Hambúrgueres e motos

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"Você aguenta!"

O ferro queimava minhas costas e mais uma cicatriz se instalava ali.

"A gente consegue, só mais um pouco"

Eu gritava com a ardência tomando o meu corpo e sabia que o Venom também estava se segurando já que um dos seus pontos fracos – e eram só dois – era o calor. E aquela porra tinha acabado de sair do fogo.

A risada de Gale entrou na minha cabeça e ecoava mais alto que a voz do Venom. Meus olhos queimavam com a vontade de chorar. Minhas mãos doíam do tanto que eu apertava a corrente para aguentar o que estava sentindo.

Gale: Se não me der quem eu quero, vou atrás daquele garoto de novo e o mato na sua frente!

Eu estava ofegante e meu peito parecia uma escola de samba do tanto que meu coração estava acelerado em resposta ao meu corpo que ardia.

Gale havia me levado para o andar de baixo da igreja e agora o corpo de Shriek estava diferente, continuava no mesmo lugar porém estava diferente... mas minha visão estava muito embaçada para que eu conseguisse prestar atenção.

Gale: Faça ele sair! – um soco atinge minha barriga e minhas pernas perdem as forças.

Ele havia me deixado do centro da igreja e com as mãos acorrentadas, ligadas no teto, então estava praticamente pendurado ali. E como minhas pernas fraquejaram, eu fiquei literalmente pendurado.

"Tom..." – a voz dele ficava cada vez mais distante enquanto meus olhos iam se fechando.

Meu cabelo foi puxado e meu rosto foi virado para cima, eu estava cara a cara com Gale.

Gale: Se lembre de que isso foi escolha sua. – seu sorriso me atingiu como uma facada. Ele saiu da igreja e me deixou naquele estado preocupante.

Eu estava morrendo devagar.

"Tom!" tentei me equilibrar mas foi falho "Levanta, porra!", sentia como se ele estivesse tentando me chacoalhar "Você precisa levantar!".

Balancei a cabeça, negando. Eu não tinha forças.

"Levanta!" Meus pés caçavam o chão e meu corpo ia parando de doer. Venom estava me ajudando como podia e eu sabia que as dores diminuindo eram trabalho dele.

Ele não tem ideia do quão feliz eu sou por ter ele comigo.

Minhas costas já não ardiam mais e o suor de cansaço tinha parado de escorrer, agora meu corpo só recebia uma brisa fria e eu não tinha ideia de onde aquela brisa estava vindo.

Um cheiro forte e ruim subia mas eu não sabia se estava vindo de mim ou de Shriek em decomposição. O fato de Gale guardar o corpo dela aqui e deixá-lo exposto bem no altar me apavorava. Ela estava literalmente apodrecendo bem diante dos nossos olhos e ele não estava fazendo nada.

Meu coração estava desacelerando junto com a respiração. Eu estava tomando meu corpo novamente.

"Boa, garoto!" Ele disse depois que eu coloquei o pé firme no chão e fiz força para ficar em pé de novo "Já podemos sair daqui?".

Tom: Não. – tinha dificuldade em falar já que a dor interna ainda me massacrava – Ele foi buscar o Bill. Se a gente sair daqui agora, Gale vai machucar ele...

"Então vamos só deixar que ele pegue o seu irmão?!"

Meu estômago revirou e minha garganta queimou.

Tom: Tira a gente daqui.

(...)

Meu corpo ainda doía um pouco enquanto Venom se movimentava na cidade até a minha casa. Estávamos indo atrás da nossa família e lutaríamos até eles estarem seguros. Não importa quanto tempo leve, vamos deixá-los seguros de novo.

Venom: A gente já ta chegando!

Tom: Eu to vendo.

Venom: Acha que ele já ta com eles?

Tom: Não sei. Ele saiu faz duas horas mas a mamãe e o Bill podem ter saído de casa pra um hotel. Acha que eles ficaram no mesmo lugar?

Venom: Quando eu tava no Bill, eles ainda estavam na casa de vocês.

Tom: Tá de sacanagem?!

Venom: Queria. Você não imagina o quanto eu queria, mas não. To falando muito sério.

Tom: Mas que caralho. A inteligência dele é seletiva, porra?!

Venom: Parece a sua.

Tom: Cê bem que podia ta me mamando agora né? Palhaço.

Venom: Alienígena.

Tom: Que?

Venom: Alienígena. Palhaço não. Alienígena.

Tom: Ata, mil perdões meu senhor.

Venom: Tá perdoado, esquenta não. – passamos por um Mc Donalds e Venom para de pular os telhados. – Faz quanto tempo que você não come, ein?

Tom: Não faço ideia. Só não morri por sua causa. Obrigado, inclusive.

Venom: De nada, amor. Vou descer pra pegar uns hambúrgueres pra você ir comendo. Será que você vai ficar com dor de viado?

Tom: Dor desviada, cara, desviada. E a gente não tem tempo pra isso, a nossa família ta em perigo.

Venom: Você não manda em mim. Vai comendo no caminho.

A gente literalmente roubou vinte hambúrgueres. Quem rouba vinte hambúrgueres????

E logo depois roubamos uma moto.

Venom foi pilotando – eu nem sabia que ele sabia pilotar – enquanto eu ia comendo e foi a melhor refeição que eu já fiz na vida. Assim que mordi senti o corpo doer por sentir falta de qualquer tipo de nutriente.

Venom: Come tudinho pra você ficar forte pra gente meter a porrada neles. Ficar te impedindo de morrer custou muito das minhas energias maravilhosas.

Tom: Minutos atrás você tava me implorando pra eu não morrer.

Venom: Irmão, você ta sentindo alguma dor?!

Tom: Não.

De repente minhas costas ardem como se estivessem queimadas – a vá – e meu corpo doi como se facas tivessem sido acabadas de serem passadas ali.

Venom: E agora?!

Tom: Te fode, gosmento! – senti tanta dor repentina que achei que fosse vomitar.

Então, tão do nada quanto veio, a dor foi embora. Eu suspirei de alívio e senti o corpo voltar a cor normal sem ser de papel por causa do susto da experiência de quase morte que eu acabei de passar aqui. Não recomendo. É terrível.

Venom: Tá vendo?! Eu to é te deixando vivo!

Tom: Obrigado, docinho. Quer um pedaço do hambúrguer?

Venom: Quero.

Tom: Vai ficar querendo, acelera isso ai que a gente precisa chegar logo. – sua cabeça se estendeu e apareceu em meu ombro, abrindo a boca para que eu dividisse a comida com ele então tirei um sanduíche inteiro da sacola e enfiei em sua boca. – Quase mordeu meu dedo!

Venom: Se deixar perto demais da comida eu mordo mesmo.

Chegando na rua de casa, as portas de todas as casas estavam abertas e corpos estavam jogados no chão com possas de sangue ao redor. Não sabia se tinha alguém vivo mas aquilo fez meu coração errar a batida.

Se a rua estava assim... como estava a nossa família?

VENOM • TOM KAULITZOnde histórias criam vida. Descubra agora