Capitulo 2

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Valentina

Não conseguia sair do lugar, perdi a capacidade de falar e apenas piscava os olhos constantemente, olhando, mas não vendo, se é que isso é possível, meu corpo estava em choque, mas uma vozinha no fundo da minha mente me avisou que ele que era um homem bonito, e era a testemunha-chave do meu crime.

Olhos castanhos aguçados me observavam, ele os estreitou como se quisesse disfarçar seu divertimento, deveria ter algo próximo de 1,90m de altura, o cabelo castanho escuro estava bagunçado, como se ele tivesse acabado de passar a mão nele e de uma forma furiosa, ele era quase preto, lindo, parecia ser tão macio que por um instante me imaginei passando os dedos naquelas mechas só para ver se meus dedos deslizariam por eles, me esqueci completamente de onde estava e do que estava fazendo, ele se aproximou com uma elegância fluida demais para alguém daquele tamanho.

—Precisa ir embora. Consegue dirigir?

Porra.
Dirigir? Do que diabos ele estava falando?
Ele ergueu as sobrancelhas com uma expressão: "Ok, querida. Você já me comeu com os olhos, agora preciso que o seu cérebro volte a funcionar." Como se soubesse dos meus pensamentos ridículos, seu sorriso torto aumentou e ele passou a mão no cabelo me deixando completamente atordoada ao assistir o espetáculo.

— Moça? Preciso da sua ajuda aqui.

Conseguia ouvir o divertimento na sua voz, pisquei, lentamente fui voltando a realidade, droga, ele estava me deixando ir? Me dei conta de que ainda não havia respondido a sua pergunta, não seja imbecil Tina, homens desse tipo jamais flertariam com você.

— E-eu sou recém-habilitada. — respondi trêmula, estava quase aos prantos.

Era por isso que odiava brigar, eu ficava furiosa na primeira onda, mas depois começava a tremer e chorar feito uma desequilibrada, ele estreitou os olhos confusos e esclareci.

— Não consigo sair, a embreagem é curta, o carro é novo... — comecei a gaguejar sentindo a minha garganta inchar devido ao choro contido.

— Certo. — Respondeu ao compreender tudo que eu estava falhando vergonhosamente em explicar.

Ele passou novamente a mão no cabelo o penteando para trás, olhou ao redor em busca de algo, talvez ajuda do universo. E então me olhou determinado.

— Me dê as chaves.

— O quê?

— Irei levá-la, precisa sair daqui. Se está com medo de ficar num carro com um desconhecido chamarei um carro por aplicativo e esconderei o seu carro em outro lugar.

— Ainda estaria indo com um desconhecido. — disse ao enxugar uma lágrima gorda e teimosa que insistiu em cair, ele suspirou.

— O que vai ser então?

Eu queria muito sair dali para ir chorar em casa, estendi a chave para ele e fui para o banco do carona, observei ele afastar o banco para trás indignado com algo, inseri o meu endereço no GPS ignorando o fato de que um desconhecido estava me levando para casa, um desconhecido que teve de afastar totalmente o banco para conseguir entrar, ele era grande demais, parecia que estava dirigindo uma caixa de fósforos, coloquei o cinto em silêncio e me permitir descansar a cabeça no encosto do banco, mesmo com a possibilidade de estar ao lado de um assassino em série.
Queria dizer que fiquei todo o trajeto admirando a beleza taciturna daquele homem, mas não.

Isso seria uma mentira, chorei o caminho inteiro como uma idiota que descobriu uma traição e saiu passivamente e não como a louca que destruiu o carro do ex possivelmente gerando uma Perda Total, qual era o meu problema? Não deveria me sentir ao menos um pouco melhor e menos miserável?

Apenas meuOnde histórias criam vida. Descubra agora