1. The Brothel

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East End de Londres, maio de 1917.

O cheiro de cigarro impregnava as paredes de madeira daquela salinha escura, alguns até diriam que era claustrofóbica, com uma janela pequena que dava para uma rua bastante suja e com uma luminária de mesa de lâmpada amarelada, cuja luminosidade se somava aos poucos raios de luz diurna que passavam pelas frestas da persiana. Um suspiro se espalhou pela sala diminuta, tudo que havia ali era uma mesa robusta de madeira maciça, um pequeno gaveteiro, um sofazinho velho que era melhor evitar sentar pelo bem de suas costas e que tinha uma quantidade considerável de poeira, e um quadro de um artista de dotes medíocres numa parede, para esconder um cofre de metal praticamente vazio.

Abaixo da pequena sala, depois de cruzar um longo corredor e descer escadas indiscretas com seus rangidos, havia um pub não muito grande, de onde se podia ouvir o burburinho de pessoas ali no meio do dia, e vez ou outras gritos oriundos dos jogos de apostas, seja de quem ganhava alguns trocados quanto de quem perdia o dinheiro de comprar o leite dos filhos. Uma típica tarde em um dos piores bairros de Londres, de ruas sujas com pessoas estranhas, muitas de caráter duvidoso, e que era cenário de uma realidade insalubre devido à poluição do lugar com suas indústrias nocivas, e também com altas taxas de criminalidade, prostituição e tudo aquilo de ruim que o governo britâniico se esforçava em esconder dos olhos dos outros países. Era uma Londres desconhecida para boa parte dos ingleses, um lugar esquecido por Deus, mas lembrado - e muito bem lembrado - pelo Diabo.

O alfa bateu o cigarro no cinzeiro de metal e fechou o jornal, não havia encontrado nada ali que despertasse seu interesse, tudo parecia a mesma coisa nas últimas semanas; o choque britânico com a queda do regime czarista na Rússia e as batalhas sem sucesso travadas no front. O mundo estava travando a Primeira Grande Guerra desde 1914, após o assassinato de Francisco Ferdinando, arquiduque e herdeiro do Império Austro-Húngaro, por um sérvio. Quando o Império declarou guerra contra a Sérvia, as nações europeias foram levadas a cumprir o pacto selado em alianças antigas, resultando em um combate envolvendo quase toda a Europa, alguns países de outros continentes e que, até então, era a pior guerra já vista.

Ajeitou o colarinho da camisa ao jogar o jornal sobre a mesa e apanhou o copo de whisky ali em cima, tendo um pouco de dificuldade por fazer aquilo com a mão esquerda. Louis suspirou, ele mesmo foi testemunha da carnificina para a qual jovens inocentes eram levados para combater por uma coisa que nem tinham culpa, e ficou alguns meses nas trincheiras entre 1914 e 1915, mas conseguiu voltar para casa após levar um tiro na mão esquerda, que comprometeu os movimentos dos dedos anelar e médio, de modo que não conseguiam mais se curvar completamente e tinha uma cicatriz bem feia na parte interna da mão.

Era incômodo e bastante desconfortável em alguns momentos, às vezes ainda doía, mas no final das contas era grato a quem quer que tivesse lhe dado aquele maldito tiro, pois o ferimento lhe permitiu voltar para casa, para a sua vida ordinária no East End de Londres, aquele lugar pobre e sem futuro cheio de podridão, mas ainda era infinitamente melhor que os bombardeios e gemidos de dor que ouvia quando esteve nas trincheiras. Felizmente, já tinha sido declarado inapto para guerrear logo quando voltou, os alfas que tinham ido combater depois não tiveram a mesma sorte, pois levar tiros na mão tinha se tornado uma prática comum entre os combatentes, era o sacrifício que estavam dispostos a fazer para voltar para casa, e o governo descobriu. Não era mais motivo para mandar um jovem de volta, precisaria de mais do que uma mão machucada para retornar de vez.

Suspirou e apanhou o caderno que um dos seus homens tinha lhe dado naquela manhã, com o valor arrecadado de todos os estabelecimentos que funcionavam em sua área e Louis colocou o cigarro na boca ao analisar o que estava escrito ali. Era importante dizer que Louis Tomlinson não era o tipo de homem considerado ideal, muito menos do tipo que seria apresentado aos pais de alguém, até porque ele era um dos líderes do submundo de East End. Não chegava nem perto de ser o gângster mais poderoso de Londres, ainda faltava muito para chegar naquela esfera de poder, mas tinha grande influência nas ruas da região, mandava e desmandava ali e vez ou outra um rival queria lhe encher o saco. Não era rico, embora lucrasse quantias consideráveis com os jogos de apostas que manipulava, era somente um bandido mediano com grandes ambições. Logo, ele teria dinheiro para os seus planos pessoais, mas não por enquanto.

Daydreaming | Larry Stylinson • aboOnde histórias criam vida. Descubra agora