Capítulo 8

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Valentina

Fiquei observando pelo retrovisor o carro de Melina se afastar, a empolgação ensaiada de repente indo embora, ela nunca saberia que eu aceitei o quarto que Matteo me ofereceu por que não tinha condições de viver em minha própria casa, não tinha dinheiro para comprar comida, nem mesmo para pagar as contas de luz e água e que eu estava acumulando e pagando apenas o mínimo para não cortarem o fornecimento, não estava em casa há dias, mal me sobrava dinheiro para comprar absorvente, meu salário mal caiu na conta e em minutos ela ficou zerada novamente, sem nenhum tostão até o próximo mês.

Não contei a ela que pedi ajuda para minha mãe e ela se recusou a me enviar qualquer quantia, ao contrário, não somente me repreendeu e não poupou palavras ao dizer que eu não receberia um centavo sequer dela e que já que eu havia recebido minha parte da herança quando meu pai morreu, eu não tinha direito a mais nada, na verdade, ela me chamou de atrevida por ousar ligar para ela depois de ter terminado o relacionamento com um homem tão formidável quanto Marcos e que se da próxima vez que fosse ligar ela esperava receber notícias sobre a reconciliação e se não fosse sobre isso não precisava nem ligar.

Eu não contei para Marina, não contei para ninguém, nem mesmo para minha irmã, embora não tenha muito o que Anita pudesse fazer além de tentar amansar minha mãe, mas dona Consuelo era dura na queda e uma vez que as palavras haviam saído da sua boca ela jamais voltava atrás, mas ninguém precisar saber disso.

Engatei a primeira e saí do estacionamento, quinze minutos depois estava estacionando em uma das amplas vagas no estacionamento, as mais distantes da entrada da academia, quando estava saindo do carro notei um buraquinho em minha legging e suspirei, talvez não fosse má ideia começar a treinar na academia de Matteo, pelo menos eu teria uma boa desculpa para aceitar as roupas de academia com que ele me presenteou, ele não... uma das marcas que o patrocina, uma mentira obviamente, não há motivos para os patrocinadores enviarem roupas femininas já que ele não tem nenhuma mulher tão próxima dele, nenhuma além de mim, meu celular vibrou e recebi uma notificação do hotel para pets, era um vídeo de Léo brincando com outros cachorros, sorri, mesmo sabendo da viagem Andressa insistiu que ficássemos com ele nos dias designados no acordo judicial, mas entendi que ela fazia isso apenas para atrapalhar Matteo, uma jogada infantil, e era com base em estratégias assim que tinha que basear meus contragolpes.

Cumprimentei a recepcionista, ela sorriu quando coloquei minha digital no sensor e passei pela catraca, a distância vi Matteo cercado por um bando de garotas sorridentes e cheias de mãos inquietas, há algum tempo percebi que Matteo ficava desconfortável perto de mulheres atraentes, toda ás vezes que alguma tentava se aproximar dele na academia eu precisava resgatá-lo, mas o assédio delas hoje estava particularmente irritante, ajeitei o camisão de uma maneira que cobrisse o buraquinho na altura do meu quadril e me aproximei.

— Está pronto, Matteo? — Perguntei cruzando os braços.

Matteo sorriu, mas percebi a tensão em seu rosto diminuir quando as garotas abriram caminho e me olharam com desdém, ergui a sobrancelha indignada com a ousadia delas, uma postura nada condizente com meu papel de secretária, mas ultimamente era como se eu fosse um seguro contra assédio sexual, algo em minha postura deu a entender que não estava para brincadeira, talvez fosse minha silhueta avantajada, já que a maioria delas eram magras que nem um graveto e provavelmente deduziram que não seria boa ideia comprar briga comigo.

Em minha defesa eu não era apenas gordinha, possuía uma força considerável e uma expertise adquirida em brigas na escola que me passavam um ar de encrenqueira, não que eu realmente fosse, mas era bom que os outros não soubessem disso, me livrou de muitos problemas durante minha vida escolar.

Apenas meuOnde histórias criam vida. Descubra agora