005 - Leitora

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ʕ⁠·⁠ᴥ⁠·⁠ʔ

Por mais que eu tente, não consigo tirar aquela cena da minha mente. Eu simplesmente vejo a Susie em todo lugar. Aquela imagem se grudou na minha mente de tal forma que eu imagino a que ponto as outras crianças sabem se estão seguras, e se os pais delas contaram sobre aquilo.

E de que modo eles contaram.

Depois do incidente da biblioteca, eu fui direto para casa. E é claro que minha mãe não ficou nada feliz com aquilo.

Esconder meus hematomas está ficando cada vez mais difícil.

Em meu quarto, na janela estava Evan, com um caderno nas mãos escrito em uma letra infantil e bagunçada:

"Você está bem?"

Eu sorri ao terminar de ler, pegando uma folha e respondendo sua pergunta com uma grande mentira:

"Estou ótima!"

Naquele dia, eu não conseguia dirigir com o meu estado, e o Afton me levou pra casa no próprio carro.

Foi uma viagem longa, silenciosa, apenas nos falamos quando ele estacionou na própria garagem com um simples "até amanhã" enquanto procurava um lenço no carro, mas desistiu de me entregar ao ver o quão sujo e velho aquilo estava. Ainda assim foi fofo.

Puta merda, não!

Eu estou tentando parar de pensar sobre isso, mas o momento da biblioteca foi o único em que eu consegui parar de pensar sobre a Susie, o que é péssimo porque de forma alguma eu quero pensar sobre o Afton.

Contar isso para Bree e Peter no dia seguinte foi exatamente como eu pensei que seria. Bree disse algo sobre ele estar querendo alguma coisa, mas Peter foi mais direto.

─ Você teve coragem de entrar no carro dele? Tipo, sério. Que nojo.

─ É meio sujo, sim.

─ Meio? Sabe quantas garotas já ficaram nuas ali?

─ Qual é, Pete? ─ Bree interrompeu. ─ Não é como se ele fosse gostoso.

─ Mas ele tem seu sucesso. ─ ele se vira para mim. ─  Quer uma dica? Fica longe dele. Na moral.

─ Esse é meu plano.

Ele sorriu, dando batidinhas em meu ombro de forma amigável ─ o que já é um avanço considerando que ele é mais que péssimo em demonstrar carinho.

─ Isso foi uma demonstração de afeto? Eu também quero! ─ Bree pediu, com um sorriso fofo.

Meio sem jeito, ele deu uns tapinhas em sua cabeça, saindo andando logo depois disso. Após se afastar um pouco, ele olhou pra trás e nos encarou, depois disse:

─ Por que estão paradas? A gente tem aula!

Imediatamente, começamos a ir atrás dele.

Como sempre, prestei total atenção nas aulas daquele dia. Eu e Peter fomos chamados para a lousa na aula de matemática, e ambos acertamos os exercícios. Durante o intervalo, Bree estava com o namorado e eu fui arrumar meu armário ─ que estava um lixo ─ quando, no corredor, vi uma garota falando com Peter, mas ela saiu extremamente triste.

Com um pé atrás, eu me aproximei dele, colocando a mão em seu ombro. Ele me olhou, e vi seus olhos marejados.

─ Pete... O que aconteceu?

─ O que tem de errado comigo? ─ perguntou.

─ O que?

─ Todo mundo da nossa idade se apaixona, se beija, transa, e eu... Não tenho vontade de fazer nada disso... Aquela garota me chamou pra sair e eu... Eu fiz ela chorar, eu só recusei e... ─ eu vi culpa em seus olhos.

─ Não tem nada errado com você, só não deve ter achado a pessoa certa ainda...

─ E quando eu vou achar!? Fala sério, a gente tá no último ano! Eu devo ir pra faculdade de medicina sem encontrar ninguém que eu goste, e aí eu vou virar o que? Um médico quarentão encalhado? Eu quero isso?

Eu o abracei com força.

─ Por que não deixa o tempo agir? Você vai se dar bem.

Eu ouvi uma porta se fechando com força, mas não dei muita importância. Meu amigo precisa de apoio, e ele aceitou um abraço, o resto não é importante, não agora.

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Why Is Love So Contradicting?~ Michael Afton imagine Onde histórias criam vida. Descubra agora