha da puta.

— Porra.

Freecss abriu um sorriso com a interação entre os irmãos antes de tirar os sapatos da mesa com um tapa do albino, que lia e relia aqueles papéis com uma caneta preta nas mãos e cantarolando a letra de boy to POP!. Se fosse sincero podia dizer que se sentia no céu com um menino bonito de voz melodiosa cantando que precisava de um garoto para estourar num ritual de maioridade que ninguém conseguia explicar de onde Killua tinha tirado; o importante era que fazia sentido em seu rock meio punk e ficava bom na voz do agente de loucura de mulheres & homens. Tudo isso sendo assexual (ou, como era carinhosamente apelidado pela banda, um gostoso incomível).

— Você bem que podia parar de me bater pra sentar direito como se fosse minha mãe, né?

— Garoto, não me testa que eu arranco seus piercings da boca na mão! — respondeu Killua, caneta direcionada ameaçadoramente na direção de Gon e tom meio ríspido, meio cômico. Era brincadeira, claro, mas ninguém queria testar até onde a sempre pouca paciência dele ia e o moreno apenas levantou as mãos como se estivesse prestes a gritar que se rendia. — Se você lembrasse que eu disse que pés para cima era só em casa não teria que apanhar todo dia.

— Ay, bombón, no seas tan malo.

A pior parte dele saber exatamente o que estava fazendo era a de que era impossível refutar e Alluka parou de xingar a partitura para se limitar a o encarar boquiaberta com a cara de pau, ficando ainda mais estarrecida quando viu que seu irmão virara apenas uma poça sorridente. Ninguém conseguia tirar o nariz dele das letras e muito menos o fazer rir mesmo interrompendo, ou pelo menos ninguém que não fosse um moreno porto-riquenho guitarrista de 1.76m e muitos, muitos piercings; mas ele era o bendito moreno porto-riquenho guitarrista de 1.76m e muitos piercings e a Zoldyck tinha que admitir que também abandonaria o trabalho rapidinho se Gon falasse espanhol mais vezes. Abandonaria numa ambulância com o tiro direto no coração de todos? Sim. Até Zushi, cota hétero de Mother Arcade, sairia. (Eles apostaram quanto tempo durariam com um Gon completamente latino e Zushi foi o segundo a rodar).

Infelizmente aquela aparição acontecia apenas quando ele queria amolecer o coração de Killua — o desgraçado sabia que funcionava —, então ela voltou ao seu sofrimento musical com um simples "eu ganho muito pouco pra segurar vela" que não retratava a realidade enquanto os dois riam e voltavam cada um à sua tarefa, Killua na revisão de letras e Gon na afinação da guitarra. Eles iam brigar de novo pelos pés na mesa daqui vinte minutos e não existia mais uma alma viva no mundo que tivesse energia para explicar que um quase matar o outro não era uma solução digna de adultos, então todos se limitavam apenas a rir e esperar que eles terminassem de encenar uma novela mexicana de baixo orçamento todas as vezes.