Capítulo 4

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Valentina


Eu sou pobre.

Tenho contas a pagar, contanto que não houvesse sequestro, tortura e assassinato envolvidos, estava aberta a negociações, portanto, tentei manter a mente aberta para o que ele estava prestes a me dizer, ele parecia um pouco tenso, mas se controlou e manteve a postura, tentou e conseguiu com muito sucesso passar uma sensação de calma que eu tinha quase certeza que ele não sentia, não completamente ao menos.

— Tudo bem. — Murmurei ao perceber que ele aguardava alguma reação minha.

E minha voz soou tão insegura que quis me estapear, estava nítido que me incomodei com aquilo.

Onde foi que Melina me meteu?

— Infelizmente nós temos um cachorro e foi decidido judicialmente que a guarda seria compartilhada, então eu irei precisar que o pegue para mim no meu antigo apartamento. — Ele me olhou por um tempo, deixando a informação assentar, quando não falei nada ele continuou. — Não teremos contato direto com a Andressa, quem entregará o cachorro será uma funcionária dela, e na volta nós entregamos o Léo para ela. A Andressa solicitou que pudesse entregar ele diretamente para você, para conhecê-la e coisas do tipo. Eu recusei. Não quero que tenha nenhum contato desnecessário com ela.

— Entendi. — Murmurei achando aquilo absurdamente suspeito.

Estava ansiosa para mudar de assunto e torcia para o término do relacionamento não ter sido causado por nenhuma situação violenta causada por ele ou algo parecido, Matteo havia ficado rígido enquanto me contava tudo e não queria saber mais do que o necessário.

— Deve pensar que isso é um exagero né, mas o cachorro é importante. —Ele me olhou tão profundamente que fui obrigada a sustentas e absorver a sinceridade crua da sua expressão. — Meu pai o deu para mim antes de morrer e a Andressa só insistiu em brigar por ele para me magoar.

Que megera.

— Sinto muito. — Ele assentiu devagar, minha consciência pesou por ter começado a pensar mal dele. — De que raça é? — Perguntei ansiosa para aliviar o clima, mas não entendia nada de cachorros.

— Ele é um American Bully, é tranquilo e dócil. Pelos menos era, digo "era", por que faz 40 dias que não o vejo graças a essa manobra ardilosa da Andressa, ela nem gostava dele.

— Nossa, lamento.

— Obrigado, ele é animal maravilhoso, cheio de carisma. — Vi discretamente um sorriso doce surgir nos seus lábios, os seus olhos se suavizaram e ficaram de um tom de dourado esplendoroso, dava para notar que era daquele tipo que é um pai de pet coruja.

Numa primeira impressão é difícil acreditar que um homenzarrão desse tamanho é gentil, mas ele me salvou da situação mais degradante da minha vida, que mulher deixaria um homem assim escapar? Mas eu também pensava a mesma coisa quando conheci Marcos, me lembro de me perguntar por que ele ainda estava solteiro, achava que ele era meu unicórnio cor de rosa, um mito, uma lenda entre os homens e eu não poderia estar mais enganada, então me obriguei a manter neutralidade até que pudesse julgar melhor a situação, mesmo com a estranha sensação de culpa se apoderando de mim.

— É difícil acreditar nisso tudo. — Matteo comentou em voz baixa e me assustei.

Por um instante maluco pensei que tivesse falado meus devaneios em voz alta e o encarei espantada, minhas professoras sempre disseram que eu era muito expressiva e se um paciente quisesse saber seu prognostico meu rosto seria mais informativo do que o prontuário, mas será que eu era tão transparente que ele conseguia ver tudo isso no meu rosto?

Apenas meuOnde histórias criam vida. Descubra agora