004 - Michael

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Acho que jamais vou me acostumar em ver aquela garota conversando com o meu irmão.

A idiota Jhonson vem sendo uma completa insuportável desde sempre, eu acho. Ela é o tipo de garota que vai pra escola com roupas de grife nenhum pouco provocantes, e ainda assim consegue fazer todos os idiotas babarem por ela.

Todos os professores usam ela como exemplo por ser a aluna número um, e no vestiário masculino, quando os adolescentes normais falam sobre garotas gostosas e essas coisas, os adolescentes dessa escola falam sobre ela, sobre o shampoo que ela usa, sobre as notas que ela tem, e sobre como ela fica no uniforme de líder de torcida.

É uma cidade pequena, todos se conhecem desde sempre porque existe apenas um playground, uma lanchonete frequentada por adolescentes, e festas em lugares fechados em que ela sempre está presente.

Eu especialmente a conheço mais, meu pai sempre se afoga ou em vinho, ou em trabalho. E o pai dela tem os melhores vinhos do estado (surpreendentemente).

Eu sei que ela é arrogante pra caralho, eu sei que seus sorrisos são falsos, e eu sei que ela não é quem diz ser.

Mas quem acreditaria em mim?

É insuportável ouvir o nome dela vinte e quatro horas por dia, e eu sinto que ela está entrando na minha mente de tanto ver fotos dela por aí, e o nome dela na boca de todos, por algum motivo que eu sequer entendo, fiquei arrepiado quando ela me ajudou com a escada, e o pior nem foi isso.

O pior é que há alguns dias quando eu estava prestes a pegar uma garota perfeita que graças a Deus não é ela, eu chamei seu nome.

É óbvio que eu levei um fora, considerando o quão cuzão isso foi. Mas como caralhos eu pude trocar os nomes? Eu tava bêbado, mas não pode ser que o álcool tenha sido tão forte ao ponto de me fazer fantasiar com ela...

...Certo?

Quando ia pra casa no carro de um dos meus amigos, vi várias viaturas indo para a estrada a caminho da casa do delegado. Acho que alguém se fodeu.

Chegando em casa, eu obviamente levei uma punição por ter voltado tarde, mas não quero falar sobre isso. Ao cair na cama, eu apaguei completamente.

Na segunda-feira seguinte, descobriram que eu não havia feito meu trabalho, e sim a Jhonson. Ela obviamente recebeu parabéns por ser uma boa colega enquanto eu fui castigado guardando os livros da biblioteca depois da aula.

Só que eu meio que enrolei um pouquinho.

Eu fui pra biblioteca uma hora depois da aula, isso porque estava me redimindo com aquela garota perfeita. A caminho da biblioteca, eu vi o zelador com fones de ouvido ligados a um walkman enquanto fechava as salas sem prestar muita atenção no resto do mundo, eu aperto meus passos.

No interior da biblioteca vazia, eu peguei o carrinho, chegando até as estantes onde aqueles livros pertenciam, e ela estava lá.

E ela estava linda.

O uniforme vermelho e branco dos líderes de torcida... Eu odeio como isso fica bem nela.

─ Quer parar de me encarar? ─ ela me faz voltar à realidade.

─ Não tava te encarando, idiota. Eu tava só... ─ ela me espera finalizar a frase, mas não tem um fim. Não um que eu goste, então só disse a primeira coisa que me veio à mente. ─ Pensando.

─ Desde quando você pensa? ─ diz, tanto com desconfiança quanto deboche.

E eu não tenho uma resposta pra isso, como grande parte das coisas que ela me diz, então apenas mostro o dedo do meio e vou fazer meu trabalho.

Quando termino, ela ainda está ali na mesa, imóvel, apenas fazendo a própria lição. E quando eu vou até a porta, ela está trancada. Por que o zelador realmente é um retardado.

Eu tento entrar na parte fechada onde fica a bibliotecária, mas além de estar vazia, estava fechada, me separando do telefone ali.

Me aproximei de volta dela, que me olhou, esperando que eu dissesse alguma coisa ou a deixasse em paz.

─ Estamos trancados aqui.

─ O que!?

Ela se levantou, indo até a porta da biblioteca e girando a maçaneta como se a própria vida dependesse disso. Talvez dependa. E a minha também.

─ Isso não pode acontecer... Não posso chegar tarde de novo... ─ diz, aumentando a força na porta, e eu seguro sua mão.

─ Isso não vai adiantar nada. Uma hora seus pais vão perceber que você está fora há muito tempo, e vão ligar para a escola.

─ Meus pais não são do tipo que ligam para a escola.

Eu fiquei parado encarando ela. Como assim não são esses tipos de pais!? Eu nunca ouvi um mínimo grito vindo daquela casa... Eles devem ser bons pais...

...Certo?

Eu ainda estava agarrando a mão dela e impedindo que ela continuasse a torturar aquela maçaneta. Ela parecia desesperada... E apenas quando vi seu rosto dessa forma, reparei nas marcas vermelhas de seus pulsos. Não eram cortes... Aquilo não foi obra dela mesma.

─ Eu preciso voltar pra casa na hora, Afton. Eu não posso chegar tarde de novo, eu...

Por impulso, eu a abracei. Uma tentativa de amenizar essa dor, pelo menos enquanto ela se prepara para sofrer mais. Eu achei que levaria um empurrão, mas ela me abraçou forte, escondendo o rosto em mim enquanto algumas lágrimas de medo escapavam de seus olhos.

Não sei porque a abracei.

Mas apenas ficamos ali em silêncio por minutos.

Até eu ver o diretor pela porta e gritar como um maluco.

Talvez eu esteja ficando maluco.

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Why Is Love So Contradicting?~ Michael Afton imagine Onde histórias criam vida. Descubra agora